Relatório detalha falta de insumos, como balas de oxigênio, déficit de pessoal no momento mais grave da pandemia de Covid-19 no DF
A força-tarefa da Ação Conjunta Covid-19 produziu relatório com diversas falhas e irregularidades no Hospital Regional da Asa Norte (Hran). Segundo o documento, para tratamento de pacientes com Covid-19, a unidade precisou improvisar quatro leitos unidades de terapia intensiva (UTIs), chamados de “puxadinhos”.
Em 2020, o Hran foi a unidade de referência do Distrito Federal na luta contra o novo coronavírus. Em 9 de março de 2021, a força-tarefa flagrou um cenário de guerra no local, com gambiarras de oxigênio, superlotação, falta de insumos e sobrecarga dos profissionais de saúde.
“A UTI apresenta todos os 20 leitos para Covid ocupados, considerando 4 improvisados no próprio setor, chamados pelos servidores de puxadinho”, alertou o relatório. Segundo a força-tarefa, não havia bombas de infusão de medicamentos suficientes para todos os pacientes.
As poucas existentes eram compartilhadas. E com a medicação chegava a cristalizar e perder o sucesso no tratamento. “Foi encontrado paciente em uso de dieta enteral (líquida por sonda) sem bomba de infusão”, destacou o documento. O teto tinha infiltração.
“Os pacientes que têm seu quadro agravado nos andares de internação, são intubados e ficam em Ventilação Mecânica até conseguirem uma vaga no Pronto Socorro caso derem positivo para Covid. Em caso negativo, permanecem por dias aguardando uma vaga em leitos de UTI pela regulação de leitos. Durante este período, contam com equipe reduzida para assistência adequada a pacientes graves, sem retaguarda de plantonista médico de 24h no local”, informou a força-tarefa.
Leia o relatório completo:
Os profissionais de enfermagem prestam cuidados com oxímetros e equipamentos particulares, pois os insumos fornecidos pela rede estão abaixo dos padrões necessários. “Verificou-se baixa qualidade da Máscara N95, em que a profissional necessita utilizar fita adesiva para manter sua integridade”, acrescentou o documento.
Falta capote, umidificador e fluxômetros. O déficit de pessoal diante da superlotação culmina em uma situação “caótica. No momento diligência, o Pronto Socorro contava com 2 enfermeiros, 13 técnicos de enfermagem e 2 médicos. Por outro lado, 81 pacientes precisavam de atendimento, fora a demanda espontânea 24h.
A força-tarefa também flagrou a falta de bombas, monitores, bala de oxigênio para transporte e ventiladores mecânicos. E o ar condicionado central do Hran está sem contrato de manutenção há 6 meses. Por isso, há ausência de climatização em diversos pontos da unidade, inclusive na UTI o funcionamento é precário.
E apesar da possibilidade de pagamento de Trabalho por Período Determinado (TPD), os servidores não conseguem disponibilizar mais horas fora de seu plantão. O motivo? Exaustão.
Segundo o documento, a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar teria determinado que pacientes com bactérias multirresistentes devem permanecer na mesma enfermaria, sejam infectados pelo mesmo microrganismo ou não.
Conforme a diligência averiguou, o Hran tinha reservado o 4º andar da unidade para tratamento de pacientes com Covid-19. Mas após a positivação de paciente que estava em internação geral, também destinou o 6º andar para este grupo de enfermos.
“Verificou-se na entrada do Ambulatório fluxo de pacientes Covid e não-Covid compartilhando o mesmo ambiente. Há risco de contaminação de pacientes que utilizam os serviços do Ambulatório, com média de 500/600 pacientes ao dia”, pontuou o relatório.
Segundo a força-tarefa, no hall do hospital foi criada uma sala que serve tanto para medicação quanto para observação. Pacientes aguardam medicação, resultados de exames, internação, além de internados classificados como grau de prioridade Laranja e Amarelo. Alguns em cadeiras de rodas, ficam à espera de laboratórios por mais de 48 horas.
O documento também argumentou que o DF não conta mais com o Hospital de Campanha Mané Garrincha, por isso, o Hran está sem retaguarda atualmente para leitos normais. Lembrando que o hospital do estádio não tinha leitos de UTI.
Quem faz parte da diligência Ação Conjunta no Hran?
Comissão de Saúde da seccional do DF da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF);
Conselho Regional de Enfermagem (Coren-DF)
Sindicato dos Enfermeiros (SindEnfermeiro);
Deputado Distrital Fábio Félix (PSol), presidente da Comissão de Direitos Humanos da CLDF
Segundo a Secretária de Saúde, o Hran está operando além da sua capacidade. Mesmo assim, a pasta afirma que não há atendimento conjunto de pacientes Covid e sem novo coronavírus. Também negou a falta de equipamentos no hospital.
Sobre o déficit de pessoal, a pasta informou que trabalha na contratação de mais pessoal. Aguarda a autorização da Secretaria de Economia para contrato temporário de 855 profissionais de saúde. Também busca a contratação de 950 aposentados.
Leia a nota na íntegra:
A direção do Hospital Regional da Asa Norte (Hran) esclarece que, devido ao aumento acentuado de casos da Covid-19 nos últimos dias, a unidade está operando além de sua capacidade.
Na unidade, a porta de entrada é única e ampla. Logo à frente, há uma separação com sinalização e setas, bem como guichês exclusivos para abertura de cadastro quando necessário, ou seja, a informação de que pacientes Covid e não Covid estão sendo atendidos conjuntamente não procede. Crianças também estão em enfermarias separadas.
A secretaria de Saúde esclarece que está tramitando processo que aguarda a autorização da Secretaria de Economia para contrato temporário de 855 profissionais de saúde, sendo 160 médicos, 120 enfermeiros, 300 técnicos de enfermagem, 155 especialistas em saúde, 120 padioleiros com cadastro reserva de até cem por cento desse quantitativo. Além disso, tramita também, processo para contrato temporário de servidores aposentados da SES e HUB no total de 950 profissionais. Sendo 250 médicos, 100 fisioterapeutas, 200 enfermeiros, 400 técnicos de enfermagem.
É importante frisar que a unidade tem ampliado a oferta de vagas, de forma que a população do DF não fique desassistida. No dia 27 de fevereiro, foram ativados 20 leitos de UTI na unidade. Em 5 de março, outros 8 leitos de UTI neonatal (UTIN) foram abertos para absorver a demanda existente. Também já foram disponibilizados 41 leitos de enfermaria.
Não há falta de equipamentos na unidade, no entanto, o HRAN trabalha com sua lotação máxima, mas todos os pacientes estão sendo direcionados ao atendimento adequado.
Com relação à situação dos equipamentos de proteção individual (EPIs), a Secretaria de Saúde informa que há racionalidade nos estoques, porém não há falta. É importante esclarecer que o consumo aumentou no mercado mundial em face da pandemia de Covid 19, contudo, a pasta tem envidado todos os esforços para evitar o desabastecimento e possui processos de compra em andamento para manutenção dos estoques.
O contrato do Hospital de Campanha Mané Garrincha era por 180 dias improrrogáveis. No entanto, o GDF trabalha na ampliação de leitos de UTI e na contratação de outros três hospitais de campanha.
As unidades de saúde estão apresentando superlotação, pois o número de pessoas contaminadas tem crescido e, consequentemente, a busca por atendimento hospitalar.