Juan Francisco Valle diz ser treinado para 'quase qualquer situação' no mar, mas nunca viu nada igual a 'maré humana de centenas de pessoas desesperadas' que ajudou a salvar nos últimos dias.
“Estava gelado, frio, não se mexia”, diz, emocionado, o guarda-civil Juan Francisco Valle, de 41 anos, ao se lembrar do bebê de poucos meses que resgatou das águas na terça-feira (18), durante o salvamento de um grupo que tentava migrar, a nado, de Marrocos até o enclave espanhol de Ceuta.
A imagem de Valle segurando o bebê (veja acima), visivelmente pálido e inerte, gerou comoção mundial. Segundo o jornal “El País”, a criança está bem, mas não foi divulgado se é uma menina ou menino.
Guarda-civil há 12 anos e membro do Grupo Especial de Atividades Subaquáticas, Valle diz que foi treinado para enfrentar “quase qualquer situação” no mar, mas que nunca viu nada parecido com o que tem acontecido nos últimos dias, “uma maré humana” como esta, de “centenas de pessoas desesperadas”.
Ele e seus colegas não conseguem calcular quantas pessoas tiraram das águas desde a madrugada de segunda-feira. Segundo seus cálculos, não conseguiram dormir mais do que dez horas desde a noite de domingo.
“Nosso trabalho normal consiste em resgatar os corpos dos mortos nas águas, sejam eles do mar, de um pântano ou de um rio. Mas desta vez tivemos que resgatar pessoas vivas, de todas as idades, em todas as condições, e decidir entre tantas pessoas na água quem precisava de nossa ajuda com mais urgência”, ressalta.
Enclaves espanhóis cobiçados pelo Marrocos, as cidades portuárias de Ceuta e Melilla configuram as únicas fronteiras terrestres entre a União Europeia e a África, muito procuradas como rota de imigração. Oito mil pessoas -- que equivalem a 10% da população de Ceuta -- alcançaram num só dia, duas de suas praias, desencadeando a mais grave crise diplomática das últimas duas décadas entre Espanha e Marrocos – como explica a colunista Sandra Cohen.
O primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez disse que 4.800 dos mais de 8 mil migrantes que entraram em Ceuta nos últimos dois dias foram enviados de volta, e as forças de segurança de ambos os lados intervieram para impedir a passagem de mais pessoas.