Homem de 57 anos foi preso e é investigado pelo crime de estupro. Ao todo, três pessoas denunciaram o suspeito pelos crimes sexuais
Thais Nobre, que denunciou ter sido abusada por pai de psicóloga, em Leopoldo de Bulhões — Foto: Arquivo pessoal/Thais Nobre
Uma das duas mulheres que denunciaram terem sido abusadas pelo pai da psicóloga que foi preso suspeito de estuprar uma adolescente que tratava um transtorno mental com a profissional contou que o crime aconteceu durante a infância dela. A reportagem, Thais Nobre, que atualmente tem 26 anos, relembrou o terror que viveu, aos 12, enquanto brincava com a amiga, que hoje é psicóloga, e com o pai dela, de 57 anos, preso suspeito do crime.
"Fiquei com muito medo, muita vergonha [...]. Me senti muito culpada por algo que eu nem tinha culpa", lamentou.
"Ele disse ele ia brincar com a gente, que ele seria o monstro e que ia correr atrás da gente em volta da casa e prender a gente em um corredor, que seria uma prisão, mas ele só corria atrás de mim", disse.
O homem foi preso na última quinta-feira (20) e vai responder pelo crime de estupro. Ao todo, três pessoas representaram contra ele até esta sexta-feira (28). A reportagem não localizou a defesa do suspeito até a última atualização desta reportagem.
Thais contou que o crime aconteceu em 2009. Na ocasião, por ser amiga da filha do suspeito e vizinha deles, ela disse que estava brincando com a menina na calçada. Em determinado momento, os pais dela precisaram ir até a casa dos avós e o homem se disponibilizou a cuidar da menina até que eles voltassem, para que ela continuasse a brincar com a filha dele.
"Ele estava na porta da casa dele sentado. Meu pai e minha mãe precisaram sair e era coisa rápida", relembrou.
"Ele falou que ia ficar cuidando da gente. Como estava 'de noitinha', ele disse para entrarmos que ele ia brincar com a gente", completou.
Durante a 'brincadeira', no entanto, Thais relembrou de, em determinado momento, ter sido encurralada em um corredor escuro junto com o suspeito.
"Ele me colocou contra a parede, ficou segurando minhas mãos, ficava se esfregando em mim e falou que se eu contasse a alguém iria fazer mal comigo", desabafou.
Thais contou que, ao conseguir se desvenciliar do suspeito, correu para o lado de fora da casa até que seus pais chegassem. Segundo ela, essa foi a última vez que ela esteve no local. Traumatizante, o abuso sofrido a fez passar a ter medo de sair de casa, passar por meses de terapia e até se mudar da cidade de Leopoldo de Bulhões pouco depois do ocorrido.
Mesmo anos após o ocorrido, a dificuldade em lidar com o trauma e a dor ainda são grandes, o que aumentam o desejo de justiça para que nenhuma outra menina ou jovem passem pelo que ela passou.
"Quero que ele nunca mais possa encostar em alguém", desejou Thais.
Os abusos vieram à tona a partir da denúncia de que o homem teria estuprado uma adolescente que tratava um transtorno mental com a psicóloga filha do suspeito.
A reportagem, a mãe da menina explicou que a filha apresentava sintomas de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) quando iniciou o tratamento com a psicóloga, em Leopoldo de Bulhões. As sessões foram encerradas porque a paciente e a terapeuta desenvolveram uma amizade.
"Ela [psicóloga] começou a pedir para minha filha ir à casa dela. Ela ia sempre, levava minha filha na sexta-feira e só a entregava na segunda-feira. Minha filha acabou ficando amiga e ficava de babá da filha dela, que tem um ano de idade", contou a mãe da menina.
A mãe da adolescente afirmou que os abusos ocorreram duas vezes, entre abril e maio. Na última vez, a filha decidiu contar a situação para a mãe. Após as duas relatarem a situação para a psicóloga, a profissional passou a pressionar a família para que não denunciasse à polícia, alegando que isso “acabaria com a sua carreira" e até ofereceu dinheiro para que a adolescente saísse da cidade.
Segundo a mãe da adolescente, um dos abusos foi cometido na frente da filha de um ano da psicóloga, que estava acordada e chorando. A mãe da menina disse ainda que estava em São Paulo acompanhando o tratamento do filho de oito anos que está com câncer. Nessas ocasiões, a adolescente costumava ficar aos cuidados de uma vizinha, mas que, como a psicóloga ligava para pedir autorização para ficar com a filha dela, ela permitia e confiava na profissional.
A reportagem entrou em contato com Conselho Regional de Psicologia (CRP) para pedir um posicionamento. No entanto, não houve retorno até a última atualização desta reportagem.
Segundo a mãe, a última visita da filha à casa psicóloga aconteceu como ocorria com frequência: a profissional ligou e perguntou se ela poderia ir até a casa dela cuidar da filha de um ano, que estava resfriada. A mãe permitiu que a adolescente fosse até a casa da mulher, localizada em Leopoldo de Bulhões, onde a família mora.
No entanto, a psicóloga levou a filha e a adolescente para ficarem sozinhas com o pai dela, em Anápolis. A delegacia informou ainda que o relato sobre a atuação da psicóloga em relação ao crime consta no inquérito. No entanto, a profissional ainda não é investigada por nenhum crime, pois não houve uma representação contra ela.
Além da adolescente, outras duas mulheres denunciaram crimes contra o suspeito. Entre elas, Thais Nobre. Segundo a Polícia Civil, os crimes aconteceram há mais de dez anos, quando as mulheres, hoje adultas, eram adolescentes, tendo entre 12 a 14 anos.
De acordo com a polícia, as duas novas vítimas que denunciaram o crime após a divulgação do crime contra a adolescente eram amigas das filhas do suspeito e frequentavam a casa dele na época em que foram abusadas, na cidade de Leopoldo de Bulhões.