Foi após o pedido de socorro que moradores gravaram o momento em que homem bate no filho e enviaram o áudio à polícia.
Um adolescente de 14 anos escreveu uma carta contando aos vizinhos que era agredido pelo pai por ser homossexual e pedindo ajuda, em Jataí, no sudoeste goiano. Foi após o pedido de socorro que os moradores gravaram o momento em que o homem bate no filho e enviaram o áudio à Polícia Civil.
“Já sentiu a sensação de que você não presta para ninguém? Estou sentindo isso. Está doendo muito aqui dentro. Me ajuda, por favor. Não aguento mais. Estou no maior desespero da minha vida”, escreveu.
Por não ter a identidade divulgada, não foi possível o contato da defesa do suspeito. Ele negou à Polícia Civil que o motivo da agressão tenha sido a orientação sexual do menino.
“Ele disse que não se importa, que aceita e já tinha conversado com o adolescente, mas o pegou acessando vídeos pornográficos pelo celular e não controlou a raiva”, disse a delegada responsável pelo caso, Paula Daniela Ruza.
De acordo com a investigadora, policiais foram até o local após a denúncia, na última quarta-feira (5), e confirmaram que o menino tinha escoriações pelo corpo. No áudio que a corporação recebeu é possível ouvir o adolescente apanhando enquanto o homem o ameaça.
“Eu estou cansado de te falar. Eu já não falei para você mudar? Você tem que mudar, você sabe por quê? Porque se você não mudar, eu te mato, eu te arrebento”, diz o homem na gravação.
Uma vizinha, que preferiu não se identificar, disse que sempre ouvia os gritos do menino. “A gente escutava ele gritando. Pedindo socorro. Para a gente que é mãe é difícil ver uma situação dessa”, relata a moradora.
A mãe falou à Policia Civil que estava ciente das agressões porque o menino “tem tendência à homossexualidade”. Além dos pais e do menino, duas irmãs mais novas do adolescente estavam em casa no momento da briga.
O homem, que não tinha passagens pela polícia, assinou um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por lesão corporal e foi liberado. A delegada diz que o próximo passo da investigação é ouvir os vizinhos e analisar o conteúdo da carta.
Segundo a investigadora, ele poderá responder por lesão corporal, ameaça e violência doméstica. Questionada se o ato se enquadra como conduta homofóbica, que é igualada ao crime de racismo no Código Penal Brasileiro, Paula afirma que ainda é cedo para confirmar.
“A princípio não foi colocado nesse crime. Se durante a investigação comprovar que foi isso, ele pode responder por um crime mais grave”, afirma.
O Conselho Tutelar de Jataí foi acionado e informou que já recebeu outras denúncias de agressão na residência, mas, quando a equipe foi ao local, o menino não teria confirmado que apanhou do pai. Após a última ocorrência, o adolescente passou por exame de corpo de delito, foi levado para a casa de uma tia e passará por acompanhamento psicológico.