Eventual nova posição do Brasil virá por meio da adesão a resoluções multilaterais de órgãos internacionais condenando a Rússia
Com a escalada da tensão no leste europeu nos últimos dias, o governo brasileiro discute internamente abandonar a posição de neutralidade e passar a condenar as ações da Rússia na Ucrânia.
Segundo fontes do Itamaraty e do Palácio do Planalto, uma eventual nova posição do Brasil virá por meio da adesão a resoluções multilaterais de órgãos internacionais condenando a ação russa.
Um dos caminhos seria o Brasil assinar eventuais resoluções do Conselho de Segurança da ONU, do qual é membro rotativo, da Assembleia-geral da ONU ou até do G-20, grupo das 19 maiores economias do mundo.
No caso do Conselho de Segurança, a avaliação do governo brasileiro é de que uma declaração condenando a Rússia será mais difícil de sair, uma vez que os russos ocupam a presidência do colegiado no momento.
Integrantes do governo brasileiro ressaltaram à coluna que a possibilidade de um posicionamento unilateral do Brasil condenando a Rússia já foi descartada internamente.
Essas fontes também destacaram que, por enquanto, não há qualquer discussão sobre possíveis sanções econômicas ou outras medidas do tipo do Brasil em relação à Rússia.
O assunto vem sendo discutido principalmente no âmbito do Itamaraty, cujos diplomatas têm mantido conversas constantes sobre a crescente tensão entre os dois países do leste europeu.
Segundo fontes do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro deu autonomia para o Itamaraty tocar o tema. O presidente pediu apenas para que órgão o comunique antes, caso decida aderir a alguma resolução multilateral.
Contradição
Defensores de uma posição mais dura do Brasil em relação à Rússia lembram que Bolsonaro sempre adotou a defesa da soberania como uma das tônicas principais de seus discursos internacionais.
Nesse contexto, avaliam que esse discurso presidencial pode ser questionado por outros líderes mundiais, caso o Brasil se mantenha neutro e não condene a violação da soberania da Ucrânia.
Há quem lembre que até mesmo os discursos de Bolsonaro em defesa da soberania brasileira sobre a Floresta Amazônica podem ser atacados, caso o Brasil não condene a ação russa.
Neutralidade brasileira
Até o momento, o Brasil vem optando por não condenar explicitamente as ameaças de invasão russa na Ucrânia e por pregar uma solução pacífica que leve em consideração as preocupações de todas as partes envolvidas.
Uma declaração nesse sentido foi feita na segunda-feira (21/2) no Conselho de Segurança da ONU pelo embaixador Ronaldo Costa Filho, representante brasileiro no colegiado.
Na fala, o diplomata classificou a situação entre Rússia e Ucrânia como “crítica” e disse que o Brasil vem acompanhando os últimos acontecimentos com “extrema preocupação”.
O embaixador também apelou à “imediata desescalada” e reiterou o compromisso brasileiro de apoiar os “esforços políticos e diplomáticos” para uma solução pacífica da crise.
Costa Filho ressaltou que os pilares do direito internacional, que baseiam o sistema de segurança coletiva da ONU, só produzirão resultados se as “preocupações legítimas de todas as partes sejam levadas em consideração”.
O representante brasileiro ainda defendeu um “cessar-fogo imediato”, com “retirada abrangente” de tropas. Em nenhum momento, contudo, condenou diretamente as ameaças da Rússia.
Solidariedade?
Durante encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, na semana passada em Moscou, Bolsonaro chegou a dizer que os brasileiros eram “solidários à Rússia”, sem especificar a que se referir.
Em uma segunda declaração, porém, mudou o tom e disse que o Brasil é solidário e respeita países que defendem soluções pacíficas para eventuais conflitos.