Situação foi verificada em vistoria do Conselho Regional de Medicina. Polícia Técnico-Científica (Politec) defende que sala de necropsia 'funciona normalmente'
Uma vistoria do Conselho Regional de Medicina do Amapá (CRM-AP) na sexta-feira (23) constatou que a necropsia de cadáveres vem sendo feita numa área ao ar livre na Polícia Técnico-Científica (Politec), na Zona Norte de Macapá. Em nota, o órgão de perícia defendeu que a sala destinada ao serviço "funciona normalmente".
A fiscalização identificou que a sala onde o procedimento deveria ser feito não possui exaustor de ar fresco para a mesa de autópsia, o que faz o ambiente ficar como um forte odor. A Politec também nega (veja o posicionamento completo mais abaixo).
Na área externa, só há duas mesas para a realização da necrópsia. O CRM também descobriu que, quando há mais de 2 cadáveres, a sala é utilizada sem o sistema de exaustão, fazendo com os médicos trabalhem no ambiente insalubre.
A equipe de fiscais ainda encontrou desativadas as câmaras frias - locais onde corpos deveriam ser preservados. Durante a fiscalização, havia dois cadáveres em decomposição no chão do espaço.
Um médico legista da Politec, que preferiu não se identificar, definiu como precária a situação de trabalho. Segundo ele, quando chove, os profissionais têm que enfrentar alagamento e sujeira para realização das necrópsias.
"Nós trabalhamos há muito tempo sem uma sala de necropsia adequada. Necropsias são realizadas fora do ambiente, à céu aberto, com uma pequena cobertura. Às vezes até embaixo de chuva. Chove, alaga e suja tudo. As geladeiras praticamente não funcionam. Providências já foram solicitadas, mas não fomos atendidos. [...] A situação é precária", detalhou.
Um escâner para identificação de projéteis de arma de fogo também foi achado inoperante, segundo o presidente do CRM-AP, Eduardo Monteiro.
"Esse equipamento foi doado pelo governo federal e, segundo informações, ele está há mais de 6 anos e nunca foi instalado. Está abandonado e provavelmente nem consiga mais funcionar", relatou.
Ainda de acordo com Monteiro, uma fiscalização em 2017 já havia observado precariedades na estrutura do prédio da Politec e no ambiente de trabalho dos médicos.
"Eu tive informações do departamento de fiscalização que eles tiveram em 2017 na Politec e que praticamente a situação é a mesma. Não mudou nada", disse o presidente do CRM-AP.
Outras irregularidades também foram encontradas, como infiltrações, fiação elétrica exposta, todos extintores de incêndio com data de validade vencida em 2015, falta de insumos e materiais para exames.
O CRM-AP planeja encaminhar os relatórios das vistorias feitas em 2017 e neste ano para a direção da Politec, Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Ministério Público Estadual (MP-AP), Ministério Público Federal (MPF) e à Justiça do Amapá.
"A gente busca que essas situações de não conformidade sejam reparadas para que tanto os profissionais que lá trabalham tenham uma condição melhor de trabalho, como o usuário que lá procure tenha um bom local de atendimento", finalizou Monteiro.
No momento da fiscalização, feita por volta das 15h de sexta-feira, o diretor da Politec, Salatiel Guimarães, não estava na instituição.
Em nota encaminhada neste sábado (24), o órgão falou sobre uma reforma prevista para o local, mas sem previsão para que ela ocorra. Questionado sobre os dois corpos encontrados em decomposição fora das câmaras frias, o governo não comentou.
Confira a íntegra do posicionamento da Politec:
A direção da Polícia Científica do Amapá informa que está na fase final de contratação de uma empresa que realizará reformas no prédio da instituição em Macapá.
Já existe um cronograma de serviços prioritários, como alguns setores que necessitam de um novo sistema elétrico.
Sobre o scaner, o aparelho apresentou problemas e precisa da substituição de peças. A empresa que faz a manutenção encomendou todo o material para o conserto em outro estado e aguarda a chegada.
A direção da Polícia Científica também esclarece que a Sala de Necropsia funciona normalmente e possui exaustor de ar para a eliminação de odores.
O diretor da Polícia Cientifica Salatiel Guimarães afirma que está disponível para prestar todas as informações necessárias ao Conselho Regional de Medicina.
Confira mais fotos de como o prédio da Politec foi encontrado na sexta-feira: