Cineasta, dramaturgo e ator se consagrou com filmes como "Todas as mulheres do mundo" e "Barata Ribeiro, 716" em quase seis décadas de carreira
Morreu, na tarde deste sábado (23), o cineasta Domingos Oliveira, aos 82 anos. Autor, diretor, dramaturgo e ator com vasta produção no cinema — são de sua autoria filmes como Todas as mulheres do mundo (1966), Separações (2002) e Barata Ribeiro, 716 (2016) —, o artista teve uma baixa de pressão em casa, seguida por intensa falta de ar.
De acordo com familiares, uma ambulância foi acionada, mas não houve tempo suficiente para que o problema fosse contornado pelos médicos. O velório acontece, ainda neste sábado, no Planetário da Gávea, na Zona Sul do Rio. Amigos preparam uma homenagem musical para a ocasião, com a reprodução de canções marcantes de peças e filmes com a assinatura de Domingos.
Com mais de 120 obras ao longo da carreira no teatro, no cinema e na TV, ele lançou em 2016 a autobiografia Vida minha (Record), com muitas páginas dedicadas às mulheres de sua vida, mas também a lances emocionantes, como a descoberta do mal de Parkinson, que o acompanhava há mais de duas décadas.
— Tentei fazer pelos anos. Ficou chatíssimo. Pelas obras. Não ia. Foi quando eu dividi por mulheres que começou a ficar interessante (dos 14 capítulos, sete são para ex-mulheres e a filha, sendo dois para a mulher, Priscilla Rozembaum) . Sou o que as mulheres que eu amei fizeram de mim — disse Domingos ao GLOBO à época do lançamento do livro.
O artista deixa a mulher Priscila Rozembaum, com quem esteve casado durante 38 anos, e quatro filhos — Maria Mariana, Daniele de Oliveira, Frederico de Oliveira e Igor de Oliveira.
Domingos Oliveira fez festa de três dias, aos 80 anosQuando completou 80 anos, em 2016, Domingos fez uma festa de três dias, com playlists com a trilha sonora de sua vida. O primeiro dia englobou os anos de 1936 a 1966; o segundo, de 1967 a 1996; e o terceiro, as últimas duas décadas. Com duas a três músicas representativas de cada ano, a playlist chegava a quase 12 horas. Na pista, eram acompanhadas quase sempre de vídeos, entre filmes de sua autoria, imagens de arquivo, clipes antigos ou cenas históricas do Brasil.
— A pior parte da vida são o princípio e o fim. A mocidade e a velhice — disse ele, à época. — Na mocidade você dispende muita energia para encontrar o seu lugar no mundo e não tem tempo de aproveitar a vida. Na velhice, o corpo vai embora, e tampouco dá para aproveitar direito. O melhor é o meio. Você já entendeu mais ou menos as coisas, não faz xixi na cama, não tem tantas culpas, e a vida fica uma delícia.
Antes de acumular as funções de escritor, ator, dramaturgo e cineasta dentro do universo artístico, Domingos se formou em Engenharia Elétrica, apesar de nunca ter trabalhado dentro dessa área. O primeiro flerte com as artes aconteceu ainda na infância, aos 12 anos, quando ingressou no grupo de teatro da escola e interpretou um cardeal português na peça “A ceia dos cardeiais”, de Júlio Dantas.
Mais tarde, dois anos após concluir a faculdade de Engenharia, matriculou-se num curso de teatro com um diretor americano recém chegado do Actor’s Studio, associação de atores profissionais, diretores de teatro e roteiristas em Nova York. Em seguida, em 1966, montou sua primeira peça de teatro “Somos todos do jardim de infância”, em espetáculo encenado na varanda do apartamento onde morava. Sucesso de crítica, a montagem lançou a atriz Leila Diniz, com quem Domingos era casado na época — mais à frente, a trama teatral seria adaptada para a TV, como parte do programa “Caso especial” (1972).
Fonte: Agência O Globo