O agora ex-agente, que era lotado na Deic, recebeu pelo menos R$ 50 mil da extorsão praticada contra o religioso. Ele foi demitido da corporação após processo administrativo
Policial civil em 2019, Elivaldo Monteiro de Araújo agiu em conluio com os outros quatro acusados para extorquir o padre Robson de Oliveira, então gestor da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). Segundo apontam os autos condenatórios de 2019, o agora ex-agente, que era lotado na Delegacia Especializada em Investigação Criminal (Deic), recebeu pelo menos R$ 50 mil da extorsão praticada contra o religioso. Ele foi condenado a cinco anos de reclusão e foi demitido da corporação após processo administrativo.
Os policiais civis, que já investigavam o caso na época, conseguiram localizar Elivaldo e passaram a rastrear o veículo dele. O policial apontado no episódio de extorsão foi sócio de Welton Ferreira Nunes, condenado por ser o autor intelectual e principal agente do crime contra o padre Robson. Elivaldo foi responsável, conforme apontam os autos, por buscar R$ 50 mil semanalmente, fruto da extorsão, por sete vezes, no Shopping Cerrado, no Setor Aeroviário, em Goiânia.
Para buscar os espólios, Elivaldo interrompia seu plantão na delegacia sempre às segundas-feiras. No local, ele deixava uma caminhonete estacionada com os vidros abertos e se afastava. O policial civil ficava entre as pilastras observando o veículo, até que outra caminhonete, de funcionários da Afipe, depositava os envelopes no veículo aberto. Elivaldo, então, saía do estabelecimento e repassava o dinheiro para Leidina Alves Bessa, mãe de Welton.
Welton e Túlio Cézar Pereira foram apontados pela Justiça como responsáveis por ameaçar o padre Robson. Eles disseram que a vítima [Robson] teria tido relacionamento amoroso com Welton. Assim, eles teriam invadido o celular do religioso, obtido dados e criado “mídias comprometedoras”, além de terem utilizado de perfis falsos para ameaçar que exporia padre Robson caso não fizesse os pagamentos exigidos.
O crime foi consumado por cinco vezes. Em uma das ocasiões, o padre chegou a usar R$ 2 milhões do dinheiro doado pelos fiéis para pagar a extorsão. Ainda assim, os acusados continuavam com a prática do crime.
Leidina, mãe de Welton, foi considerada a “gerente” do esquema criminoso. Segundo apontam os autos, era ela quem administrava a abertura de contas e transferências de valores dos envolvidos na extorsão.
Na ocasião, o padre Robson chegou a ser orientado pela polícia a não depositar dinheiro aos criminosos, mas ele estava “muito nervoso” e “deixando suas atividades como padre embaraçadas, no sentido de gravação de programa de televisão”. Então, resolveu fazer outras transferências enquanto as investigações estavam encaminhadas.
Em um dos casos, Deusmar Gonçalves Bessa, tio de Welton, teria ido à casa do padre Robson para receber R$ 700 mil que ele havia fingido concordar pagar (as investigações já ocorriam na ocasião). Ele já tinha recebido, de forma fracionada, depósitos que chegaram ao valor final de R$ 80 mil.
O episódio de extorsão culminou na investigação das movimentações financeiras da Associação Filhos do Pai Eterno, por parte do Ministério Público de Goiás (MP-GO). Os promotores levantaram movimentações financeiras consideradas atípicas, como triangulações, abertura de diversos CNJPs, pagamentos em espécie, uso de pessoas sem condições financeiras, entre outros. Em 10 anos, o MP-GO estima que a entidade tenha movimentado R$ 2,2 bilhões.
Na última sexta-feira (21), a Associação Filhos do Pai Eterno foi alvo de mandados de busca e apreensão durante a Operação Vendilhões. Padre Robson foi suspenso de suas funções eclesiásticas e como reitor da Basílica de Trindade.
Eduardo Pinheiro - Mais Goiás