Primeiro semestre registrou uma queda de 48% nos investimentos no Brasil em comparação ao mesmo período de 2019
Bolsonaro e Paulo Guedes participam de cerimônia no Palácio do Planalto (Imagem: Adriano Machado/Reuters)
A queda registrada no fluxo de investimentos diretos no Brasil nos primeiros seis meses de 2020 foi maior que a média observada entre os demais países emergentes. Os dados estão sendo publicados nesta quarta-feira pela Conferência da ONU para Desenvolvimento e Comércio. Para a agência, dois fatores pesaram no caso do Brasil: a interrupção do programa de privatizações e a escala que a pandemia atingiu no país.
No total, o primeiro semestre registrou uma queda de 48% nos investimentos no Brasil em comparação ao mesmo período de 2019, atraindo um total de US$ 18 bilhões entre janeiro e junho.
Com isso, o Brasil foi sexto destino de investimentos no mundo, igualando-se ao México e superado por Cingapura, Irlanda, Alemanha, EUA e China. Em 2019, o Brasil aparecia na quarta posição entre os maiores destinos de investimentos.
Em 2020, outras economias sofreram mais que o Brasil. Entre os países ricos, a Itália teve uma queda de 74% nos investimentos. Nos EUA, a contração de 61%, para um total de US$ 51 bilhões.
No mundo, os investimentos tiveram uma queda de 49%, diante do impacto do confinamento nas decisões de multinacionais de adiar qualquer tipo de projeto. Para o ano, a previsão é de uma queda no fluxo mundial de investimentos que poderia variar entre 30% e 40%. Os anúncios de novos projetos de investimento caíram em 37%, enquanto as fusões e aquisições caíram em 15%.
Na América do Norte, a redução foi de 56%, para $68 bilhões de dólares. Na Europa, pela primeira vez, houve um fluxo negativo de investimentos, com uma saída maior de capital que entrada de recursos. US$ 86 bilhões foram retirados da Holanda, contra US$ 30 bilhões do Reino Unido ou US$ 98 bilhões da Suíça. Na grande parte dos casos, porém, isso se trata de uma repatriação de recursos de multinacionais.
Mas o resultado brasileiro é pior que a média das economias emergentes e mais negativo que a média da América Latina.
Entre os Brics, a Rússia ainda supera o Brasil na dimensão do tombo. A contração em Moscou foi inédita, passando de um fluxo positivo de US$ 16 bilhões em 2019 para uma fuga de capital de US$ 1,2 bilhão em 2020.
Mas, de uma forma geral, esse bloco de países emergentes sofreu um abalo menor no fluxo de capitais, com queda de 16%. Na África, a redução foi de 28%, contra 25% na América Latina e uma contração de apenas 12% na Ásia.
No total, a região latino-americana recebeu US$ 62 bilhões no primeiro semestre do ano. “Enquanto o primeiro trimestre foi relativamente não afetado pela crise econômica induzida pela Covid, os fluxos caíram no segundo trimestre levando a declínios na maioria das principais economias, com exceção do México e Chile”, diz o informe.
“Na América do Sul, os fluxos para o Brasil caíram quase pela metade, para 18 bilhões de dólares, com a paralisação do programa de privatização lançado no ano passado”, indicou a agência da ONU.
James Zhan, diretor do Departamento de Investimentos da entidade, explicou que outro fator que pesou foi a dimensão que a pandemia ganhou no Brasil, dificultando a atração de investimentos. O Brasil é um dos líderes em mortes pela covid-19, de acordo com os dados da OMS.
Ainda assim, ele considera que atrair US$ 18 bilhões é um resultado positivo, diante do cenário internacional. Zhan indicou que existe uma esperança que os fluxos se recuperem moderadamente no segundo semestre do ano à medida que as vendas de ativos são retomadas e um novo plano de infra-estrutura seja lançado no Brasil.
Mas alertou que, diante da segunda onda da pandemia na Europa, uma nova contração não poderia ser descartada.
Os fluxos para a Argentina, Colômbia e Peru caíram em 40%, 34% e 72%, respectivamente. “Na Argentina, a crise sanitária agravou uma situação econômica já difícil com uma dívida soberana inadimplente em maio”, indicou. “No Peru, a suspensão dos projetos de mineração levou a uma forte queda nos fluxos de investimentos para US$ 1,3 bilhão”, afirmou a ONU.
No Chile, os fluxos aumentaram em 67% para US$ 9,5 bilhões, impulsionados por investimentos no primeiro trimestre nas indústrias de transporte, manufatura e comércio. Os fluxos incluíram a aquisição de 20% da LATAM chilena pela Delta Airlines por US$ 1,9 bilhão, concluída no final de 2019.
Os fluxos para a América Central foram estáveis em US$ 23 bilhões. Os investimentos para o México aumentaram em 5%, para US$ 18 bilhões, com mais da metade sob a forma de lucros reinvestidos.
Pela primeira vez, as economias emergentes da Ásia foram responsáveis por receber mais da metade dos investimentos no mundo. Nas economias ricas, o tombo foi bem maior: 75% de contração nos investimentos em média.
Mas o bom resultado dos emergentes se deu em grande parte por conta do fluxo de US$ 217 bilhões para a Ásia. “Apesar de sofrer o peso do impacto inicial da pandemia e dos efeitos dos primeiros choques na cadeia de fornecimento sobre os investimentos na cadeia de valor global, a Ásia mostra o menor declínio nos investimentos entre as regiões em desenvolvimento”, indicou a agência da ONU.
“A contenção relativamente bem-sucedida da pandemia na Ásia se reflete na atividade contínua de investimento na região”, disse. Os investimentos no Leste Asiático permaneceram estáveis em US$ 125 bilhões. Hong Kong, de fato, viu um aumento no fluxo de 22%.
Os fluxos para a China também se mostraram relativamente resistentes. No primeiro semestre de 2020, os investimentos para a China chegaram a 76 bilhões de dólares, um declínio de apenas 4%.
“O declínio – inferior ao esperado – foi amortecido por um aumento de 84% no valor das transações de fusões e aquisições, principalmente nas indústrias de serviços de informação e comércio eletrônico”, indicou.
Já na Coréia, a queda foi de 34%, enquanto Cingapura viu contração de 28%, Indonésia (-24%) e e Vietnã (-16%).