Casos de Covid na China subiram após o fim da política de Covid zero, imposta pelo governo desde 2020 para tentar eliminar a transmissão do vírus
O mundo começa a ficar atento e preocupado diante do cenário de uma onda de Covid-19 na China. As exatas proporções do surto entre os cerca de 1,4 bilhão de chineses são desconhecidas, mas a explosão de casos já causa superlotação em hospitais e mortes.
A quantidade de infectados aumentou após o fim da política Covid zero, conjunto de restrições imposto pelo governo chinês desde 2020 para tentar eliminar a transmissão do vírus entre a numerosa população do país.
O que explica a explosão de casos? Segundo infectologistas ouvidos pelo g1:
Quais os principais efeitos que a explosão da Covid pode causar no mundo?
De acordo com a agência de notícias RFI, quase um terço da população de Pequim está com suspeita de ter o coronavírus - isso significa que 22 milhões de pessoas podem estar infectadas. Além disso, há relatos de lotação em hospitais e sobrecarga em necrotérios e crematórios.
"Estamos acompanhando com muita, mas muita apreensão", diz o médico Alexandre Naime Barbosa, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
"O que está acontecendo na China seria muito parecido com o que aconteceu no Brasil no pico da variante gama (início de 2021). Só que, na população chinesa, não se conta aos milhões, se conta aos bilhões", afirma.
Nos dados disponíveis de forma pública pelo governo chinês, o cenário é outro - o motivo, segundo especialistas, é a falta de transparência. Na segunda-feira (19), foram confirmadas oficialmente as duas primeiras mortes por Covid desde o começo do dezembro, quando começaram as flexibilizações que estavam em vigor havia quase três anos.
De acordo com a Rede Análise Covid-19, com base no monitoramento do Our World In Data:
Cientistas projetam que a China tenha de 1 a 2 milhões de mortes por Covid por conta do fim das restrições e pela falta de atendimento à população.
A flexibilização das medidas restritivas e a baixa cobertura vacinal de dose de reforço e entre os idosos são apontadas como fatores principais para a explosão da Covid na China.
Estudos científicos já mostraram que os idosos chineses não gostam de vacinar, porque seguem a medicina tradicional chinesa, que não inclui vacina. Esse é um ponto muito importante. É outra cultura
Infelizmente, sim. "Toda variante mais perigosa acontece quando a transmissão está descontrolada. Sempre que você tem uma taxa de transmissão altíssima, o vírus encontra o ambiente ideal para se reproduzir em alta escala", coloca Barbosa.
"Existe um risco de seleção natural, de novas variantes que venham a sugerir com impacto no futuro relacionado a novas ondas", afirma também o infectologista Julio Croda.
A mesma opinião tem a infectologista e professora da Unicamp Raquel Stucchi: "A grande preocupação é o surgimento de novas variantes, que venham desafiar as vacinas ou as medicações que temos hoje para impedir formas graves da doença".
Com a alta taxa de transmissão da Covid na China e parte da sua população não vacinada, o receio dos especialistas é que possa aparecer uma "super ômicron", ou seja, uma cepa muito mais transmissível do que com a que convivemos hoje. "Isso seria algo bem possível, um cenário bem provável", diz Barbosa.
Existe a possibilidade de que o vírus que atualmente circula na China se espalhe, causando picos de transmissão em outros países. Mas, com uma população com a vacina em dia e sem novas mutações, a tendência é de que não haja aumento nas hospitalizações e mortes.
A curto prazo, o que mais preocupa - inclusive aqui no Brasil - é a possibilidade de falta de insumos médicos e farmacêuticos, usados para a fabricação de medicamentos, por exemplo - isso porque a China detém a produção global desse tipo de produto.
"É possível, devido ao caos que provavelmente está instalado no sistema de saúde chinês, que nós tenhamos um desabastecimento desses produtos básicos ou elevação de preço", ressalta Alexandre Naime Barbosa.
"Podemos ter problemas como falta de seringas, luvas, respiradores, pois a maioria desses produtos vem da China", coloca o infectologista Julio Croda.