Após mais de dois anos de investigações, a Polícia Civil prendeu quatro pessoas – três da mesma família – suspeitas de integrarem uma organização criminosa especializada em desvio de cargas e lavagem de dinheiro. As prisões aconteceram no domingo (24), em Pirapora, Minas Gerais. Entre os detidos está José Leonardo Ferreira Borges, apontado como líder, foragido desde julho. Também foram detidos a filha dele, Isa Lara Godói Borges Rosa, o genro, André Dias Lemes Rosa, e Victor Hugo Santos de Moura, acusado de atuar como laranja do grupo. Desde o início da Operação Depositário Infiel, 15 pessoas já foram presas.
Conforme a apuração, o grupo aliciava motoristas de cargas a desviar os produtos e os convencia a registrar boletins de ocorrência falsos de roubo. Assim, o seguro da carga era acionado e recebido pelos suspeitos de forma indevida. José Leonardo, apontado como chefe, já trabalhou como vistoriador de sinistros (função que avalia cargas e bens danificados para seguradoras) e usava essa experiência para fraudar processos e conseguir seguros de forma ilegal.
Além disso, a família comprava a carga desviada por cerca de 60% do valor da nota fiscal. Depois, guardavam os itens em galpões próprios ou de comparsas e revendiam a preço de mercado. O lucro era “lavado” por meio de transferências distribuídas para contas de familiares e funcionários ligados à organização, além de investimentos em imóveis e construção civil.
Segundo a PC, os suspeitos também desviavam cargas que já tinham sido apreendidas pela Justiça e vendia produtos ilegais, como defensivos agrícolas com documentos falsos. As investigações, que já duram quase três anos, mostram que a quadrilha atuava em vários crimes: desvio e receptação de cargas, falsificação de documentos, lavagem de dinheiro e até tráfico de drogas.
Durante as buscas, os policiais abordaram motoristas envolvidos no esquema transportando cerca de 220 kg de cocaína, avaliados em R$ 40 milhões, além de duas toneladas de maconha. Eles atuavam em Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Trindade, Palmeiras de Goiás e Gouvelândia.
Em outras fases da Operação Depositário Infiel, mais de 80 veículos foram apreendidos e R$ 65 milhões de bens bloqueados.
A defesa de Victor Hugo Santos de Moura, realizada pela advogada Isabelle Rachid, afirma que ele nega qualquer participação em organização criminosa e rejeita a acusação de ter atuado como “laranja”. Em nota, a defesa alega que, “até o momento, não foram apresentadas provas que o vinculem de forma inequívoca às atividades ilícitas investigadas”.
A divulgação da imagem e identificação de José Leonardo Ferreira Borges, Isa Lara Godói Borges Rosa, André Dias Lemes Rosa e Victor Hugo Santos de Moura, foi autorizada pela Polícia Civil de Goiás nos termos da Lei nº 13.869/2019, da Portaria nº 547/2021 – PCGO, com base na possibilidade de que novas vítimas sejam identificadas.