David Lucas de Miranda, de 8 anos, caiu de uma altura de mais de 13 metros em um clube de Caldas Novas. Justiça ofereceu acordo
David Lucas de Miranda morreu ao cair de toboágua em manutenção em Caldas Novas, Goiás — Foto: Reprodução/Redes Sociais
A Justiça aceitou a denúncia contra o engenheiro civil Flávio Tomaz de Aquino Musse e o gerente do clube do Di Roma, Cristiano Vilela Reis. Os dois se tornaram réus pela morte do estudante David Lucas de Miranda, de 8 anos, que caiu de uma altura de mais de 13 metros de um toboágua em manutenção, no parque aquático de Caldas Novas, no sul de Goiás.
A reportagem entrou em contato com o Grupo DiRoma, mas não houve retorno até a última atualização desta reportagem. A defesa do gerente do parque não foi localizada.
A denúncia foi aceita no dia 11 de agosto. O documento cita a possibilidade de suspensão condicional do processo para as duas partes.
O advogado de Flávio Tomaz de Aquino Musse, Lucas Morais Souza, afirmou que o acordo de suspensão não foi aceito pela parte e que é aguardada a intimação para apresentação da defesa escrita. O advogado informou que a recusa do acordo ocorreu porque a defesa optou por demonstrar, no curso processual, "que durante os andamentos da obra não houve quebra das normas técnicas exigidas" por parte do engenheiro.
O delegado que investigou o caso, Rodrigo Pereira, disse que o gerente e o engenheiro violaram o dever objetivo de cuidado ao não escalarem funcionários para tomarem conta do local que servia de passagem para veículos na obra.
"Estava delimitado apenas por fita plástica zebrada. Se houvessem tomado esse cuidado que lhes era imposto pelas circunstâncias concretas do local, teriam evitado a morte Davi Lucas naquela situação".
A investigação apontou que o gerente do parque aquático Di Roma mandou tirar um tapume que fechava a entrada da obra de reforma do toboágua Vulcão. Com a reforma do toboágua, a pista de descida estava desmontada, e foi por onde Davi desceu e caiu no meio do caminho, em 13 de fevereiro de 2022.
O relatório policial destacou ainda que quatro pistas de descida tinham início da plataforma, mas somente uma estava fechada. "Havia vários pontos em que esses anteparos poderiam ter sido colocados para evitar a queda da criança, dentre os quais podem ser citados: o início da rampa de acesso ao vulcão, a base da escada da plataforma, a própria plataforma e a abertura dos toboáguas. Todavia, isso não foi feito", disse a polícia.
Como o menino morreu?
David Lucas de Miranda, de 8 anos, entrou no toboágua chamado "Vulcão" e, sem perceber que estava fechado para manutenção, subiu até o topo do brinquedo.
Quando entrou no tubo para escorregar, o menino caiu e bateu o corpo na estrutura de ferro do brinquedo antes de se chocar contra o chão.
Como ele caiu do toboágua?
A mãe contou que estava preparando mamadeira para o caçula e que os filhos estavam com o pai. Davi pediu para ir ao banheiro e, como conhecia o local e sabia nadar, ele permitiu. Entretanto, a criança acabou tendo acesso ao toboágua em manutenção.
O brinquedo tem quatro escorregadores, sendo que três estavam com as estruturas de plásticos desmontadas. A perícia acredita que ele entrou no tubo de cor azul e logo chegou à parte desmontada. Então caiu em queda livre no chão.
Como ele chegou ao hospital?
Segundo a médica Amabia Lacerda, que atendeu o menino, ele chegou ao Hospital Municipal de Caldas Novas em estado gravíssimo e com várias fraturas pelo corpo.
“Ele chegou em estado gravíssimo, com muitos sangramentos, muitas fraturas e a equipe de quatro médicos já entrou imediatamente em ação para atender essa urgência e conseguiu estabilizar”, disse a médica.
Como ele foi socorrido?
Davi Lucas foi socorrido inicialmente por funcionários do clube e pelo Corpo de Bombeiros. Depois, ele foi levado ao hospital municipal para ser atendido pela equipe médica.
O menino foi intubado e passou por uma drenagem no tórax. Após estabilizar o quadro de saúde do paciente, o Samu levou a criança até o aeroporto para que ele fosse transferido para outro hospital com mais estrutura, mas ele sofreu uma parada cardíaca e voltou ao hospital, onde morre
O que a Polícia Civil investigou?
O delegado Rodrigo Pereira, que está a frente do caso, informou que o brinquedo aquático foi periciado. O objetivo era saber como o menino entrou no local, subiu e escorregou no toboágua que estava fechado para manutenção.
A perícia confirmou que o local estava isolado com uma fita zebrada, mas que a escada que dá acesso ao brinquedo não estava interditada.
O delegado informou também que o clube não usou qualquer placa de alerta ou de proibição de entrada no toboágua.
Rodrigo disse que ouviu sete funcionários do parque, entre eles o gerente-geral. Segundo o delegado, na próxima semana, o engenheiro responsável pela reforma do toboágua “Vulcão” e os pais do garoto também prestaram depoimento.
O que a perícia descobriu?
A equipe de perícia criminal analisou o local dos fatos, incluindo os acessos, a sinalização e a existência de equipamentos de segurança instalados.
A primeira análise da Polícia Técnico-Científica indica que a criança caiu em queda livre por 13,8 metros, já que parte do brinquedo estava desmontada e não seguia até a piscina. Durante a queda, ele bateu em madeiras e estruturas de metal, também de acordo com análise dos peritos.
Já a equipe de medicina legal realizou o exame cadavérico e se concentrou na análise dos vestígios detectados na própria vítima, como lesões, ferimentos e demais evidências que sirvam para a determinação da causa da morte e de todas as suas circunstâncias.
O que os pais disseram em depoimento?
Jaqueline Rosa, mãe do Davi Miranda, prestou depoimento à Polícia Civil em 4 de março de 2022. Por vídeoconferência, ela contou como tudo aconteceu, desde o momento em que a família chegou ao hotel até o acidente com o filho.
"O que a gente mais almeja é que haja justiça. Que nenhuma outra mãe passe o que estou passando e traga seu filho para casa em um caixão, como eu trouxe. A única coisa que meu filho queria era brincar", lamentou Jaqueline Rosa.