Jorge Santos, mais conhecido como Kadinho, é morador da Rocinha, no Rio de Janeiro e costuma servir café quentinho para os motoristas de ônibus que passam pela Auto Estrada Lagoa-Barra, todos os dias, entre 7h e 7h20 da manhã. Os cafés são uma gentileza dele, que paga do próprio bolso e faz isso todos os dias e por um motivo mais que especial.
Hoje, ele já é figura conhecida entre os motoristas, mas nem sempre foi assim. A ideia surgiu a partir de uma dificuldade, quando seu filho mudou de escola e foi para uma particular, com bolsa parcial: “Ano passado meu filho começou a estudar na Escola Mater, em São Conrado, e tinha que pagar passagem de ida e de volta. Ele sempre estudou na Rocinha e eu não precisava pagar passagem. Com a mudança de escola e também com a crise, o dinheiro apertou e eu precisei achar algum dispositivo para que ele não pagasse passagem em algumas viagens. E aí vem aquela coisa: se você quer rir tem que fazer rir. Daí surgiu a ideia de começar a oferecer café para os motoristas em troca de algumas caronas”, disse Kadinho na publicação originalmente feita para o site Fala Roça.
No começo ele teve certa dificuldade, mas depois acabou superando: “No início tinha alguns motoristas que liberavam a entrada do meu filho, outros que bebiam o café, mas diziam que se dessem carona seriam prejudicados. Foi uma coisa que foi começando de motorista para motorista”.
Para conquistar mais confiança, no final do ano passado ele ofereceu uma meia de estilo social para cada motorista, quando pediu para um conhecido que mora em São Paulo comprar 50 pares para ele: “Eu fiquei parado durante uma semana esperando todos esses motoristas que deram carona pro meu filho e quando eles passavam eu dava de presente um par de meias.”
Se Kadinho precisou de algum tempo para conquistar a confiança dos motoristas, hoje a situação é bem diferente: “Agora que começou o ano letivo tem motorista que até reclama quando meu filho não vai no ônibus dele”.
Atualmente, o filho dele pode escolher em qual ônibus pegar carona, já que o pai estabeleceu uma relação de amizade com os motoristas e faz parte dos seletos grupos de whatsapp. O dia de sorte é quando ele consegue também oferecer um pedaço de bolo.
O que mais o impressiona é perceber que as pessoas nunca esperam a gentileza dos outros, já que o normal é a desconfiança. Levando a vida com bom humor, Kadinho, morador da Rocinha, é uma verdadeira inspiração: “Eu chego com café, com alegria. Eu não conto por dia, mas são três engradados de copo por semana. Também entrego para passageiros que pedem. Se a pessoa está sorrindo, eu dou. Se ela está de cara feia, eu ofereço também pra sorrir. Se não gosta de mim, eu dou pra gostar, se gosta de mim eu dou dois cafezinhos”.
O dia de maior sucesso? O dia mundial da preguiça, também conhecido como segunda-feira, quando as pessoas estão naturalmente mais sonolentas e cansadas. O café de Kadinho já está tão conhecido, que de vez em quando até leva no ponto de ônibus, academia e até mesmo na praia: “Às vezes estou descendo a Rocinha e vejo um pai descendo com o filho no colo, quase dormindo. Eu percebo isso e ofereço o café. No começo sobrava café alguns dias e eu comecei a levar pra academia. Agora já está ficando sério, porque estou tendo que levar algumas garrafas pra lá também”.
Quem nos mandou essa história foi a Michele Silva, uma das fundadoras do Jornal Fala Roça, e disse: “Esse pai que conhece a importância da educação decidiu usar sua irreverência e simpatia para conquistar e fazer o menino chegar na escola. Quando você mora na favela, muitas coisas podem te impedir de chegar na escola. Que a falta de transporte não seja uma delas”.
Antônio EVANDO Batista faria
Uma grande atitude desse pai, o mundo seria diferente se as pessoas pensassem como Kadinho