Sophia de Jesus Ocampo, foi morta após uma agressão na coluna e hemorragia interna. A polícia investiga o padrasto e a mãe da menina por estupro e espancamento
O pai de Sophia, de 2 anos (morta com uma fratura na coluna e hemorragia interna), acusa a mãe da criança de homofobia durante as tentativas de buscar pela guarda da menina. Jean Carlos Ocampo diz ter tentando a guarda da filha, mas "ela [mãe da menina] dizia que não deixaria a filha com dois homens".
"Se sonhamos que estava nesse grau e proporção a gente tinha pegado a neném e não devolvia, mas a gente ficou muito sem informação. A questão da homofobia existiu. A gente vê mães reclamando que o pai não é presente e nesse caso tinha um pai tentando se fazer presente e ignoravam", relata o pai da menina.
Stephanie de Jesus Da Silva e Christian Campoçano Leitheim, mãe e padrasto da menina, estão presos preventivamente pelos crimes de homicídio qualificado e estupro de vulnerável. O inquérito policial foi encaminhado ao Poder Judiciário nessa sexta-feira (03/02).
Igor de Andrade, companheiro do pai da menina, também relatou ao g1 que eles tentaram conseguir a guarda da criança, mas um dos impedimentos seria a homofobia por parte da mãe da vítima.
"Passamos por vários lugares para entrar com pedido de guarda da neném. O fato de eu não ser um pai biológico não muda não, eu tive uma missão muito mais importante, que é amar uma pessoa que não é do meu sangue. Eu amei como se fosse a minha filha. Ela foi a luz da nossa casa!", disse Igor.
O pai da menina relata vários momentos em que a homofobia barrou a relação entre ele a filha. "Teve esse preconceito por ser dois pais, porque quando você quer ajudar, as coisas acontecem, ainda mais no estado em que a minha filha chegava em casa. Eu mostrava fotos dos hematomas, mostrava a neném, e nada era feito. Eles deveriam agilizar o processo e informações. Sempre nos pediam documentos, documentos e documentos, o tempo que a gente enrolava atrás de documentos era o tempo que poderia ter feito algo, uma medida protetiva, tirado ela de imediato daquela casa".
Em uma rede social, a tia paterna da menina, Izabely Andrade, lamentou que nada tenha sido feito a tempo, mesmo com diversas denúncias de agressão e maus-tratos. Segundo ela, devido a fatalidade, quem ganhou foi a homofobia e quem perdeu a vida foi a pequena Sophia.
“Tínhamos dois iguais “homossexuais” que estavam lutando para conseguir a guarda e dar amor e carinho! Ao mesmo tempo, do outro lado, dois diferentes “héteros” que estavam entre: socos, porradas, ponta pés, roxos, agressões, abuso e estupro. Para a justiça desse brasil a homofobia vai além da própria vida de uma criança de apenas 2 anos! Sim, dessa vez quem ganhou foi a homofobia, e quem perdeu a vida foi a pequena Sophia!”.
Uma semana após a morte da menina Sophia Jesus Ocampo, de 2 anos, os sentimentos presentes nos processos de luto do pai biológico Jean Carlos Ocampo e seu companheiro, Igor de Andrade, são de tristeza profunda e indignação com as autoridades que receberam diversos pedidos de socorro que poderiam ter evitado a morte da filha.
A menina chegou morta à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Coronel Antonino, no dia 26 de janeiro. O g1 teve acesso a dois boletins de ocorrência registrados pelo pai da menina por maus-tratos, inúmeras denúncias no Conselho Tutelar e a tentativa de conseguir a guarda nos últimos 13 meses, mas que nunca tiveram retorno.
“Teve uma omissão sistêmica, isso aconteceu desde o primeiro atendimento nos postos de saúde, na delegacia quando o pai foi registrar os boletins de ocorrência por maus-tratos e junto ao Conselho Tutelar, que também não cumpriu sua função social”, disse a advogada Janice Andrade.
Segundo as investigações, a criança apresentava sinais de estupro e espancamento. Andrade afirma que os agentes públicos não estavam preparados para resolver o caso da pequena Sophia. “Como que uma criança chega com uma perna quebrada, diversos hematomas e ninguém faz nada? Isso não é normal”.
Na casa onde a criança morava, bitucas e caixas de cigarro foram encontradas espalhadas na varanda da casa. Garrafas de bebidas alcoólicas também foram vistas.
A mãe, Stephanie de Jesus Dada Silva, e o padrasto, Christian Campoçano Leitheim, foram presos em flagrante na quinta-feira (26/01) pelo crime de homicídio qualificado por motivo fútil.
Já no sábado (28), o juiz Carlos Alberto Garcete, da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, converteu, durante audiência de custódia, a prisão dos suspeitos de temporária em preventiva.
O padrasto foi levado para a Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira. A mãe foi transferida para um presídio no interior do estado, por motivos de segurança.