Conta de Camila movimentou mais de R$ 2 milhões em apenas 9 meses, diz MP. Grupo teve mais de R$ 700 mil de lucro em uma única rodada
Camila Silva da Motta é mulher e parceria de Bruno Lopez no esquema de manipulação de apostas em jugos de futebol. Ela recebia dinheiro dos financiadores do grupo e fazia pagamentos aos atletas aliciados.
Em um áudio a que o Fantástico teve acesso, Camila afirma que os investigadores não a têm como alvo direto --o que não procede, de acordo com a apuração da reportagem.
"Eu sou esposa do Bruno, trabalhei efetivamente com minha conta, enfim. (...) Eu, por exemplo, Camila. Estou na investigação, e tudo mais. Mas não estão em cima de mim", diz ela.
Camila foi denunciada pelo Ministério Público de Goiás. Em entrevista ao programa, na semana passada, o promotor responsável pelo caso disse que as investigações continuam. "Há outras partidas a serem analisadas. Ainda há farto material probatório de conversas nos celulares que estão sendo periciados", diz Fernando Cesconetto, promotor de justiça.
De acordo com o MP, no ano passado, a conta de Camila movimentou mais de R$ 2 milhões em apenas 9 meses. Parte do dinheiro arrecadado com as fraudes nas apostas, Bruno e Camila usaram com viagens e na compra de um carro importado. Os dois gostavam de registrar os luxos em suas redes sociais.
Nas conversas apreendidas, um grupo de mensagens batizado de "Operação FDS" chamou muito a atenção. Num print, Bruno diz que cinco jogadores estariam confirmados e que cada aposta com os lances combinados poderia ter um retorno de R$ 43 mil. No escritório, Bruno usava computadores para repetir a aposta fraudada várias vezes e multiplicar o lucro.
Apostas realizadas no início de setembro de 2022 traziam jogos da 25ª rodada da primeira divisão do Campeonato Brasileiro e trouxeram ao grupo um lucro de mais de R$ 700 mil.
O esquema contava que cinco jogadores receberiam cartão amarelo: Alef Manga e Diego Porfírio, do Coritiba, que enfrentava o América Mineiro; Vitor Mendes, do Juventude, na partida contra o Avaí; Nino Paraíba, do Ceará, que jogava contra o Flamengo; e Bryan Garcia, do Athletico Paranaense.
O quinto atleta, Bryan, foi o que teve o maior desafio para cumprir o combinado. Entrou em campo aos 42 minutos do segundo tempo, e mesmo assim conseguiu tomar seu cartão.
"Até chorei de felicidade. Você é louco. Que peso que eu estava nas costas, que esse maluco não tomava [o cartão amarelo]", diz Bruno, o responsável por aliciar os atletas.
Os cinco jogadores que participaram de lances mostrados no Fantástico já foram convocados para dar depoimento. Três deles, Nino Paraíba, Bryan Garcia e Diego Porfírio, falaram com os promotores na última sexta-feira (19); dois reconheceram participação na fraude. A expectativa do MP é que os três façam acordo.
"Para que haja o acordo de não persecução penal, a condição principal é que haja confissão e reconhecimento da prática do crime", diz o promotor. Como ainda há uma negociação em curso, o MP não quis antecipar quais atletas já fizeram acordo. Alef Manga e Vitor Mendes também serão ouvidos.
Os cinco jogadores ainda não foram denunciados. Mas Alef Manga e Vitor Mendes foram suspensos pelos clubes onde jogam atualmente. Os contratos de Nino Paraíba e Bryan Garcia foram encerrados. Apenas Diego Porfírio, contratado pelo Guarani, segue no clube normalmente.
Por mensagem de texto, Diego afirmou que está colaborando com a Justiça e que tudo será passado a limpo em breve.
A defesa de Alef Manga alegou que, até o momento, o nome do jogador só aparece citado em conversas de terceiros. O Fantástico tentou contato com representantes dos outros três jogadores citados, mas não recebeu resposta.
Os financiadores do esquema também são alvos dessa etapa da investigação. Um dos suspeitos é William de Oliveira Souza, conhecido entre os apostadores como William McLaren, e que já foi denunciado. O Fantástico teve acesso ao depoimento dele; ali, a promotora afirma que ele estava sendo ouvido na qualidade de investigado.
Em um trecho, William afirma que emprestou dinheiro a Bruno Lopez, apontado como chefe do esquema. "Ano passado ele me pediu um aporte de mais ou menos R$ 63 mil. Minto, ele me pediu um pouco mais de R$ 100 mil", diz.
Ele negou ter conhecimento da manipulação de apostas e que só manteve contato com Bruno depois do empréstimo para tentar reaver o dinheiro. Mas, num áudio num grupo dos apostadores de fevereiro deste ano, ele se oferece para criar 100 contas em sites de apostas.
Questionado pela promotora, William disse que foi um "modo de falar" usado para cobrar o pagamento.
O suspeito de financiar o esquema ilegal também foi questionado sobre sua relação com Camila a mulher e parceira de Bruno nas fraudes, e confirmou que havia sido no nome dela o depósito da quantia pedida por Bruno.
Procurado pela reportagem, o advogado de William de Oliveira disse que não iria fazer qualquer declaração. O Fantástico também tentou contato com a defesa de Camila e Bruno, mas não houve retorno.