Segundo a imprensa venezuelana, um alto oficial russo, 100 soldados e 35 toneladas em equipamentos chegaram com os aviões
Um avião com a bandeira russa foi visto no aeroporto internacional de Caracas. Foto: Carlos Jasso/Reuters
CARACAS - Ao menos dois aviões da Força Aérea Russa chegaram ao Aeroporto de Maiquetía, nos arredores de Caracas, com equipamentos e pessoal militar, em meio a ameaças do presidente Nicolás Maduro contra o líder opositor Juan Guaidó. Segundo diplomatas russos, a chegada do cargueiro e de um jato faz parte de acordos de cooperação militar assinados com o governo da Venezuela.
Segundo o diário El Nacional, dois aviões militares russos -um jato e um cargueiro- aterrizaram na tarde de sábado nesse terminal, transportando uma centena de militares liderados pelo general Vasili Tonkoshkurov, diretor de mobilização das Forças Armadas do país europeu. De acordo com o jornal , "35 toneladas de materiais" chegaram com a missão militar.
Contactadas pela AFP, autoridades venezuelanas preferiram não comentar o caso. Segundo o site Sputnik, de linha editorial favorável ao Kremlin, citando diplomatas russos sediados em Caracas, não há “mistério” envolvendo a viagem, que segue critérios previstos em acordos técnicos e militares assinados há anos.
Rússia e China, principais credores da dívida externa da Venezuela (estimada em US$ 150 bilhões), têm sido dois dos maiores aliados do governo de Nicolás Maduro em meio a uma crescente pressão internacional para que ele abandone o poder. A colaboração militar entre Caracas e Moscou fortaleceu desde o inicio do chavismo, com a compra de equipamentos e armamento militar.
Em dezembro passado, dois bombardeiros nucleares TU160, um avião de carga e outro de passageiros foram enviados pela Rússia para a Venezuela para participar de exercícios de defesa com a Força Armada venezuelana.
A oposição venezuelana reagiu com críticas. O deputado Williams Dávila afirmou que a presença de missões militares estrangeiras na Venezuela é ilegal por não contar com a autorização da Assembleia Nacional, controlada pela oposição. Desde 2016, no entanto, o Parlamento teve suas competências legislativas anuladas pelo chavismo.
'Complô'Ainda no sábado, a cúpula chavista acusou Guaidó de participar de um complô de magnicídio, junto com Roberto Marrero, assessor do líder opositor preso na semana passada. Segundo Maduro e o ministro da Informação Jorge Rodríguez, eles estariam usando recursos das sanções americanas para planejar matar o presidente.
Falsas denúncias de planos de magnicídio são comuns no chavismo e Guaidó rejeitou as acusações, que vieram no aniversário de dois meses do dia em que o líder opositor declarou-se presidente interino do país.
Força Analistas avaliam que, passado o período de maior pressão da oposição, o chavismo tenha ganhado fôlego ao apostar na falta de resultados da estratégia formulada pela oposição, a exemplo do que ocorreu nos protestos de rua de 2014 e 2017.
Ameaçado pelos Estados Unidos de qualquer ação contra Guaidó, o chavismo conseguiu evitar a deserção em massa de militares, como planejavam a oposição e os Estados Unidos, e manteve o controle sobre o núcleo duro do regime.
“O governo está fazendo de tudo para criar na população um sentimento de exasperação contra Guaidó para que a população perca a fé nele”, disse o especialista em Venezuela do Washington Office on Latin America Geoff Ramsey. “A ascensão de Guaidó foi muito rápida. A queda também pode ser.”
Desde que Guaidó retornou à Venezuela sem ser preso, desafiando autoridades chavistas, ele e Maduro parecem travar um jogo de espera. Enquanto Guaidó tem o apoio da comunidade internacional, Maduro segue no controle das instituições do Estado.
Analistas acreditam também que os Estados Unidos se equivocaram ao jogar todo seu peso diplomático, com sanções contra o petróleo venezuelano e a elite chavista, de uma vez a favor de Guaidó, na expectativa de que o Exército abandonaria Maduro rapidamente.
“Maduro agora sabe que os Estados Unidos apostaram todas suas fichas numa estratégia de médio prazo”, avalia Christopher Sabatina, da Universidade de Columbia. / NYT, AFP, REUTERS e EFE
Fonte: Estadão