Elizeu Augusto de Freitas Júnior mora em Rondônia e estudava oito horas por dia; ele contou com o apoio de um dos irmãos
Um estudante autista passou em primeiro lugar no vestibular de medicina da Universidade Federal de Jataí, em Goiás. A conquista de Elizeu Augusto de Freitas Júnior, 19 anos, é consequência de uma rotina de oito horas de estudo por dia, enfrentando as limitações que a condição neurológica impõe. Agora, o morador de Candeias do Jamari, em Rondônia, se prepara para mais um desafio: deixar o estado do Norte com os pais para começar a nova fase no Centro-Oeste em agosto, quando o semestre começa.
O jovem diz que o grau leve de autismo o fez ter dificuldades para aprender a ler quando criança e considera um grande desafio se relacionar com outras pessoas e fazer novas amizades, o que deverá acontecer bastante nessa nova etapa. "Às vezes eu demoro um pouco mais para aprender o que as outras pessoas aprendem, mas, me esforçando, eu consigo", explica Elizeu.
A história de superação do jovem, no entanto, começa mais cedo, com o vínculo mais forte com um dos irmãos mais velhos, Pedro Henrique Passos, 20. Pedro contraiu malária e, na primeira infância, enfrentava dificuldades na fala. Na creche, Elizeu o ajudava a se comunicar com os cuidadores traduzindo o que era dito para os adultos.
Depois, o caçula teve dificuldades para aprender a ler e reprovou o terceiro ano do ensino fundamental. Dessa vez, Pedro estava lá para ajudá-lo. "Eu já fazia aulas de reforço, para tentar aprender a ler. Tinha aprendido algumas sílabas. Ele deu uma atenção em casa e, junto com ele, da minha forma, eu consegui", recorda.
Elizeu cursou o terceiro ano todo em EAD (Educação a Distância) e, ao mesmo tempo, fez um cursinho. Mas se sentia desmotivado. Mais uma vez, Pedro, que estudava para concurso, estava lá para incentivar o mais novo. "Ele estudava 10 horas por dia. Eu não tinha planos. Ele falou para eu me dedicar, que me esforçando no Enem, eu tiraria uma boa nota para uma boa faculdade", conta.
A escolha por medicina
No início, a afinidade com biologia e química empurraram Elizeu para a medicina, que ainda era uma possibilidade distante, como lembra o irmão mais velho. "Fico muito alegre que ele conseguiu, e alegre também que sempre acreditei mesmo. No início, quando incentivei ele a estudar para o Enem, falamos em medicina. Parecia algo tão distante da nossa realidade, mas com esforço e dedicação, ele conseguiu", orgulha-se Pedro.
O caçula acredita que a própria história de superação pode servir de exemplo para quem sofre com alguma condição que traga limitações, mas tem um sonho a alcançar. "Quero que essas pessoas saibam do que são capazes. Basta crer e se esforçar que elas alcançarão os objetivos. Nenhuma dificuldade pode pará-las", recomenda.
Os planos de Elizeu são de, após o curso, especializar-se em neurologia. "Tive dois médicos. O primeiro não me deu atenção, nem laudo. O segundo médico deu uma atenção maior, descobriu meu caso e me deu o laudo de autismo. Eu pretendo me tornar neurologista para ajudar outros autistas que estiverem na mesma posição que eu estive", revela o futuro médico.