Em entrevista ao Metrópoles, ex-governador Marconi Perillo (PSDB-GO) coloca-se à disposição para candidatura: "Vai depender das pesquisas"
A presença do ex-governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), nas reuniões e articulações do partido para a disputa eleitoral de 2022, no estado, tem chamado a atenção. Disposto a se candidatar e, inclusive, enfrentar Ronaldo Caiado (DEM) nas urnas, caso “seja essa a vontade da sigla e do eleitorado goiano”, ele já endurece o discurso contra o atual governo.
“Caiado age como um jagunço, que atira por trás. Eu gostaria muito de ser convidado para um debate olho no olho com ele. Eu estou disposto a comparar com ele e discutir, refutar todas as mentiras dele e contar as verdades sobre o governo dele. Tenho certeza que em um debate, entre eu e ele, a máscara vai cair”, diz Marconi, referindo-se às acusações feitas por Caiado ao período em que ele esteve no comando do estado.
Perillo foi eleito governador de Goiás quatro vezes, além de ter sido deputado estadual, federal e senador. Em 2018, ao tentar passar a cadeira para seu vice, José Eliton Júnior (PSDB), e vencer a disputa para uma vaga no Senado, Marconi falhou. Eliton terminou em terceiro, atrás de Caiado e Daniel Vilela (MDB), e Perillo acabou em quinto. Caiado foi eleito no 1° turno.
Após a derrota histórica, o tucano passou os últimos anos vivendo em São Paulo. Ele trabalha como consultor da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Depois de observar à distância, pela primeira vez em décadas, o que acontece na política goiana, ele volta a circular no estado, colocando-se à disposição do partido.
Em entrevista ao Metrópoles, no seu escritório em Goiânia, Marconi disse que não descarta nenhuma possibilidade, nem mesmo a chance de não se candidatar a nada. “Mas eu diria que, em sendo candidato, a probabilidade bem maior é que eu seja candidato a uma vaga nas eleições majoritárias (ao governo)”, destacou.
A concretização dessa candidatura vai depender, segundo ele, de alguns fatores: da construção e articulação do partido daqui para frente, do desejo das lideranças, que terão até maio para sinalizarem a direção do PSDB em Goiás e, claro, das pesquisas. “Ninguém pode ser candidato de si próprio. Uma candidatura tem que estar estruturada em cima do interesse popular”, pondera Perillo.
A posição do partido até o momento, confirma Marconi, é de ter uma candidatura própria em Goiás. A intenção seria seguir o que é posto como estratégia em âmbito nacional, tendo nomes do partido concorrendo aos cargos majoritários. O PSDB já escolheu o governador de São Paulo, João Doria, como pré-candidato à presidência da República.
Se confirmada a candidatura de Perillo, será a primeira vez que ele e Caiado, que já foram aliados no passado e estiveram no mesmo palanque por várias vezes, se enfrentarão diretamente. A relação dos dois ficou estremecida, após discordâncias, ataques e acusações feitas por um e outro, principalmente nos últimos anos.
Caiado esteve ao lado de Marconi na primeira vitória do tucano ao governo de Goiás, em 1998. “Eu diria que ele sempre me apoiou por oportunismo. Para ele, era importante ter um candidato a governador para viabilizar o projeto dele de eleição para deputado federal”, avalia Perillo.
O apoio de Caiado nunca teria ocorrido de maneira incisiva, na visão de Marconi. Ele sempre se deu, segundo ele, conforme a conveniência do momento. “Em 2002, ele já havia rompido comigo na eleição de 2000 para a prefeitura de Goiânia. Mas, por uma conveniência política, ele se juntou ao nosso projeto, mesmo sem me apoiar explicitamente”, relata o ex-governador.
Em 2010, teria ocorrido da mesma forma. Caiado chegou a indicar o vice da chapa de Marconi (José Eliton), no acordo fechado entre DEM e PSDB, mas não teria participado da campanha. “Essa é uma forma que ele tem de usufruir das benesses do poder sem participar ativamente”, descreve Perillo.
Quatro anos depois, em 2014, Caiado só não teria subido ao palanque de Marconi, na campanha para reeleição, porque Perillo havia feito acordo com outro político. “E porque eu achava, também, que não era adequado eu estar no mesmo palanque com uma pessoa de extrema direita, com os métodos e práticas dele”, conta o ex-governador.
Marconi se define como um político de centro-esquerda. “Sempre me enquadrei como um líder, político, governante e legislador de centro-esquerda, e meus governos revelaram isso”, afirma. “Era preocupado com o desenvolvimento, com a industrialização, com a questão econômica, mas preocupado, também, com o povo e com políticas públicas capazes de alterar a realidade dos que mais precisam”, descreve.
Esse perfil pode parecer incompatível com a composição da maioria do eleitorado goiano – pelo menos, a partir do que ficou evidente em 2018 -, mas Perillo diz não querer polemizar, até porque possui eleitores, segundo ele, em todos os espectros políticos. Em 2018, Jair Bolsonaro (PL) venceu em Goiás com 65% dos votos. Só em Goiânia, ele obteve mais de 74% da votação.
O que o ex-governador diz observar é que os aspectos que deram o tom da disputa em 2018 perderam força ou não serão tão decisivos em 2022. Um deles é o discurso em torno de uma suposta “nova política”, algo que ganhou força com Bolsonaro e com os candidatos que se elegeram na esteira do bolsonarismo.
“Todas as vezes que você fala em nova política você acaba incorrendo em equívocos. Às vezes, tem mudanças para melhor, mas geralmente, quando você cria uma onda em torno de uma falácia, demagogia e de uma proposta populista, dissociada da realidade, você acaba incorrendo em muitos erros”, diz Marconi.
Ele avalia que o discurso “falso moralista”, quando forte em determinado momento, acaba sendo desmoralizado ao longo do tempo. “Eu acho que a pauta de costumes não vai ter a força que teve em 2018. O eleitor vai querer votar em pessoas confiáveis, com experiência, que já demonstraram que são capazes de fazer, que têm amor ao próximo, ao povo, que têm empatia”, diz ele.
Circulando pelo estado em encontros regionais, Marconi tenta reorganizar o PSDB. Trabalha para reacender uma chama. Apesar da relevância do partido, não será tarefa fácil. A ampla aliança que baseou suas gestões foi seriamente rompida com a vitória de Caiado. Hoje, ao buscar novamente um lugar ao sol, Perillo é obrigado a conviver com a realidade de ver inúmeros políticos que lhe eram bem próximos apoiando ou participando diretamente do governo Caiado.