O médico falou abertamente em seu livro sobre o que acredita que pode acontecer com os filhos
De acordo com Içami, uma educação que seja destinada apenas ao prazer, sem nenhuma consequência ou referências morais, pode causar baixa autoestima no futuro.
A educação infantojuvenil é um tema que engaja toda a sociedade e todas as famílias indiscriminadamente, isso porque é preciso que exista um movimento sempre lutando a favor da infância. Sabemos que as crianças são o futuro da nação, a força de trabalho que vai conquistar o mercado futuramente, mas não apenas isso, como ela vai chegar lá?
Há algumas décadas, pouco se falava da saúde emocional de crianças e adolescentes, acreditando que quase nada precisava ser feito para que se sentissem bem. Entre ausência de estudo científico e cuidado mental, muitos acabaram se tornando adultos inseguros, com baixa autoestima e com graves problemas de caráter e personalidade.
Não precisamos culpar e criticar apenas pais e mães, mas toda uma sociedade que opta por negligenciar e fingir que não vê os problemas das crianças e dos adolescentes. O psiquiatra e escritor Içami Tiba ocupou boa parte de sua carreira com a educação infantojuvenil, publicando inúmeros livros voltados para pais, educadores e profissionais da área da saúde que lidavam justamente com esse público.
No seu livro “Quem Ama Educa”, lançado em 2004, o autor falou de maneira clara sua opinião sobre os impactos que uma criação permissiva poderia ter nas crianças e nos adolescentes. “Os parafusos de geleia têm baixa autoestima porque foram regidos pela educação do prazer. Muitos pais acham que dar boa educação é deixar o filho fazer o que quiser, isto é, dá-lhe alegria e prazer. Não é isso que se cria a autoestima”, disse o profissional.
De acordo com ele, é preciso ter “pulso firme”, cuidando para que os filhos tenham a chance de delinear uma personalidade mais forte. Caso contrário, não aprendem sobre frustrações e nem vão tolerar serem contrariados. “O parafuso de geleia é comumente encontrado nesta sequência: avós autoritários, pais permissivos, netos sem limites (parafuso de geleia)”, reforçou.
“Quando foram pais, os avós mostraram-se muito autoritários, tendo sido mais ‘adestradores’ de crianças que educadores. Bastava o pai olhar, o filho tinha que obedecer; do contrário, os pais abusam da paciência curta, de voz grossa e da mão pesada. Não tinham conhecimento da adolescência. Adolescente com vontade própria era sinônimo de desobediência. Não reconheciam a possibilidade de o filho pensar diferente: ‘eu sei o que é bom para o meu filho e ele tem que aceitar’; ‘Filho não tem vontade, não tem de querer.’ Eram onipotentes e abusam da lei animal do mais forte. Eram os machos alfas.”
É preciso salientar que o educador aponta um cenário específico, em 2004 especificamente, sem fazer necessariamente um recorte de gênero, raça, classe ou mesmo geográfico. Nessa lógica, Içami reforça que, quando adultos que passaram por uma infância recheada de autoritarismo se tornam pais, acabam tentando negar tudo aquilo que receberam, se comportando de maneira radicalmente contrária, sendo permissivos.
A permissividade é a outra face do autoritarismo, regada a ocasionais crises autoritárias. Não consiste num novo caminho educativo. O pai permissivo deixa, deixa…até um ponto que não aguenta mais e dá um grito: ‘Agora, chega!’ De repente manifesta um comportamento que não condiz em nada com a permissividade. E aí está a perda de referência educativa.”
O profissional ainda enfatiza que a “geração parafuso de geleia” desconhece a palavra “não”, desconhecendo também um estado de poder ou competência. Sendo criados na base do prazer, eles acabam desconhecendo a força da autoestima, mas infelizmente precisam lidar com a constante insatisfação de que não vão ser os pequenos de seus pais para sempre. O autor não faz distinção de gênero, atribuindo a mesma exigência igualmente entre pais e mães.