A investigação do Ministério Público do Rio (MPRJ) que culminou na Operação Naufrágio descobriu que um homem suspeito de integrar a milícia da Praça Seca frequentava delegacias, usava uniforme da polícia, participava de operações policiais e reuniões com agentes sobre investigações, circulava pela cidade em viaturas oficiais, tinha acesso a armas e munições apreendidas e até fazia buscas nos sistemas internos da Polícia Civil — tudo isso sem nunca ter sido policial.
Segundo a denúncia elaborada pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e encaminhada à Justiça, Luiz Ricardo Barreira da Cruz, o Russo, atuava como intermediário entre o grupo paramilitar e policiais civis de várias delegacias com o objetivo de impedir investigações contra a quadrilha e prisões de seus integrantes e viabilizar pagamentos de propina. Russo teve a prisão decretada pela Justiça e está foragido.
Mensagens obtidas pelo MPRJ mostram que Cruz era um interlocutor frequente de Wagner Evaristo da Silva Junior, o Junior Play, que era chefe da milícia até ser morto em setembro do ano passado. Num dos diálogos, em 27 de janeiro de 2022, Silva Junior perguntou a Russo se havia alguma investigação contra ele em andamento na 33ª DP (Realengo), pois viaturas da unidade estariam circulando na área dominada pela quadrilha. O comparsa respondeu que "não tem nada, nenhum inquérito policial" e ainda acrescentou que ele "abriu o portal e não constatou" — segundo o MPRJ, ele mencionava uma ferramenta interna de busca das forças de segurança do Rio.