Delegado João Neves Netto diz que objetos apreendidos podem ajudar a traçar perfil do empresário, que vivia uma vida de luxo, mas usava nomes falsos e tinha passagem por estelionato
Vida de luxo, carros milionários, arma de guerra. Os bens e negócios do empresário morto a tiros pelo filho de 15 anos em um condomínio de Valinhos (SP) estão na mira da Polícia Civil (entenda o caso no vídeo acima). Enquanto a investigação do crime aponta para a possibilidade de legítima defesa do adolescente, que segundo o delegado "vivia em um ambiente de muita violência doméstica", detalhes paralelos ao assassinato que vieram à tona passaram a ser alvo de investigações.
Segundo o delegado João Neves Netto, objetos que foram apreendidos pela Polícia Civil na residência podem ajudar a traçar o perfil do empresário, que dizia atuar no mercado de comércio exterior e som automotivo, mas usava nomes falsos, já tinha passagem por estelionato e uma condenação na Justiça do Paraná por uma série de cheques sem fundos no ano 2000.
"Esse levantamento pericial vai ser útil para que consigamos esclarecer a vida profissional da vítima, e descobrir informações que a própria família desconhece", disse Netto.
A polícia vai apurar se os carros, armas e outros bens foram adquiridos legalmente ou não.
O empresário de 42 anos era conhecido pela coleção de carros milionários, entre eles uma McLaren, levada à delegacia de Valinhos, e modelos de fabricantes de luxo como Maserati, Lamborghini e BMW.
Além da frota avaliada em milhões, o empresário mantinha um arsenal de oito armas, incluindo um fuzil calibre 556, uma "arma de guerra", de uso militar. A relação conta ainda com uma carabina ponto 40, duas pistolas 9 mm, duas pistolas calibre 380 e dois revólveres, um 45 e outro de calibre 380.
"Quando estivermos no local, localizamos uma quantidade considerável de armas de fogo, todas elas foram apreendidas e serão periciadas. Retornamos ao imóvel e localizamos outra porção de munições de diversos calibres, e também apreendemos o computador e outros equipamentos eletrônicos do empresário", explicou o delegado.
O delegado que investiga o caso afirmou nesta quarta (4) que o jovem e a mãe eram vítimas constantes de violência psicológica e física do empresário, e que, diante da confirmação de um "ambiente claro de violência doméstica", ficou "claro a situação de legítima defesa".
"Pelas apurações realizadas e oitivas, verificamos que família vivia num ambiente extremamente desregrado, ambiente de muito atrito, muita violência doméstica. (...) Consideramos claro a situação de legítima defesa realizada pelo adolescente para defender tanto sua vítima como da genitora", disse Netto.
Segundo o delegado, também foi apurado que não havia registros na Polícia Civil da mãe contra o empresário, mas a mulher teria alegado que sofria ameaças para não realizar tais denúncias.
"Ela disse que jamais pode realizar qualquer registro ou denúncia por opressão do seu esposo, que ameaçava constantemente que se algo fosse feito, ele atentaria contra a vida dela", completou Netto.
O assassinato aconteceu na tarde desta terça-feira (3), dentro de um condomínio de alto padrão no bairro Joapiranga. À noite, o jovem e a mãe estiveram na delegacia e foram liberados após prestar depoimento. O garoto vai responder em liberdade e, apesar da alegação de defesa, a polícia precisará investigar outras hipóteses.
Em depoimento, o jovem disse que atirou com uma das armas da coleção do pai depois de uma briga. Segundo ele, o pai agrediu a mãe e o ameaçou com uma barra de ferro. Funcionários da residência confirmaram a versão de que o homem era violento. A Polícia Militar afirmou que adolescente pegou uma pistola que estava na casa e efetuou pelo menos três disparos.
"Um tiro pegou na região do abdômen. A pessoa ferida conseguiu correr até o carro, e o garoto foi até o veículo porque, segundo ele, lá tinha outra arma e o homem iria utilizar essa arma contra o adolescente e a mãe. Por isso, ele efetuou mais dois disparos", disse o tenente da PM Juliano Cerqueira.
O corpo do empresário ficou caído dentro do carro. O resgate foi acionado, mas o óbito foi confirmado ainda no local.
O caso foi registrado na Delegacia de Valinhos como ato infracional e homicídio em legítima defesa. O garoto e a mãe deixaram o distrito policial sem falar com ninguém e acompanhados de um advogado.