No domingo, contrariando recomendações do Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro circulou pelo comércio do Distrito Federal
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, insistiu que o Ministério da Saúde mantém uma postura técnica e científica, “procurando mostrar para todos, sem distinção, qual a razão de termos esse posicionamento técnico e científico” de recomendar isolamento social.
A pasta analisou o perfil de 136 pessoas que morreram por coronavírus e aponta que 85% delas tinham outros fatores de risco. Com relação à faixa etária, 90% dos mortos tinham mais de 60 anos, mas há vítimas mais novas.
Oito mortos tinham entre 40 e 59 anos e seis deles, entre 20 e 38 anos.
Com base nesses dados, Mandetta disse que não adianta isolar apenas os idosos, como defendeu o presidente Jair Bolsonaro.
“Qualquer medida que fale em movimentação da nossa sociedade, não pode deixar de olhar para esse gráfico aqui. Então é só pegar as pessoas acima de 60 anos e cuidar? Como se essas pessoas estivessem dentro de uma cápsula. Essas pessoas moram com vocês, essas pessoas têm netos, filhos, trabalham, pegam ônibus, são ambulantes. São eles que podem ser [as maiores vítimas], os próprios ambulantes que a gente quer acelerar e cuidar da economia informal”.
No domingo, contrariando recomendações do Ministério da Saúde, o presidente Jair Bolsonaro circulou pelo comércio do Distrito Federal e cumprimentou apoiadores. Bolsonaro disse nesta segunda-feira que o tour feito por ele não havia sido um “passeio”. “Não fui passear, não. Fui ver o povo”, disse.
A postura do presidente tem causado desconforto dentro do governo e entrado em confronto com as orientações do próprio Ministério da Saúde sobre isolamento social.
Nesta segunda (30), o governo federal deixou de realizar entrevistas coletivas apenas com a equipe do Ministério da Saúde, como ocorria desde o registro dos primeiros casos, e iniciou um encontro com a presença de vários ministros. Mandetta foi o último a falar.
O ministro da Casa Civil, o general Walter Braga Netto, negou que o novo formato da entrevista coletiva tenha tido motivação política.
Mandetta ressaltou nesta segunda-feira (30) que há subnotificação de casos pela falta de capacidade do país de realizar testes em todos os suspeitos.
“Não temos testagem a todos, então o número de casos é muito maior do que o número de casos que temos como confirmados”, disse ele. “Essa patalogia é nova, estamos escrevendo sua história.”
O Ministério da Saúde encomendou 22,9 milhões de testes rápidos para identificar a Covid-19. A pasta também receberá da Fiocruz, até 1º de abril, 40 mil testes RT-PCR, mais precisos e usados para diagnosticar casos graves internados e por amostragem de casos leves.
Folha Press