Sargento Ronie Peter Fernandes da Silva é suspeito de participar de grupo que movimentou pelo menos R$ 8 milhões
Ronie Peter Fernandes da Silva com os veículos apreendidos nesta terça-feira (16) em operação no DF — Foto: Instagram/ Reprodução
Preso por chefiar um esquema de agiotagem no Distrito Federal, o sargento da Polícia Militar Ronie Peter Fernandes da Silva, de 45 anos, fazia graves ameaças às vítimas que deviam dinheiro para ele.
Em uma mensagem de áudio obtida pela TV Globo, o militar diz que vai "arrancar o olho" de uma pessoa "na mordida"
"Vou morder seu olho. Vou arrancar seu olho na mordida. Eu não vou só te espancar, vou te arrancar os pedaços", diz o militar em um trecho da conversa com uma vítima.
Em outro momento, Ronie diz para a mesma pessoa: "Se amanhã você me der sua vida, não me serve". Já em outra conversa, o militar sugere que a vítima roube alguém ou cometa suicídio para pagar uma dívida de R$ 800 mensais (ouça abaixo).
"Se você estivesse vigiando carro no meio da rua, você ganhava [dinheiro]". "Rouba um ou vai para o quarto e se mata", diz o militar em um dos áudios enviado à vítima.
Ronie e outras seis pessoas foram alvos da operação S.O.S Malibu, deflagrada pela Polícia Civil em 16 de novembro. A suspeita é de que o grupo tenha movimentado R$ 8 milhões nos últimos seis meses, emprestando dinheiro e extorquindo vítimas.
Ainda segundo a Polícia Civil, participantes do esquema movimentaram quantia milionária dentro da PM (veja mais abaixo). A defesa do sargento disse que "é prematuro tecer esclarecimentos" sobre o caso, porque não teve acesso ao pedido de prisão preventiva do militar.
Em nota, a Polícia Militar afirmou que os fatos estão sendo apurados e que a corporação "não tolera qualquer tipo de desvio de conduta de seus integrantes".
O sargento detido, apesar de receber salário líquido de pouco mais de R$ 8 mil na corporação, levava uma vida de luxo com carros caros e em viagens nacionais e internacionais. Entretanto, segundo a investigação, para garantir a fonte de renda paralela, ele ameaçava vítimas de forma violenta.
Vídeos feitos pela Polícia Civil, com autorização da Justiça, mostram integrantes do grupo sacando dinheiro em um banco de Taguatinga, em 23 de setembro. Quem aparece nas imagens é a nutricionista Raiane Gonçalves, apontada como operadora financeira do esquema.
As imagens mostram que ela entra na agência com uma bolsa marrom pendurada no ombro. Segundo a investigação, a mulher sacou R$ 800 mil, colocou no compartimento e entregou para um homem, que também seria participante do esquema.
Raiane e esse homem se separam na saída do banco e, no mesmo dia, voltam a se encontrar no Centro de Altos Estudos e Aperfeiçoamento da Polícia Militar. De acordo com a Polícia Civil, no batalhão da corporação, Raiane pegou a bolsa com o dinheiro, que seria usado no esquema.
Segundo a defesa de Raiane, os saques feitos pela nutricionista foram usados para "pagamentos diversos" e que os comprovantes estão à disposição da Justiça.
De acordo com a Polícia Civil, Ronie tinha pelo menos quatro carros de luxo, avaliados em R$ 3 milhões. Os veículos foram apreendidos durante a operação.
Nas redes sociais, o sargento, que se identifica como "Ronie Malibu", faz questão de mostrar os bens. Além dos veículos de luxo, viagens para destinos como China e Dubai estão expostos na galeria virtual.
Ronie postou uma foto nas Ilhas Maldivas, considerado um dos destinos mais caros do mundo. "Sempre de braços abertos para receber as bênçãos de Deus, muita gratidão por tudo", diz a legenda da foto.
O militar também publicou imagens de passeios em moto aquática e em avião particular. Registros de Ronie em restaurantes, praias e em embarcações também compõem o mural de fotos do sargento.
A Operação S.O.S Malibu foi deflagra em 16 de novembro pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) da Polícia Civil do DF. Ao todo, foram 15 mandados judiciais expedidos e cumpridos em Vicente Pires, Taguatinga e São Paulo (SP).
A polícia acredita que as sete pessoas investigadas emprestavam dinheiro a terceiros com juros superiores aos permitidos por lei, e cobravam os valores mediante "grave ameaça". Seis suspeitos foram presos e um está foragido em São Paulo (SP).
Além das prisões e da apreensão dos quatro veículos, a Justiça determinou o bloqueio de sete contas bancárias, de pessoas físicas e jurídicas. A Polícia Civil afirma que o esquema de agiotagem contava com integrantes da família de Ronie, o militar.
O pai e o irmão do sargento estão entre os detidos. Eles seriam responsáveis por emprestar os valores e cobrar dos endividados. "Em algumas situações, eles tomavam veículos e exigiam transferência de imóveis das vítimas", diz a polícia.
Ainda de acordo com as investigações, o pai de Ronie é dono de uma distribuidora de bebidas que funcionava de fachada para os crimes de agiotagem.
"Existe a suspeita de que essa distribuidora era usada para lavagem de dinheiro. A movimentação da empresa está acima da capacidade dela", disse ao g1 o delegado Fernando Cocito.
Os outros cinco investigados eram "operadores financeiros", que faziam transações e saques em contas de empresas de fachada, para "dar uma aparência lícita aos valores oriundos da agiotagem". Desses, três eram responsáveis pela ocultação do dinheiro e, conforme a polícia, cediam os nomes para registro dos veículos de luxo, cujo dono era o sargento.