Polícia Civil indicia homem por matar a criança e a mulher e colocar fogo na casa para despistar investigação
O ajudante de serviços gerais Marcelo Alves da Silva, de 35 anos, foi indiciado nesta semana pela Polícia Civil, pelo assassinato da esposa e do filho do casal, crime cometido em 21 de maio deste ano em São Domingos, no nordeste goiano. A investigação apontou que a versão apresentada pelo suspeito, de que as vítimas teriam morrido em um incêndio causado por um curto-circuito, não batia com vários vestígios encontrados no local. Marcelo foi preso três dias após as mortes e se encontra detido desde então.
Relatório final assinado pela delegada Lucilene Guimarães dos Santos, titular da delegacia de São Domingos, afirma que foi encontrada uma faca cravada no corpo carbonizado de Eliete Carvalho de Jesus, de 30 anos, esposa de Marcelo, e que o filho deles, Davi Carvalho da Silva, de 2 anos, estava com o corpo envolvido em tecidos molhados com um tipo de acetona que acelerou o processo de queima.
Marcelo saiu de casa pouco depois das 5 horas do dia 21, indo com o sogro em um carro até uma fazenda na zona rural para um serviço. Pouco tempo depois, recebeu uma ligação falando do incêndio na residência. Quando os dois conseguiram retornar, os vizinhos já tinham apagado o fogo. Os bombeiros demoraram porque o quartel mais próximo fica em Campos Belos, a 85 quilômetros de São Domingos.
Em relação aos corpos, a delegada afirmou ainda que a posição em que se encontravam e a localização na sala indicavam que as vítimas não reagiram ao avanço do fogo, reforçando a hipótese de que já estavam mortas na hora do incêndio. Posteriormente, o laudo cadavérico feito em Eliete apontou que ela não inalou fumaça e morreu provavelmente uma hora antes de o marido ter saído de casa.
No quintal foi encontrada uma garrafa com restos de um líquido com cheiro semelhante à gasolina e, além disso, os peritos não encontraram na fiação elétrica da casa nenhuma característica de que houve um curto-circuito. E a faca encontrada no pescoço era idêntica às de serra na cozinha. Nada foi levado da residência.
Chamou a atenção dos policiais também o fato de haver um cachorro de grande porte no quintal, fato citado pelos vizinhos para justificar a demora em entrar na residência para combater o fogo. Foi preciso aguardar um parente das vítimas para pular o muro e conter o animal. Isso, segundo as investigações, é um forte indício de que seria impossível entrar um estranho na residência.
Para a polícia, as vítimas foram mortas no local onde estavam deitadas, em um colchão na sala onde, segundo o suspeito, a mulher costumava dormir para poder ver algum programa de televisão. Não havia manchas de sangue em nenhuma outra parte da residência. O estado do corpo da criança inviabilizou uma análise mais aprofundada.
A delegada afirmou em seu relatório que se trata de um caso de “mortes violentas, causadas por ação de outrem, seguido de carbonização dos corpos com auxílio de acelerante” e o incêndio “foi causado de forma intencional na tentativa de destruir os vestígios intrínsecos e extrínsecos relacionados à agressão”.
As atitudes de Marcelo após o crime chamaram a atenção da polícia, o que embasou o pedido de prisão preventiva do mesmo, sob alegação de que ele tentaria uma fuga. Segundo Lucilene, o suspeito tentava conseguir recursos para sair da cidade, buscando recursos pertencentes à esposa, inclusive em uma conta bancária da mesma. Ele chegou a pressionar uma cunhada para ir com ele no banco pegar o dinheiro de Eliete. Na hora da prisão, foram apreendidos R$ 13 mil em espécie.
Em seu relatório, a delegada também cita que já preso Marcelo tentou subornar um colega de cela oferecendo R$ 5 mil para que assumisse o crime, proposta que não foi aceita.
Depoimentos de terceiros e, em certos momentos, também o de Marcelo indicavam que a relação do casal não estava boa, com constantes brigas, principalmente pelo fato de o suspeito apostar dinheiro em jogos de azar. A mãe de Eliete afirmou ter ouvido a filha falar em separação.
O indiciado foi ouvido três vezes desde o dia do crime. Na primeira, ainda sem ser considerado suspeito, deu sua versão como se tivesse sido uma fatalidade causada pelo celular da mulher enquanto ela e o filho dormiam. No entanto, a partir do segundo depoimento, sua fala chamou a atenção da Polícia Civil em vários trechos.
Num deles, destacado pelo delegado, disse não ter se lembrado de ligar para esposa para que saísse de casa ou para saber como estava assim que ficou sabendo do incêndio. Na terceira vez, confrontado com os cortes causados por objeto cortante na mulher e no filho, desconversou dizendo que nunca teria matado os dois e que se cometeu algum crime o fez dormindo.
Marcelo também não soube explicar como os ferimentos poderiam ter sido feitos por outro suspeito se a casa estava trancada durante o incêndio, comentando apenas que ao sair para o trabalho viu os dois deitados no colchão na sala e vivos.
O suspeito segue preso e responde agora pelos crimes de feminicídio e homicídio qualificado, além de destruição de cadáver e pelo incêndio provocado na residência.