Durante todo o processo, a jovem, que fez questão de plantar sementes em vez de mudas, descobriu que aquilo era muito mais do que uma simples horta
Disponível para seus pacientes a qualquer hora do dia, a psicóloga Rayssa Lima foi surpreendida pela ligação de uma paciente diagnosticada com Transtorno de Personalidade Borderline e risco iminente de suicídio.
Felizmente, não era nada muito grave. A paciente queria sua ajuda para não gastar um dinheiro extra com coisas que lhe fariam mal, como cigarros e fast-food. Juntas, elas tiveram a ideia de criar uma horta de tomate-cereja.
Durante todo o processo, a jovem, que fez questão de plantar sementes em vez de mudas, descobriu que aquilo era muito mais do que uma simples horta.
“Em cada etapa, nós pudemos falar sobre o processo dela. Ela trazia isso para nossas conversas. Contava sobre uma planta que estava mais fraquinha e, no final das contas, foi essa planta que começou a dar mais força a ela”, conta a psicóloga Rayssa.
De um risco alto de suicídio, com a ajuda da horta, a paciente foi para o grau de moderado a baixo. Hoje, ela já consegue fazer planos futuros, o que antes era praticamente inconcebível.
“O processo não é linear, mas uma coisa fundamental é que hoje ela consegue se ver viva, mesmo em momentos de sofrimento. Não é mais aquele processo de, ‘ok, vou esperar mais um dia’. E ela me pergunta: ‘você vai estar no meu aniversário, no meu casamento?”, comemora Rayssa.
“Eu não poderia ter feito isso sem você. Obrigada por nunca desistir de mim. Mesmo quando eu implorei para você desistir de mim, quando eu era cruel com você, quando eu não era o ‘meu melhor eu’.”
Muitas vezes, queremos ajudar, mas não sabemos nem ao menos reconhecer os sinais de uma pessoa com pensamentos suicidas. Para a família, é ainda mais difícil, pois, inconscientemente, é difícil aceitar que alguém próximo a nós alimenta esse tipo de pensamento.
“É importante falar sobre isso até para a família não se culpar. Claro, tem momentos que a gente não vai ver. Mas tem momentos que a gente vai ver. Ela pode dizer: ‘não sinto mais vontade de viver’, ‘eu sou inútil’, ‘eu não quero existir’, ‘não sirvo para nada’… Todas essas falas, falam de uma angústia.”
Ninguém além de um profissional preparado para intervir nessas situações pode oferecer ajuda, de fato. No entanto, existem algumas coisas que qualquer pessoa pode fazer.
“Eu digo que são cinco passos. O primeiro passo é se perceber, se você dá conta de ouvir. O segundo é que não é sobre você; é sobre a dor dela. O terceiro é não escutar procurando dar uma resposta, uma solução para o problema, só escutar. E vem o quarto passo, que é validar; não é concordar com o suicídio, é dizer ‘olha, eu entendo…’. E aí vem o outro passo, que eu digo, encaminhe [para ajudar profissional].”