Carla Danubia e Edgar Neto comemoraram sucesso do transplante, realizado em janeiro. Entre janeiro e junho, DF teve 24 procedimentos do tipo
A proximidade entre irmãos é capaz de ajudar a superar grandes desafios da vida. E esse amor fraternal salvou Carla Danubia Ribeiro da Costa Lima, 39 anos, quando precisou passar por um transplante de medula óssea, em janeiro, devido a uma mielofibrose — tipo raro de câncer que afeta as células responsáveis pela produção de sangue. O doador foi Edgar Pascoal de Lima Neto, 42, irmão da servidora pública.
Tudo começou em agosto de 2021, quando Carla recebeu o diagnóstico de câncer. Na corrida contra o tempo, ela e o irmão passaram por uma bateria de exames para descobrir se eram compatíveis. À época, o Metrópoles contou a história da espera angustiante da família pelos resultados, que demoraram mais de dois meses para sair.
Três dias após a divulgação, Carla descobriu que Edgar era 100% compatível com ela. Enquanto sonhava com uma vida nova, ela iniciou o processo pré-operatório, que inclui sessões de quimioterapia, e o irmão da servidora pública começou a tomar os medicamentos necessários para a produção de mais células-tronco, o tipo mais importante para o transplante de medula óssea.
“Quando recebemos o resultado e vimos que Edgar era 100% compatível, o sentimento foi de alívio. Ele falava que seria meu doador desde o início; então, tivemos certeza de que eu teria chances (de sobreviver). Rapidamente, o médico começou o pré-operatório e agendou o transplante”, relata Carla.
O que ela não esperava era ver o irmão passar por um princípio de infarto dois dias antes da cirurgia. Os medicamentos eram fortes, e ele precisou ser levado às pressas para o hospital. “Eu teria de ficar internado, mas assinei um termo de responsabilidade e fui embora. Tive muito medo de não poder ajudar minha irmã. Fui para casa, corri risco, mas fiquei bem. Depois, estava pronto para a cirurgia. É uma vitória nossa”, recorda Edgar.
Carla contou ao Metrópoles que, quando estava na sala de cirurgia, o irmão mandou uma mensagem e disse: “Minha parte foi feita. Agora, é com você”. Emocionado, Edgar pediu que a irmã fosse forte e prometeu encontrá-la assim que o procedimento cirúrgico acabasse.
“Foi muita emoção. Nós dois choramos muito. No fim, tudo deu certo. Edgar produziu quatro vezes mais células-tronco do que eu precisava. Era uma vitória atrás da outra. Ele foi minha base quando eu precisei. Nós todos vencemos”, comemora Carla.
Agora, a servidora pública comemora uma nova data de aniversário: 26 de janeiro, quando recebeu o transplante de medula-óssea do irmão. Carla é mãe de um menino de 7 anos e sonhava com a recuperação total para vê-lo crescer. Para 2023, pretende voltar a trabalhar e a estudar.
O caso de Carla Danubia é um em milhares registrados no Distrito Federal, segundo o portal InfoSaúde. Os dados da Secretaria de Saúde (SES-DF) mostram que, de janeiro a junho deste ano, ocorreram 375 transplantes na capital do país. De medula óssea, são 23 procedimentos com doação de familiar e um com doador sem grau de parentesco com o paciente.
No mesmo período de 2021, a pasta registrou 17 transplantes de medula óssea com doador com grau de parentesco e três sem. Em 2020, o número foi de 24 — 20 entre parentes e quatro com doadores sem relação familiar.
Daniela Salomão, coordenadora da Central Estadual de Transplantes do Distrito Federal (CET-DF), o transplante de medula óssea pode ocorrer com uso de células de um doador ou do próprio paciente — conhecido como transplante autólogo. No primeiro semestre deste ano, o DF teve 65 operações desse tipo.
“A maioria dos pacientes que precisam de transplante de medula óssea estão na modalidade autóloga: eles doam para si mesmos. Então, não temos uma lista de espera no DF, porque a cirurgia pode ser marcada para imediatamente depois que eles fizerem todos os exames. Uma parcela pequena tem como doador um familiar”, afirma a especialista.
Atualmente, com o avanço da medicina, o paciente não precisa de um familiar 100% compatível. É possível que o transplante ocorra entre familiares com 50% de compatibilidade, o que ajuda a diminuir o tamanho da fila de espera. Hoje, segundo dados do InfoSaúde, não há pacientes no aguardo por cirurgia de medula óssea no DF.
Existem dois tipos de doadores de órgãos. O primeiro são colaboradores vivos, que podem doar um dos rins, parte do fígado, medula óssea ou parte do pulmão, desde que concorde com o procedimento e que não haja prejuízo para a saúde. Pela lei, cônjuges e parentes até quarto grau podem ajudar. Nos demais casos, é necessário ter autorização judicial.
Para doadores falecidos, a família deve autorizar a ação após a morte. “Geralmente, são pessoas vítimas de traumatismo craniano, acidente ou mesmo do acidente vascular cerebral que evoluiu para morte encefálica. Então, há um diagnóstico bem criterioso, de exames clínicos, de imagem e feitos por especialistas que confirmam a morte da pessoa. Depois, a família é consultada, e é oferecida a possibilidade de doar”, explica a coordenadora da CET-DF.
A profissional lembra que os interessados em doar devem conversar com os parentes sobre o desejo de contribuir. “Com a família autorizando essa doação, no caso de familiares até segundo grau, (o doador) tem de assinar um termo de autorização na presença de duas testemunhas. Por isso, as campanhas sempre incentivam que os doadores conversem com os parentes, para manifestar esse desejo em vida”, enfatiza Daniela.