Antes suspeitos, agora condenados: Pais responderam por homicídio qualificado, feminicídio e abandono de incapaz
A Polícia Civil concluiu o inquérito do caso dos pais que eram suspeitos de matar a filha de 1 ano e 2 meses em Montes Claros, no último dia 6. A mãe e o pai do bebê acabaram sendo indiciados por homicídio qualificado, feminicídio e abandono de incapaz. Segundo a perícia, Maria Valentina morreu em decorrência de um espancamento por parte da mãe, e ainda foi detectado sinal de abuso sexual.
De acordo com o Titular da Delegacia Especializada de Homicídios em Montes Claros, Dr. Bruno Rezende, a mãe de 28 anos confessou em depoimento na delegacia que agrediu a filha pelo menos 5 vezes, na madrugada de sua morte. “Ela agrediu com tapas e murros porque a criança não dormia, então a menina faleceu por lesões na costela e lesões na alça intestinal”.
A mulher também alegou que o pai de Maria Valentia também havia agredido a filha com um soco naquele dia. Além disso, ela disse que “teria visto alguns movimentos do pai debaixo da coberta que no entender dela fica caracterizado como abuso sexual”, relatou o titular da Polícia Civil em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (26).
Conforme relatado, os pais, Maria Valentia e os demais filhos do casal dormiam no mesmo quarto com duas camas juntas, de forma improvisada. “As outras crianças negam abuso sexual, o que chamou a atenção pelo fato da criança que faleceu ter uma dilaceração anal muito importante, porque seria ali uma violência praticada ou com conjunção carnal ou introdução de um outro objeto”, constatou Dr. Bruno Rezende.
O pai, de 32 anos, negou as violências contra o bebê. Tanto ele quanto a mãe acabaram sendo responsabilizados pelas agressões e morte, pois “ambos escolheram deliberadamente um não tomar uma posição em relação ao outro. O pai alega que viu a mãe espancar a criança diversas vezes na madrugada e não fez nada”.
“E a mãe alega que viu o pai bater na criança e praticar movimentos dentro das colchas que pudessem implicar em abuso sexual e também escolheu não fazer nada”, completou o titular da Delegacia Especializada. “Dada a caracterização de que a criança tinha sinais de abuso sexual, entendemos que ambos são responsáveis”, afirmou.
A justificativa da Polícia Civil é a mesma, de que um deles viu o suposto abuso sexual e nada fez para impedir ou minimizar. Ao ouvir os outros filhos do casal, a corporação constatou que agressões também eram praticadas por ambos em relação às outras crianças.
Conforme informações da polícia, Maria Valentina defecava muito e não dormia, o que fazia com que a mãe perdesse a paciência e a agredisse com frequência. “Os pais frequentemente agrediam a criança para que ela viesse a dormir, e as agressões naquela madrugada foram determinantes para a morte dela”, afirmou o titular da delegacia.
“Um dos filhos chegou a questionar no depoimento que ficava sem saber se os pais de fato gostavam dele, porque eram constantes as agressões”, pontuou Dr. Rezende. Ele ainda acrescentou que era comum os pais deixarem as crianças sozinhas ou com familiares para usarem drogas.
Segundo a polícia, isso caracterizou que os pais praticavam maus-tratos e abandono de incapaz com frequência, o que levou ao indiciamento por tais crimes. A mulher já tinha passagem na polícia por tráfico de drogas, receptação e abandono de incapaz. O homem tinha por ameaça, lesão corporal, furto, dano, roubo e homicídio, e além disso ele tem uma condenação por estupro de vulnerável.
“O Conselho Tutelar acompanhava essa família há algum tempo, inclusive porque uma das filhas do casal estava sendo criada pelos avós porque a mãe teria deixado essa criança no hospital. Ela tem, aparentemente, um distúrbio mental”, informou o titular. A família vivia em situação de vulnerabilidade social e, por isso, o órgão faz o acompanhamento.
Ainda de acordo com Dr. Bruno Rezende, a menina que morreu não estava registrada no cartório, e várias instituições sociais tiveram que se mobilizar para fazer o registro. “Foi preciso trazer o pai do presídio de Bocaiúvas para que ele pudesse assinar os papeis e a partir disso a gente registrar a criança e declarar o óbito”, contou.
Os pais de Maria Valentina estão presos desde o dia 6 de julho, sendo a data do flagrante. Segundo a Polícia Militar, a mãe teria pegado a menina pela manhã e tentado acordá-la, sem sucesso, antes de sair na rua e pedir para que um homem que passava chamasse a polícia.
A mãe do indiciado, o pai de Maria Valentina, relatou que ele acusou a companheira de ter matado a menina com golpes e arremessado a filha contra a cama. O homem disse que precisava fugir, porque “já tinha problemas na Justiça”, e fugiu da casa, ainda conforme relato da mãe dele.
A Polícia Civil conta que o sujeito confessou ter passado em um bar antes para tomar uma dose de cachaça. Depois disso, ele providenciou um mototáxi e foi para a casa de parentes. A equipe policial conseguiu rastreá-lo e o prendeu na rua da casa de uma das irmãs dele, no bairro Monte Carmelo.
A mãe, o pai e a irmã do homem também foram presos. A mãe da criança acabou sendo presa ainda dentro de casa. A criança passou por exame e a perícia encontrou sinais de violência e lesões na região abdominal e na costela. Todos os envolvidos foram levados à Delegacia de Plantão de Montes Claros.