Presidiário estava internado em centro hospitalar na capital desde o início de abril; ele estava preso havia 40 anos
O presidiário José Márcio Felício, 60, o Geleião, um dos principais fundadores da facção criminosa PCC, morreu na manhã desta segunda-feira (10) no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário, na capital paulista, após complicações decorrentes da Covid-19.
Ele era o último dos fundadores do grupo ainda vivo e, desde 2002, havia se tornado inimigo da facção liderada atualmente, segundo a polícia, por Marco Camacho, o Marcola.
Felício estava no sistema prisional havia mais de 40 anos, por diferentes condenações, incluindo crimes cometidos no cárcere. Ele, que era hipertenso, foi internado no centro da capital em 9 de abril após ter comprometimento pulmonar de 50%. O quadro, que inspirava cuidados, se agravou; ele foi intubado, mas acabou morrendo às 6h30.
Segundo dados da Secretaria da Administração Penitenciária, até a última sexta-feira (7) 50 presos haviam morrido após complicações da Covid-19. Já entre os funcionários, a quantidade deóbitos era quase o dobro: 99 vítimas. O sistema paulista tem atualmente cerca de 212 mil presos.
A transferência de Felício para que recebesse tratamento contra a Covid-19 ocorreu sob forte esquema de segurança policial, por equipes do Baep (ações especiais), porque o criminoso era jurado de morte pela cúpula da facção, desde ter sido expulso da quadrilha, em 2002, e desde então vinha sendo caçado.
O PCC chegou a contratar rivais para matá-lo, quando ele esteve no presídio federal de Campo Grande (MS). Uma das tentativas, interceptadas pelos serviços de inteligência do governo paulista, aconteceria quando ele se encontrava na enfermaria do presídio.
Antes de sua transferência para o hospital, Felício cumpria pena em Iaras, interior de São Paulo (285 km da capital), unidade penitenciária destinada a abrigar a pessoas ameaçadas de morte no sistema prisional, como condenados por crimes sexuais, pedófilos e estupradores.
De acordo com integrantes do Ministério Público e da Polícia Civil, a expulsão de Felício coincidiu com a ascensão ao poder de Marcola, atualmente na Penitenciária Federal de Brasília.
Depois de ser expulso do PCC, Geleião fundou outra facção criminosa, o TCC (Terceiro Comando da Capital), com César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, outro ex-fundador do PCC e morto por companheiros de prisão em 2006.
De acordo com o procurador Márcio Sérgio Christino, autor do livro “Laços de Sangue – A História Secreta do PCC”, Geleião foi um dos principais chefes do PCC e, depois de expulso, contribuiu para a condenação de Marcola, ao revelar os bastidores da facção.
“Ele foi o idealizador e principal criador do PCC, sigla que ele inventou”, disse Christino à Folha quando da internação de Felício. “Carismático, inteligente, fisicamente intimidante (quase 1,90), foi preso logo após completar a maioridade”, frisou. Ainda segundo o procurador, a delação premiada de Felício foi a primeira de que se tem notícia, colhida “quando uma legislação precária mal tinha sido criada”.