Entre a tristeza pela perda de mais de 6,7 mil pessoas e a esperança com história inspiradoras, o G1 Goiás lembra os principais fatos deste ano relacionados à Covid-19 no estado.
Coronavírus em Goiás: repatriados da China; Maguito Vilela e Cauan Máximo internados; e pedidos de isolamento — Foto: Montagem/G1
Assim como em todo mundo, a pandemia de coronavírus foi o principal assunto do ano em Goiás. O estado teve seus primeiros casos confirmados em março, mas atraiu os holofotes para a Covid-19 ainda no mês anterior. A Base Aérea de Anápolis, a 55 km de Goiânia, foi escolhida para receber os brasileiros repatriados de Whuan, na China, epicentro do surto naquela ocasião.
Esses e outros fatos estão nesta retrospectiva feita pelo G1 sobre as consequências em Goiás da pandemia. Mês a mês, um resumo do que aconteceu de mais importante sobre o assunto no estado.
Em meio às mortes - atualmente mais de 6,7 mil - de famosos e anônimos, fechamento do comércio, medidas de isolamento e cancelamentos de grandes eventos, a pandemia impôs mudanças. O setor artístico, por exemplo, inovou e passou a realizar "lives", que são shows transmitidos ao vivo pela internet, gerando milhões de visualizações.
Em janeiro, o coronavírus ainda era uma ameaça silenciosa e parecia uma realidade distante de Goiás, do Brasil e de boa parte do mundo. Ainda no fim de 2019, a Organização Mundial da Saúde emitiu um alerta sobre uma "misteriosa pneumonia" na China. A primeira morte confirmada ocorreu em 9 de janeiro, em Whuan. A vítima era um idoso de 61 anos. No final do mês, os casos começaram a crescer de forma descontrolada, chamando atenção das autoridades.
No início de fevereiro, quando o coronavírus já causava medo e incertezas, um apelo de brasileiros residentes em Wuhan - epicentro do surto - fez com que o governo federal anunciasse uma operação para trazê-los de volta ao Brasil. No dia 4, a Base Aérea de Anápolis foi escolhida para recebê-los para um isolamento de 18 dias.
O local foi preparado exclusivamente para receber o grupo, composto por 34 passageiros e 24 integrantes da equipe de apoio. Os dois aviões vindos da China pousaram em Anápolis no dia 9 de fevereiro. No período em que estiveram no complexo, nenhum deles testou positivo.
No dia 27, o Ministério da Saúde informou que investigava três casos suspeitos no estado.
No dia 12, o governador Ronaldo Caiado (DEM) anunciou os três primeiros casos confirmados de coronavírus em Goiás. Quatorze dias depois, houve a primeira morte pela contaminação, uma idosa de 66 anos que morava em Luziânia, no Entorno do Distrito Federal.
No intervalo entre a confirmação dos casos e a primeira morte, no dia 15 de março, as aulas presenciais foram suspensas. Lojas, bares e boates também fecharam. A tradicional Pecuária de Goiânia foi cancelada. Naquela altura, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia declarado pandemia.
Principais cidades turísticas do estado, Caldas Novas e Pirenópolis proibiram atividades e fecharam acessos a clubes e cachoeiras. Vários outros municípios bloquearam os acessos como forma de evitar a disseminação do vírus.
Sem os shows, a classe artística precisou se reinventar. O cantor Gustavo Lima teve a ideia de realizar uma live que teve cerca de 10 milhões de visualizações durante as cinco horas de apresentação.
Na esteira da nova forma de apresentação, Jorge e Mateus também fizeram uma live assistida por 3 milhões de pessoas simultaneamente. O sucesso se repetiu com a live da cantora Marília Mendonça, que inovou e fez questão de colocar intérpretes de libras. O vídeo do show dela já possuía, até 27 de dezembro, mais de 55 milhões de visualizações.
Por outro lado, em abril, anunciaram que a Romaria do Divino Pai Eterno, maior festa religiosa de Goiás, realizada em Trindade, tinha sido cancelada por causa da pandemia.
Apesar do aumento dos casos de coronavírus, boa parte da população começou a ignorar o perigo. Uma pesquisa feita na época constatou que Goiás tinha o menor índice de isolamento de todo o país, com apenas 37,44% das pessoas obedecendo às restrições e ficando dentro de casa.
Os profissionais de saúde, que precisavam trabalhar para atender aos doentes, batiam insistentemente neste ponto, reforçando a necessidade de isolamento. Alguns acabaram sendo vítimas do mal que tanto combatiam, como o médio Emivaldo Martins, de 63 anos. Dias antes de morrer, ele havia feito uma foto com colegas pedindo, justamente, que as pessoas evitassem sair de casa desnecessariamente.
À medida que a pandemia avançava, a estrutura de atendimento médico precisava aumentar. O presidente Jair Bolsonaro inaugurou em Goiás o primeiro hospital de campanha federal. Ao chegar para o evento, levou um tombo logo após descer do helicóptero.
Os apelos para manter o isolamento vinham de todos os lados. Desde uma médica que viralizou na internet ao postar "continue dando festa que eu te vejo no meu plantão" até um idoso que pichou a casa avisando que não queria visitas para preservar a mãe, de 87 anos.
Mesmo assim, havia quem queria desafiar o risco de ser infectado pelo coronavírus. Em Caldas Novas, a polícia precisou encerrar uma festa que teve até show do sertanejo Bruno, da dupla com Marrone. A influenciadora digital Lisa Paulino viralizou nas redes sociais após ser questionada sobre ir a uma festa em plena pandemia e responder que "não conhecia ninguém" que tivesse sido infectado. Depois da repercussão e da perda de vários contratos, ela gravou um vídeo pedindo desculpas.
No final de junho, após meses de comércio fechado, a Prefeitura de Goiânia liberou a reabertura de shoppings e do comércio varejista, ainda que com algumas mudanças, assim como a Região da 44.
Julho foi marcado por notícias sobre perdas dolorosas em famílias, como a mãe que morreu de Covid-19 antes mesmo de conhecer a filha bebê e o caso do ex-vice-prefeito de Cristalina, do filho e da sogra dele, que perderam a luta contra a doença num intervalo de três dias.
Enquanto um vereador foi filmado com várias pessoas em uma festa junina gritando "viva o coronavírus", a pequena Beatriz Cottini, de 7 anos, encantou com sua pureza e cuidado para evitar a Covid-19. A menina, que tem síndrome de Down, pôde abraçar os pais depois que eles ficaram 20 dias afastados por causa da doença. Antes, perguntou para se certificar da cura: "É verdade?".
Durante boa parte do mês, os brasileiros acompanharam a saga do sertanejo Cauan, da dupla com Cleber, contra a doença. Ele foi internado e três dias depois foi levado para um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em um hospital de Goiânia. Chegou a ficar com 70% das funções pulmonares comprometidas, mas conseguiu se curar. Os pais e um dos irmãos também foram acometidos pela doença.
Também em agosto, a professora Camila Graciano, de 31 anos, grávida de 8 meses, morreu em Anápolis por causa da Covid-19. O bebê nasceu após um parto induzido e sobreviveu. A família acredita que ela tenha sido infectada durante um chá de fraldas realizado para ela por colegas de trabalho.
A pandemia obrigou a Prefeitura de Goiânia a cancelar o tradicional desfile cívico do feriado de 7 de setembro, que costumava reunir cerca de 10 mil pessoas.
Ao longo do mês, profissionais da segurança pública e da saúde perderam a batalha para a doença: os policiais militares Hrillner Braga Ananias, tenente-coronel, e Cláudia Pereira Barbosa de Oliveira, sargento, além do pneumologista Cristovam Guilherme Nunes de Alvarenga Filho.
O então candidato a prefeito de Goiânia - posteriormente eleito - Maguito Vilela (MDB) começava a travar uma luta pela vida e contra a Covid-19. Após testar positivo para a doença, ainda na campanha, viu seu quadro piorar. Foi para a UTI, teve de ser transferido para São Paulo e segue sedado desde então.
Ainda em outubro, quase 30 escolas particulares conseguiram na Justiça o direito de reabrir as portas para aulas presenciais, desde que obedecessem a uma série de regras.
Alguns políticos do interior do estado acabaram morrendo por conta do coronavírus. Perderam a vida o prefeito de Jussara, Wilson Santos; o prefeito eleito de Itaguaru, Didi Filgueira - um dia após a eleição; e o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia Sebastião Viana.
O governo estadual liberou a volta das aulas presenciais nas escolas públicas. O retorno, entretanto, não ocorreu em 2020, pois depende do aval da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), que não autorizou a retomada.
O ano chega ao fim com a esperança de que a vacinação contra a Covid-19 possa ocorrer o quanto antes. Alguns imunizantes, como o da Pfizer, já estão sendo utilizado em alguns países, mas ainda não obtiveram autorização no Brasil. O secretário estadual de Saúde, Ismael Alexandrino, diz que pretender vacinar metade da população em 2021.
Enquanto aguarda, a população vê um embate do governador Ronaldo Caiado com governador de São Paulo, João Dória (PSDB). O democrata disse que o fato de o tucano estipular um prazo para a vacinação é uma "atitude mesquinha". Caiado afirmou ainda que não comprará vacinas contra Covid-19 por conta própria e vai seguir calendário do Ministério da Saúde.
Para fechar 2020, uma história inspiradora: o professor Marcos Araújo se curou da Covid-19 após ser tratado por um médico a quem concedeu uma bolsa de estudos, vários anos antes, em Goiânia. Wallace Pinheiro disse que o ato foi uma forma de agradecê-lo pela oportunidade dada e também cumprir uma promessa: salvar vidas.