Há relatos triste de buscas por desaparecidos e perdas nas chuvas, mas também cenas de esperança de quem ajudou a quem precisa
Nesta segunda (21/2), as buscas por desaparecidos em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro, entram no sétimo dia, com mais de 100 pessoas ainda não localizadas.
A cidade foi atingida por fortes chuvas na última terça (15/2), e desde então Corpo de Bombeiros e moradores trabalham incessantemente à procura de desaparecidos na tragédia. Até o último domingo (20/2), haviam sido registradas 155 óbitos.
Tanto a prefeitura de Petrópolis quanto organizações não governamentais (ONGs) recolhem doações para ajudar as famílias desabrigadas. As instituições aceitam tanto doações em dinheiro, via Pix, quanto de itens de higiene, alimentos, roupas íntimas, fraldas…
Enquanto isso, parentes e amigos vivem o luto, ao mesmo tempo em que se unem em busca de sobreviventes e na ajuda do acolhimento dos afetados. Veja abaixo histórias marcantes de algumas vítimas e familiares da tragédia em Petrópolis:
1. Após cavar lama com enxada, mãe descobre que filha morreu
Gizelia de Oliveira Carminate, de 36 anos, amanheceu na quarta-feira (16/2) diante do monte de lama e destroços no Morro da Oficina. Por horas, ela fez de tudo para tentar localizar sua filha, Maria Eduarda, de 17 anos – até receber a confirmação de que jovem não sobreviveu.
Com uma enxada nas mãos, chegou ao local antes mesmo dos bombeiros e, num gesto de desespero, usou a ferramenta para cavar e remexer a terra em busca de um sinal de sua filha. “Minha filha está soterrada”, repetia Gizelia.
2. 50 anos depois, mulher morre como a avó, vítima das chuvas
Uma família voltou a ser vítima de fortes chuvas em Petrópolis. Cerca de 50 anos depois, uma neta morreu da mesma forma que a avó. As duas foram vítimas de temporais que atingiram a cidade e faleceram soterradas.
A irmã de Cecília Fiorese, morta pela tragédia, falou sobre os episódios. “A minha avó se chamava Cecília e morreu soterrada. A minha irmã se chamava Cecília e morreu soterrada”, contou.
3. Barbeiro salvou 20 parentes e vizinhos de desastre
No momento em que a primeira pedra caiu do Morro da Oficina, o barbeiro Kevin Amorim, de 26 anos, sentiu o risco de deslizamento e correu desesperado para tirar familiares e vizinhos das casas. Ao todo, 20 pessoas foram resgatadas por ele da tragédia que ocorreu após seis horas de chuvas ininterruptas na região.
“Eu estava do lado, salvei todos que pude. Por onde subi (na escadaria), depois não dava para descer mais”, contou ao Metrópoles.
4. Jovem foi tentar ajudar vizinhos e morreu
Gilberto Martins, um jovem de Petrópolis, morreu após sair de casa para ajudar os vizinhos atingidos pelos deslizamentos. A mãe contou a reportagem que o rapaz foi ajudar a tirar a água que tinha invadido as residências próximas e acabou surpreendido por uma enxurrada que fez desabar o local onde estava.
Seu corpo foi encontrado e identificado na quarta-feira (16/2). Neuza Martins Lima de Souza estava dentro de casa na hora em que começou o temporal. Segundo ela, o filho não tinha conhecimento de qual era o tamanho da gravidade da situação quando saiu para prestar socorro. “Meu filho saiu para ajudar os outros e morreu”, lamentou.
5. Menino desaparece após ônibus afundar em rio
Pedro Henrique Braga voltava da escola com a mãe no dia 15 de fevereiro, quando o ônibus onde estavam caiu em um rio da Rua Washington Luiz, em Petrópolis. Por volta das 16h30, já perto de casa, mãe e filho se separaram após a queda do coletivo. O menino não foi encontrado até agora.
“A gente estava dentro do ônibus, quando começou a encher de água, até que balançou e caiu dentro do rio. Na hora da queda, tinha um outro ônibus do lado, meu filho pulou pra cima desse outro ônibus e a correnteza me levou”, contou a mãe Rafaela Braga Pereira, 30 anos, ao Metrópoles.
6. Família escapa de deslizamento, mas conhece 10 desaparecidos
Uma família do bairro Alto da Serra conseguiu escapar do deslizamento do Morro da Oficina. Tânia Maria dos Santos, 60 anos, afirmou: “Entre vizinhos, amigos e conhecidos mais próximos, são 10 pessoas que sumiram, de idosos a crianças. Vemos os corpos serem recolhidos e não sabemos de quem se trata. É muito ruim”.
Ela relatou ter ouvido um barulho forte seguido da queda de pedras, árvores e vegetação atingindo as casas da localidade. Em menos de 10 minutos, ela e mais três familiares deixaram seu imóvel apenas com remédios e documentos.
7. Homem procura diariamente mulher e filhos sumidos
Desde o dia 15, data em que as chuvas atingiram Petrópolis, Roberto Braga Júnior, de 34 anos, vai até a Vila Felipe todos os dias para cavar na região onde seus dois filhos, a mulher e a sogra desapareceram após o deslizamento de terra.
O assistente de serviços gerais estava no trabalho no dia do temporal. Quando conseguiu chegar na Rua Jacinto Rabelo, não encontrou mais sua casa e nem sua família. A sua esposa, Debora Maduro Bull, 27, os filhos Bernardo Maduro, 7, e Pedro Henrique Maduro, 5, além da avó das crianças, Valeria Maduro Bull, estão desaparecidos até agora.