Hudson da Silva Ferreira inventava histórias para conseguir dinheiro da mulher, segundo investigação. Delegado avisou vítima no dia da cerimônia, após descobrir esquema.
Hudson da Silva Ferreira é suspeito de aplicar golpes na própria noiva, no DF — Foto: Facebook/Reprodução
Uma servidora pública da Câmara dos Deputados, em Brasília, descobriu, no dia do casamento, que foi alvo de um golpe aplicado pelo próprio noivo. De acordo com a Polícia Civil, ao longo de dois anos, Hudson da Silva Ferreira, de 31 anos, conseguiu extorquir mais de R$ 1 milhão da ex-companheira, de 45 anos.
O delegado à frente do caso, Luiz Gustavo Neiva Ferreira, da 8ª Delegacia de Polícia (Estrutural) contou ao g1 que os próprios investigadores impediram o casamento, marcado para a última quarta-feira (5).
"Entramos em contato com a noiva durante a madrugada, por volta das 5h, e mostramos as provas. A cerimônia estava marcada para as 15h", contou.
O casamento seria realizado em um cartório da Asa Sul. A reportagem tenta contato com a defesa do suspeito. Como o nome da vítima não foi divulgado, o g1 afirma que não conseguiu contato com ela.
Hudson da Silva Ferreira deve responder por associação criminosa e estelionato, podendo pegar entre 9 e 13 anos de prisão, caso sejam condenado.
Segundo o delegado, o homem, morador de Planaltina de Goiás, no Entorno do Distrito Federal, inventava histórias para conseguir dinheiro da noiva, como dizer que tinha dívidas com traficantes ou que precisava de valores para pagamento de processos judiciais (veja detalhes abaixo).
"Durante dois anos, tempo que o relacionamento durou, ele fez isso por inúmeras vezes", disse o investigador.
De acordo com a polícia, quando os agentes chegaram na casa da mulher, ela não conseguia acreditar no esquema e reforçava que era o dia do casamento.
"A vítima só acreditou quando, a pedido dela, a colocamos de frente com o suspeito, que confessou que tudo se tratava de um golpe", contou Luiz Gustavo.
Em seguida, a noiva escreveu uma carta, atestando que foi vítima de golpe, para cancelar a cerimônia no cartório.
Luiz Gustavo detalhou ainda que, além de Hudson, mais três pessoas participaram do esquema. Uma delas é a empregada doméstica da vítima, que apresentou o suspeito à servidora.
De acordo com o delegado, a ideia era formar o casal para a aplicação dos golpes. Os outros dois suspeitos são pessoas vinculadas a Hudson, que também passaram a ter contato com a vítima.
Um deles se identificava como pai de santo e guia espiritual do suspeito. Hudson chegou a induzir a noiva a pagar sessões espirituais com ele, no valor de R$ 22 mil.
"Os suspeitos começaram a fazer uma trama, inventando centenas de histórias falsas para tomar dinheiro da vítima", disse.
No dia do casamento, após identificar o esquema, todos os suspeitos foram levados para delegacia, onde confessaram o crime. Apesar do indiciamento, eles não foram presos, porque não foi possível configurar prisão em flagrante. Agora, eles vão responder na Justiça.
Segundo a investigação, a família da servidora desconfiou que ela estava sendo alvo de um golpe, quando a mulher chegou a ficar em "situação de miserabilidade", sem ter até o que comer. "Ela tem um cargo público e um salário que não justificava esse quadro financeiro", disse Luiz Gustavo.
De acordo com o delegado, a vítima fazia até empréstimos para sanar os supostos problemas do noivo. "Em uma situação, o grupo inventou que Hudson ia precisar ficar internado em uma clínica de reabilitação [das drogas] e que a mensalidade era de R$ 9 mil por mês, mais alimentação no valor de R$ 5 mil. Ela pagou".
Em outro caso, a polícia disse que Hudson contou ter uma dívida com um traficante, no valor de R$ 53 mil, que também custeada pela vítima. "Os suspeitos chegaram a comprar três carros, que a noiva pagava sem saber".
A investigação identificou ainda que, em um dos casos, Hudson contou que tinha sido processado por violência doméstica e precisava pagar R$ 16 mil de multa, valor que também foi custeado pela mulher.
Nessa situação, a vítima entregou R$ 9 mil para a faxineira e R$ 7 mil para o pai de santo, que ficaram de entregar o valor para Hudson, já que todos moravam em Planaltina. Entretanto, a empregada doméstica disse que foi assaltada no caminho para casa, e a noiva, então, decidiu dar outros R$ 9 mil para ela.
"Sentamos com a família da vítima, fizemos alguns cálculos e o valor dos golpes já ultrapassa R$ 1 milhão. Em 16 anos de polícia, nunca vi nada parecido", disse o delegado.