Cantor de 34 anos fez dupla com o MC Sheldon entre 2007 e 2014 e foi um dos pioneiros do brega funk, ritmo caracterizado por um passinho contagiante
O MC Boco do Borel, de 34 anos, foi morto a tiros na madrugada deste domingo (26), em Serrambi, no município de Ipojuca, no Litoral Sul de Pernambuco. Um dos pioneiros no brega funk de Pernambuco, Boco deixou um legado de transformação na música brega do Recife. Ele era casado e deixou quatro filhos.
Boco morava no bairro da Mustardinha, periferia da Zona Oeste do Recife. Em 2007, formou dupla com Sheldon Férrer, até então chamado de MC Sheldon. Os dois formavam a dupla Sheldon e Boco, que, durante anos, foi o maior nome do brega funk em Pernambuco. Eles eram tão próximos que tinham os nomes, um do outro, tatuados nos braços.
Sheldon e Boco foram antecessores de nomes como Dadá Boladão, MC Troinha e diversos outros que estouraram nas plataformas de streaming do Brasil.
O pesquisador Thiago Soares, no livro "'Ninguém é perfeito e a vida é assim' - A música brega em Pernambuco" classifica o brega do Recife em três eixos. O primeiro é formado pelos cantores cafonas, como Reginaldo Rossi. O segundo, pelas mulheres românticas, como Michelle Melo, e o terceiro, em resposta a essas mulheres, é dos MCs do brega funk, cujo protagonismo inicial era de Sheldon e Boco.
Sheldon e Boco tinham os nomes um do outro tatuados nos braços — Foto: Reprodução/Redes sociais
Em suas canções, Boco falava sobre a realidade de ser um jovem favelado não somente pelo viés da dificuldade, mas também por meio da ostentação, a exemplo do que ocorria no funk de São Paulo. Eles cantavam sobre dinheiro, sobre mulheres e drogas.
Muitas vezes, foram alvo de polêmicas por cantarem sobre sexo com "novinhas", o que foi associado à pedofilia. Também eram bastante ligados a torcidas organizadas. Boco era torcedor do Sport e, antes da proibição das organizadas em Pernambuco, fazia shows nos encontros da Torcida Jovem.
Algumas de suas canções mais famosas foram "Tá Lelé, tá Maluco" e "Fio Dental", que, atualmente, conta com mais de 1 milhão de acessos no YouTube. Em 2013, a dupla foi tema de um programa do Encontro, com Fátima Bernardes. Na época, somente Sheldon concedeu entrevista.
A dupla se desfez em 2014, quando Sheldon decidiu seguir carreira solo. Os dois deixaram de se falar em 2020, quando Sheldon gravou um DVD romântico e não convidou Boco. O cantor falou sobre a desavença num vídeo publicado neste domingo, lamentando a morte do ex-parceiro musical.
"Rolou meu DVD na Coudelaria Souza Leão, “Com amor, Sheldon”, um DVD romântico, e Boco não tinha nada a ver com romantismo, vocês sabem. E daí ele não foi convidado para o meu DVD romântico e daí ficou com essa intriga boba, e a gente orgulhoso um com o outro, terminou perdendo tempo e não se falou e eu não o vi, não abracei, não pedi perdão. Boco não está mais aqui. O Borel, meu irmão. Sem palavras. O que eu e Boco vivemos juntos não tem como apagar, tá ligado?", afirmou.
Boco foi preso em junho de 2020, por suspeita de tráfico de drogas. Ele passou um ano e quatro meses preso preventivamente no Complexo Prisional do Curado, na Zona Oeste do Recife, e teve a prisão preventiva relaxada em outubro deste ano. Ele passaria por uma nova audiência de instrução em fevereiro de 2022.
"Não tinha mais mandado de prisão, tinha sido revogado. Eu fiz o requerimento verbal e foi comprovado que não tinha prova alguma contra ele e o juiz mandou soltar ele na audiência", afirmou o advogado Sérgio Gonçalves, responsável pela defesa de Boco.
O velório ocorre às 19h, para parentes e amigos, e às 10h da segunda-feira (27) para os fãs, no Cemitério de Santo Amaro, no Centro da cidade. O sepultamento ocorre às 11h.
Boco do Borel foi morto a tiros enquanto fazia um show em Ipojuca. O crime ocorreu no Aconchego Bar. Boco foi atingido por vários tiros, segundo um profissional que trabalhava com o cantor mas pediu para não ser identificado. Até a manhã deste domingo, ninguém havia sido preso, segundo a Polícia Civil.
Boco do Borel chegou a ser socorrido e levado a uma unidade de saúde em Serrambi, mas não resistiu aos ferimentos.