Esquema envolve médico e funcionários de uma funerária em Águas Lindas (GO), acusados de fraudar atestados de óbito para criminosos
A quadrilha presa por vender “kit-morte” a criminosos simulava até mesmo sepultamentos, usando corpos de outras pessoas falecidas. De acordo com investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), o grupo realizou o enterro de duas pessoas ainda não identificadas para encenar a morte de criminosos.
“Inicialmente, pensávamos que os dois corpos supostamente mortos e enterrados no cemitério de Cocalzinho [de Goiás] haviam sido lastreados apenas em atestados de óbito falsos. Todavia, os envolvidos nos narraram que realmente havia dois corpos. Ou seja, dois corpos de terceiros, desconhecidos, acabaram sendo enterrados no lugar dessas duas pessoas – que nós descobrimos que, em verdade, estão vivas”, relatou o delegado Erick Sallum, da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri).
Para Sallum, a situação é “absolutamente escabrosa”. “O descontrole chega ao ponto de os próprios familiares levarem os corpos dos supostos mortos nas funerárias, e apenas confiando nas palavras desses supostos familiares, os atestados de óbito são lavrados”, contou.
“É uma situação inclusive que permite que criminosos levem pessoas mortas, por causas ilegais, e digam lá na funerária que se trata de um parente. Baseado nessa palavra, médicos e a própria funerária conseguem obter atestados de óbito, que depois transformam em certidões de óbito”, completou o delegado.
A PCDF agora seguirá as investigações, no intuito de identificar outros corpos que os investigadores suspeitam que tenham sido enterrados no âmbito destes crimes. “O que estamos, cada vez mais, revelando é que o serviço funerário, não só em Águas Lindas (GO), mas, em outras cidades no Entorno do DF, estão possibilitando uma série de fraudes”, pontuou Sallum.
Policiais da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) deflagraram, na manhã de sexta-feira (5/3), operação para desarticular uma indústria de “mortos-vivos”. Um médico, dois funcionários de uma funerária e um dos maiores falsários do Distrito Federal, que estava supostamente morto, foram presos. A quadrilha é acusada de vender “kit-morte” a criminosos, que escapavam de punições. Os investigados cobravam cerca de R$ 10 mil para fornecer atestados de óbito.
Nesta terça-feira (9/3), os quatro detidos tiveram a prisão temporária renovada por mais cinco dias, até que as diligências e os depoimentos sejam exauridos. Durante a operação da PCDF, foram cumpridos 12 mandados, sendo um de prisão preventiva, quatro de temporárias e oito de busca e apreensão em endereços localizados em Ceilândia, no Riacho Fundo, no Recanto das Emas e em Águas Lindas (GO). A operação foi batizada de The Walking Dead, em referência à série televisiva.
A investigação descortinou esquema envolvendo um médico e uma funerária em Águas Lindas, acusados de forjar atestados de óbito e sepultamentos. Isto é, ao verem que teriam de cumprir muitos anos de cadeia, criminosos do DF simulavam a própria morte, para extinguir a punibilidade nos processos penais em curso.
De acordo com os investigadores, com a emissão das certidões de óbito pelo cartório e cadastramento nos bancos de dados nacionais, os criminosos conseguiam se livrar de condenações penais e todo tipo de execução civil.