Samuel Santos da Silva chegou a fazer o 1º período, mas teve que trancar a faculdade por não ter dinheiro para pagar a mensalidade de mais de R$ 1 mil.
Os juízes Afonso José de Andrade e Wagner de Oliveira Cavalieri (à esq), Samuel e o pai dele, José Inácio Gomes — Foto: Samuel Santos da Silva/Arquivo pessoal
Depois de passar seis meses estudando sociologia, filosofia e introdução ao estudo do direito na PUC Minas, Samuel Santos da Silva conseguiu um emprego de faxineiro no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“Eu pensava ‘eu vou entrar lá, nem que seja pela vassoura’”, disse ele.
Semanas depois de começar a trabalhar na faxina, Samuel acabou participando de uma conversa informal sobre questões do direito com o juiz Wagner Cavalieri, da Vara de Execuções Criminais, que costumava promover estes pequenos debates ao parar para um café. Pouco depois, o magistrado decidiu, junto com outros colegas, a bancar a faculdade do rapaz.
Samuel havia trancado o curso de direito após frequentar o 1º período, já que não tinha condições de pagar a mensalidade de mais de R$ 1 mil.
“Como eu tinha conseguido entrar pela nota do Enem, decidi que ia ficar pelo menos os primeiros seis meses. Depois seria o que Deus quisesse. Como eu estava desempregado e não consegui pagar a dívida, a faculdade trancou o curso. Isso acabou comigo”, contou Samuel.
Mas com o apadrinhamento dos magistrados do Fórum de Contagem que descobriram o interesse do então faxineiro pelo direito, ele conseguiu concluir o curso em cinco anos.
“Eu sempre tive esse sonho do direito. Já vendi picolé, fui servente de pedreiro, auxiliar administrativo. Eu tenho orgulho e uma gratidão imensa pelas pessoas que me ajudar a estudar”, disse Samuel, que também contou com a ajuda da família adotiva.
Samuel saiu de São Paulo rumo a Belo Horizonte ainda criança com a mãe biológica. Chegando na cidade, ele se perdeu, chegou dormir na rua e a passar fome. Ao reencontrar a mãe, seguiram para Contagem até a casa dos padrinhos de casamento dela.
Lá, eles perceberam que a mulher sofria de problemas mentais e decidiram cuidar de Samuel. Em seguida, ela desapareceu.
“Aí houve um processo de adoção. Meus familiares de São Paulo não quiseram saber de mim. Depois que saí de lá, nunca mais vi o meu pai. Então, minha família ficou sendo a adotiva”, disse Samuel.
O casal que o adotou, um marceneiro e uma faxineira, tinha outros 11 filhos. Apenas Samuel e uma irmã conseguiram se formar em uma faculdade. Anos depois, ele se reencontrou com a mãe biológica, hoje internada em uma casa de repouso.
Depois de se formar, ele fez pós-graduação na Universidade de São Paulo (USP) e hoje, acumula horas como estagiário na Procuradoria-Geral do Município de Contagem. O objetivo agora é prestar um concurso público para magistratura.
“Quando eu tive que trancar a faculdade, pensava, ‘meu Deus, eu só quero estudar’. E a ajuda veio. Eu tive que me empenhar para honrar essa confiança. Agora é melhorar sempre”, disse ele.