Lambe-lambe com rosto do ministro da Economia refere-se ao valor da conta de Paulo Guedes em uma offshore que fica em um paraíso fiscal nas Ilhas Virgens Britânicas
O rosto do ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a estampar os muros da Avenida Faria Lima, na Zona Sul de São Paulo, em uma nova intervenção de ativistas. A região que é conhecida como centro do mercado financeiro, por concentrar grandes empresas, ganhou um cartaz em que Guedes aparece em uma cédula de US$ 9,55 milhões, valor da conta do ministro em um paraíso fiscal.
Segundo o Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, Guedes é dono da offshore Dreadnoughts International Group nas Ilhas Virgens Britânicas. Ele manteve a offshore mesmo depois de ter entrado para o governo do presidente Jair Bolsonaro, no início de 2019, o que pode gerar conflito de interesse.
A existência de uma empresa do ministro no exterior foi revelada pela investigação chamada "Pandora Papers", do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), no início do mês.
Uma reportagem publicada no site da revista "Piauí" informou que, quando a empresa foi criada, em setembro de 2014, Guedes depositou US$ 8 milhões. Depois, a cifra foi elevada para US$ 9,5 milhões, até agosto de 2015. O ministro mantém a empresa ativa.
Segundo os documentos, quando abriu a Dreadnoughts Internacional, Guedes tinha como sócia sua filha, a empresária Paula Drumond Guedes. Ao criarem a empresa, os subscreveram (transferiram) 50 mil ações de US$ 160 cada, o que totalizava US$ 8 milhões. O valor foi depositado no Crédit Suisse em Nova York.
Em maio de 2015, a mulher de Guedes, Maria Cristina Bolívar Drumond Guedes, ingressou na offshore como acionista e diretora, de acordo com a reportagem.
Durante o ano de 2015, Guedes, a mulher e a filha transferiram mais US$ 1,55 milhão para a offshore. Desde então, conforme os documentos obtidos pelo ICIJ, não houve novo aporte nem retirada de capital na empresa.
De acordo com a reportagem da "Piauí", devido à alta da taxa de câmbio desde que virou ministro, os US$ 9,55 milhões de dólares de Guedes nessa conta no paraíso fiscal tiveram uma valorização que chegou a R$ 14,5 milhões.
Quando a informação foi revelada, o Ministério da Economia informou que toda a atuação privada de Paulo Guedes está "devidamente declarada à Receita Federal, Comissão de Ética Pública e aos demais órgãos competentes".
De acordo com os advogados do ministro, Guedes se afastou da gestão da empresa offshore em dezembro de 2018, antes de assumir o ministério, e, segundo a nota, não houve remessa ou retirada de valores para o exterior enquanto ele esteve no cargo, "sendo certo que este jamais se beneficiou no âmbito privado de qualquer política econômica brasileira".
Até julho de 2020, pessoas e empresas que tinham ativos acima de US$ 100 mil fora do país eram obrigadas a fazer o registro no Banco Central.
Na quarta-feira (6), a Câmara dos Deputados aprovou por 310 votos a 142 um requerimento de convocação do ministro para que ele dê explicações ao plenário da Casa sobre movimentações financeiras no exterior por meio de uma empresa offshore.
A intervenção de Guedes não é a primeira que ocorre na Avenida Faria Lima. No fim de agosto, um grupo fixou cartazes com a foto de Guedes e com o slogan "Faria Loser" (perdedor em inglês).
Em julho deste ano, uma empresa instalou uma estátua do ministro da Economia, Paulo Guedes, com os trajes de um guerreiro mandaloriano, personagem da série "The Mandalorian", na entrada da sede.
Na série, o ator Pedro Pasqual representa um guerreiro solitário que trabalha como caçador de recompensa, um anti-herói com características ambíguas moralmente, ficando no centro entre o bem e o mal. Segundo Pasqual, é um personagem moralmente questionável.