Presidente Wagner Pires de Sá e vice de futebol Itair Machado são alguns dos alvos da operação. O clube já era investigado por suspeita de lavagem de dinheiro.
Presidente do Cruzeiro, Wagner Pires de Sá (centro), antes de prestar depoimento à Polícia Federal em Belo Horizonte em junho — Foto: Alex Araújo/G1
A Polícia Civil cumpre na manhã desta terça-feira (9) mandados de busca e apreensão na sede do Cruzeiro, no Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e também na Toca da Raposa, centro de treinamento que fica na Região da Pampulha.
As buscas também acontecem nas casas do presidente do Cruzeiro Wagner Pires de Sá e do vice de futebol Itair Machado. A defesa deles ainda não se manifestou.
O atual bicampeão da Copa do Brasil é investigado por suspeita de lavagem de dinheiro, uso de empresas de fachada e até pela venda de direitos de um menor de idade. A dívida do clube chega a R$ 500 milhões.
O Ministério Público informou que o processo corre em sigilo e que por isso não pode dar detalhes sobre as investigações.
O Cruzeiro informou que vai se manifestar oficialmente por meio de nota no site do clube.
A investigação
A Polícia Civil de Minas Gerais instaurou inquérito para apurar denúncias sobre falsificação de documento particular, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Os investigadores já ouviram 15 pessoas, todas elas relacionadas de alguma forma com o Cruzeiro – entre funcionários e ex-funcionários, dirigentes e prestadores de serviços que realizaram transações com o clube.
O inquérito se baseia em um balancete contábil analítico, que demonstra pagamentos feitos pelo Cruzeiro no decorrer de 2018, ao qual o Fantástico também teve acesso.
A reportagem foi além e conseguiu quase 200 páginas de contratos e planilhas de controle interno. Há evidências de que a diretoria cruzeirense quebrou regras da Fifa e da CBF, no âmbito do futebol, e do governo federal, por meio do Profut, programa de renegociação de dívidas fiscais com clubes.
Wagner Pires de Sá
Este pedido, rejeitado, tinha o poder de afastar Itair Machado da diretoria do Cruzeiro até que a ação fosse julgada no sistema judiciário de Minas Gerais.
No dia três de julho, a Justiça negou a tutela de urgência em ação de conselheiros do Cruzeiro para afastar Itair Machado de suas funções administrativas. Um grupo de 31 conselheiros e associados do Cruzeiro ajuizou ação cível contra o clube e principalmente contra ele.
Itair Machado
Os advogados Carlos Alberto Arges Júnior e Ildeu da Cunha Pereira, que também é conselheiro nato do Cruzeiro, Marcio Antonio Camillozzi Marra, servidor da PF e conselheiro efetivo do Cruzeiro e Paulo de Oliveira Bessa, servidor da PF, foram presos no início deste mês.
A Operação Escobar é um desdobramento da Operação Capitu e prendeu dois advogados e dois servidores da Polícia Federal suspeitos de retirar documentos sigilosos do sistema da própria PF e vazar informações sobre as operações. São investigados os crimes de corrupção ativa, corrupção passiva, organização criminosa, obstrução de Justiça e violação de sigilo funcional.
"O Cruzeiro tem contrato com mais de mil advogados", respondeu Wagner Pires de Sá, disse ele na época.
Após quase duas horas de depoimento na sede da PF, presidente do Cruzeiro foi questionado pela reportagem da TV Globo se o clube mantinha algum tipo de contrato com os advogados investigados.
No dia 18 de junho, ele prestou depoimento sobre as investigações da Operação Escobar. Ela apura contratos de honorários com os advogados Carlos Alberto Arges Júnior e Ildeu da Cunha Pereira, que chegaram a ser presos no dia 5 de junho. A PF suspeita de lavagem de dinheiro e desvio do dinheiro para outros dirigentes do clube mineiro.
O presidente do Cruzeiro Esporte Clube, Wagner Pires de Sá, ainda é suspeito de participação em vazamentos de documentos sigilosos da Polícia Federal.
Os conselheiros autores da ação, incluindo o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares, argumentaram que "a nomeação do Vice-Presidente executivo se deu de forma irregular, na medida em que existem em desfavor do réu condenações trabalhistas, previdenciárias e criminais, o que contraria o estatuto do clube e a lei 9.615, de 1998". A intenção seria de afastamento imediato de Itair ou, de forma alternativa, que o vice de futebol fosse afastado "temporariamente por 60 dias".
É citada na petição inicial que "há fortes indícios de gestão temerária/fraudulenta junto ao Cruzeiro", tendo como base as denúncias apresentadas pelo Fantástico e também as investigações da Polícia Civil contra a gestão atual da Raposa. A parte autora ainda relata que em 28 de junho de 2019 "foi protocolizada representação perante o Conselho Deliberativo do clube requerendo o afastamento do 1º réu (Itair)".
Entretanto, a juíza aceitou a argumentação do Cruzeiro na questão, de que é o estatuto do clube, por meio de convocação de Assembleia Geral, que deverá tratar de afastamento de membro da diretoria.
Prosseguindo na decisão, a julgadora da questão ainda afirmou que as ações trabalhistas e criminais nas quais Itair Machado estaria envolvido não transitaram em julgado (não tiveram o julgamento finalizado). Itair se manifestou voluntariamente na ação e requereu segredo de justiça, algo que não foi concedido pela juíza.
G1