Pais da criança descobriram que a filha havia morrido e sido levada para o hospital. Uma monitora está presa, suspeita de cometer o crime
A família da pequena Amariah Noleto, uma bebê de 6 meses, não se conforma com a ida precoce da menina, deixada em uma creche na Vila Buritis, em Planaltina, horas antes de morrer. O pai dela — que pediu para não ter o nome divulgado — só descobriu que a filha havia morrido quando foi buscá-la na escolinha e recebeu a trágica notícia. A criança já estava no Hospital Regional de Planaltina (HRPl). Uma das responsáveis pela instituição, Marina Pereira da Costa, 22 anos, foi indiciada por homicídio doloso e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça, ontem.
O caso aconteceu na quarta-feira. O pai de Amariah, um jovem de 23 anos, saiu de casa pela manhã para levar a menina à creche, na Quadra 4 da Vila Buritis. Por volta das 17h, ao voltar ao estabelecimento para buscar a bebê, ele enviou uma mensagem ao primo e disse estar em frente à creche. Em depoimento aos investigadores da 31ª Delegacia de Polícia (Planaltina), o destinatário contou que, por volta das 18h20, recebeu outro recado do primo, afirmando que a criança estava morta.
Imagens obtidas pelo Correio e registradas por câmeras de segurança próximas à creche mostram o momento em que funcionárias da escolinha colocam o corpo de Amariah dentro de um carro, pelo portão dos fundos. Delegado-adjunto da unidade policial, Veluziano de Castro relatou que, enquanto a menina era colocada no veículo, o pai dela aguardava a saída da filha à frente da entrada principal. As monitoras teriam dito a ele que a causa da morte seria por engasgo — versão descartada por uma médica do HRPL.
Amariah chegou morta ao hospital. O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML), que deve ajudar a polícia a elucidar a causa da morte, tem previsão de sair em 10 dias. Se comprovada a responsabilidade, Marina pode responder por homicídio com dolo eventual: “Ela se omitiu nos cuidados da bebê e também assumiu o risco da morte”, afirmou Veluziano
A creche mantinha as atividades ilegalmente havia cerca de três anos e não tinha licença para funcionar, segundo a Secretaria de Educação. O estabelecimento recebia crianças de 4 meses a 12 anos, em meio período e turmas em tempo integral. O valor das mensalidades variava de R$ 200 a R$ 300. Marina Pereira ficava responsável pelo cuidado com os bebês de 4 a 12 meses e até “sentia ciúmes” de outras funcionárias. “Ela trancava a porta e escondia as chaves dentro da blusa para ninguém entrar”, detalhou o delegado.
No dia do crime, por volta de 12h, Amariah começou a chorar e Marina teria entrado no quarto nervosa, segundo relatos das outras funcionárias à polícia. “Após segundos, o choro da bebê ficou abafado e nada se ouviu”, disse uma das monitoras. A mesma testemunha relatou que a suspeita havia dito, em outras ocasiões, que não gostava da menina nem da mãe da criança.
Marina havia, inclusive, costurado um saco de dormir exclusivo para Amariah, que cobria até os braços da menina, de modo que, se ficasse de bruços, a bebê não conseguiria sair. As investigações também revelam que, quando a criança parou de chorar, a dona da creche deixou o quarto, disse que levaria duas crianças para casa e trancou a porta do cômodo onde as crianças ficavam.
Pouco tempo depois, enquanto a suspeita estava fora, as funcionárias ouviram, novamente, o choro de Amariah. Com outra chave, uma das monitoras abriu a porta para ver o que acontecia e, ao entrar, encontrou a menina de bruços, pálida, com catarro no nariz e vestida com o saco de dormir. Assustada, a equipe ligou para Marina e pediu que ela retornasse imediatamente ao trabalho.
Uma das funcionárias disse à polícia que iniciou procedimentos de primeiros socorros e levou a criança ao hospital. Como é possível ver no vídeo, Marina chega pelos fundos da creche, pois o pai aguardava pela filha em frente ao portão principal. Em seguida, a dona da escolinha coloca o corpo de Amariah em um carro e sai.
Em mensagens trocadas entre Marina e uma funcionária da creche, a suspeita tenta atribuir a responsabilidade pelos cuidados com o bebê às outras monitoras. “Não precisa ir trabalhar. Amariah, ontem, foi ao hospital e faleceu. Eu e tia Cleide estamos f*didas. Ontem, eu nem mexi com a bebê”, escreveu a responsável pela instituição.
Apavorada, a monitora pergunta como ocorreu a morte. Em resposta, Marina diz: “Me conta tudo o que você fez com ela, pois terei que arranjar um advogado. Deu banho? Colocou no berço, essas coisas(?)”. A funcionária responde: “Eu só (a) recebi na hora (em) que ela chegou, e eu te entreguei na hora do parque. Não dei banho nela ontem. Naquela hora que coloquei a comida dos bebês, ela estava chorando e você foi no quarto, você fez algo com ela?”, perguntou. A dona da creche responde: “Era só isso que eu queria saber mesmo”.
O Correio tentou contato com a defesa de Marina, mas não teve retorno até o fechamento desta edição. Abalados, os pais da criança não quiseram dar entrevista.
Marina passou por audiência de custódia na manhã de ontem e teve a prisão em flagrante convertida em preventiva. Na justificativa, o juiz que analisou o caso considerou que os fatos apresentam “especial gravidade”. “Chama atenção o fato de a creche funcionar irregularmente. Em ato contínuo, também há notícia de que a criança estava chorando e a autuada foi até a menor, momento em que o som do choro da infante passou de normal para abafado, destacando-se, ainda, que a criança foi encontrada em um saco confeccionado pela autuada, cobrindo todo seu corpo, inclusive os braços, e com pano protetor do berço sobre a cabeça”, escreveu o magistrado.
Caso o laudo do IML comprove que Marina teve intenção de matar a vítima, a suspeita poderá responder por homicídio qualificado, segundo o delegado que apura o caso.
A segurança não tem poder de fiscalização ou observação que possa determinar algum tipo de ação praticada por ela (dona da creche) em relação à proteção de crianças em instituições privadas. Os cuidados (por parte) dos responsáveis e das instituições têm de ser complementares. Nesses estabelecimentos, deve-se seguir todas as normas, para que sejam regularizados. Eles dependem (da fiscalização) de ambas as partes: tanto do Estado, quando vão buscar todas as certidões, quanto da postura pessoal em relação a onde (as pessoas) deixarão os próprios filhos. Quando se trata da área educacional, cabe à Secretaria de Educação e a outros órgãos buscar uma fiscalização diferenciada. E é possível (às famílias) verificar inovações (nas instituições de ensino), como a obrigatoriedade de um sistema de segurança privada.