O Dia Mundial da Doença de Chagas, celebrado neste último domingo, dia 14 de abril, marca a luta pela eliminação da enfermidade, considerada silenciosa e que ainda hoje atinge pelo menos 8 milhões de pessoas ao redor do mundo.
A doença, que pode atingir órgãos como o coração, intestino e esôfago, é considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como negligenciada, por ter relação com determinantes sociais. Menos de 10% das pessoas infectadas tem acesso ao diagnóstico e menos de 1% tem acesso ao tratamento.
Em Goiás, estima-se que entre 200 mil e 300 mil pessoas sejam portadoras da doença na forma crônica.
Nesse contexto, o Governo de Goiás, por meio da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO), em parceria com o Ministério da Saúde, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Secretaria Municipal de Saúde de São Luís de Montes Belos, lançou esta semana o projeto IntegraChagas Brasil.
“A principal finalidade é trabalhar melhor o diagnóstico e o tratamento dessas pessoas na atenção primária, para que a gente tenha um melhor controle dessa doença no nosso estado”, afirma a superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim.
A pesquisa estratégica, financiada e demandada pelo governo federal, está em andamento em quatro unidades da federação: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Goiás.
Aqui no estado, São Luís de Montes Belos foi escolhido para a execução do projeto, por ser um dos municípios goianos com maior número de notificações de casos crônicos de Chagas.
O lançamento oficial ocorreu na última sexta-feira (12/04), durante o Seminário pelo Dia Mundial da Doença, que reuniu representantes do MS, Fiocruz, SES-GO, dos projetos IntegraChagas Brasil e Cuida Chagas, Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Conselho dos Secretários Municipais de Saúde de Goiás (Cosems-GO), instituições de ensino, Prefeituras de São Luís e Paraúna, além de associações dos portadores da doença de Chagas.
Flúvia Amorim, que no lançamento representou o secretário de Estado da Saúde, Rasível dos Reis, e o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), lembrou que apenas em 2024, 93 pessoas já perderam a vida para a doença no estado.
O número, apesar de ser próximo ao de óbitos por dengue (110), por exemplo, acaba não tendo tanta repercussão e impacto na sociedade.
“Ela é invisível para a comunidade como um todo. E por quê? Porque, infelizmente, na maioria das vezes, quem sofre a dor são pessoas de baixa renda, são pessoas que têm uma vulnerabilidade social muito grande e a gente precisa se atentar a isso também”, enfatizou a superintendente.
De acordo com o Sistema de Informação de Mortalidade, em média, 689 pessoas vão a óbito por ano devido à doença de Chagas em Goiás.
O evento, realizado em São Luís de Montes Belos, marcou ainda o lançamento do primeiro boletim com o Perfil epidemiológico e sociodemográfico dos casos crônicos de doença de Chagas notificados em Goiás, entre os anos 2013 e 2023.
O material foi produzido pela Gerência de Vigilância Epidemiológica de Doenças Transmissíveis da SES-GO, em colaboração com a equipe do IntegraChagas, a partir dos dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).
O informativo garante um panorama detalhado sobre a doença no estado, que deverá auxiliar na execução das ações e políticas públicas voltadas ao controle de chagas em território goiano.
O boletim mostra que, durante os últimos 10 anos, foram notificados 7.802 casos de Chagas na forma crônica no estado de Goiás, com taxa de prevalência média de 10,25 casos a cada 100 mil habitantes.
O ano de 2019 apresentou o maior número de notificações, com 1.183 registros. A maior frequência de casos foi verificada em pessoas do sexo feminino (58,7%), de raça/cor parda (32,1%), que residiam em zona urbana (88,8%) e estavam na faixa etária maior ou igual a 70 anos (28,4%).
“Goiás é pioneiro, porque tem a notificação dos casos crônicos (desde 2013) e isso é muito importante, porque a epidemiologia mostra que praticamente todos os municípios têm casos crônicos da doença”, assinalou a oficial Nacional de Doenças Negligenciadas da Opas, Sheila Rodovalho.
O estado tem avançado de forma significativa no diagnóstico da doença ao longo dos anos. Isso porque, em Goiás, assim como no Distrito Federal e Mato Grosso do Sul, a sorologia para detecção de Chagas foi incluída nos exames pré-natais (Teste da Mamãe).
Com a iniciativa, foi possível identificar que a doença foi a terceira mais detectada em um total de 350 mil gestantes, conforme a série histórica sorológica.
“Precisamos buscar parcerias para que os nossos profissionais, desde o agente comunitário de saúde, que entra nos domicílios, até o médico que faz assistência dentro da unidade, consigam planejar uma linha de cuidado, desburocratizando o acesso dessas pessoas aos exames de diagnóstico”, pontuou a presidente do Cosems-GO, Patrícia Fleury.
Em 2024, o Dia Mundial de Chagas também marca os 115 anos de descoberta da doença pelo médico sanitarista e cientista brasileiro Carlos Justiniano Ribeiro Chagas, em 1909.
Ela é causada pelo Trypanosoma cruzi e pode ser transmitida pela picada do barbeiro, por meio de alimentos contaminados com fezes do barbeiro, via congênita, em transfusões sanguíneas, transplante de órgãos ou por acidentes laboratoriais.
A evolução para cura demanda vários anos e a cura espontânea é rara. Por isso, a prevenção ainda é a melhor alternativa.
Além do IntegraChagas Brasil, Goiás tem em desenvolvimento ou já finalizado outros projetos relacionados à doença.
Dentre eles, o Cuida Chagas, também em parceria com o MS e que visa a eliminação da transmissão congênita (de mãe para filho durante a gestação) no município de Paraúna; e o Expresso Chagas, que envolve práticas de educação, informação e promoção da saúde sobre a enfermidade, com a abordagem de Ciência e Arte. O segundo foi realizado em Posse, no Nordeste goiano.