O fungo Chondrostereum purpureum, que pode ser fatal em plantas, estava enraizado na garganta de um micologista de 61 anos
Pela primeira vez na história, foi documentado o caso de uma infecção em humanos causada pelo fungo vegetal Chondrostereum purpureum. O patógeno é responsável por desencadear a doença das folhas prateadas em plantas da família das rosas, e pode ser fatal para os vegetais se não for tratada rapidamente.
O estudo, publicado em 15 de março no periódico Medical Mycology Case Reports, relata o caso de um micologista indiano de 61 anos que contraiu o fungo e desenvolveu um quadro grave de doença da folha de prata na garganta — a situação é considerada rara, e fornece um exemplo de salto de patógenos entre os reinos biológicos.
“Este caso destaca o potencial de fungos de plantas para causar doenças em humanos e enfatiza a importância de técnicas moleculares para identificar espécies fúngicas”, aponta o estudo feito na Índia.
O paciente apresentou tosse, voz rouca, fadiga e dificuldade para engolir. Uma tomografia computadorizada de seu pescoço revelou uma bolsa cheia de pus ao lado de sua traqueia. Porém, os testes de laboratório não apontaram a presença de nenhuma bactéria preocupante.
Os médicos decidiram usar uma técnica especial de coloração para fungos que revelou a existência de hifas, longos filamentos semelhantes a raízes.
A infecção que afeta o micologista indiano, no entanto, não se parecia com nenhuma das mais comuns, o que levou os especialistas a procurar aconselhamento de um centro de referência e pesquisa de fungos da Organização Mundial da Saúde (OMS). Eles, então, identificaram o DNA do patógeno.
O paciente não conseguia se lembrar de ter trabalhado com a espécie em particular recentemente. Seu trabalho de campo o colocou em contato com material em decomposição e outros fungos vegetais, o que talvez explique a fonte da infecção.
Para patógenos de qualquer variedade se aninharem dentro de um hospedeiro e começarem a se replicar, eles precisam de um meio que garanta os nutrientes certos e formas de se defender. Por isso, é extremamente raro que um fungo adaptado para enfiar suas hifas através de folhas e caules tenha sucesso em fazer o mesmo dentro do corpo humano.
Doenças fúngicas não são tão raras em humanos, porém, das milhões de espécies de fungos conhecidas, apenas algumas centenas são capazes de causar danos a humanos. Micose, pé de atleta e candidíase são exemplos de patologias provocadas pelos microrganismos.
Em pessoas com sistema imunológico comprometido, pode acontecer que fungos que se alimentam de vegetação em decomposição, como espécies de Aspergillus, infectem o corpo humano.
O estudo relata que o sistema imunológico do paciente estava em pleno funcionamento, sem nenhuma indicação de drogas imunossupressoras, HIV, diabetes ou qualquer tipo de doença crônica, o que torna o caso ainda mais surpreendente.
Os pesquisadores reconhecem que a ciência se concentra mais em espécies de superbactérias e novos vírus emergentes em populações de animais, mas raramente dá atenção às doenças de plantas no meio humano.
Felizmente, neste caso, a drenagem regular da úlcera e dois meses de uso de um antifúngico comum resolveram o problema. Após dois anos de check-ups, o paciente ainda estava bem, sem sinais de recorrência da infecção.
Segundo o estudo, é improvável que se encontre uma explicação para por que uma infecção tão incomum conseguiu se enraizar na garganta de um ser humano.