Juíza argumenta que o processo é caso de interesse público e que não há mais necessidade de imposição de sigilo
A juíza considera que sigilo não preservaria a intimidade do Padre Robson, mas fomentaria a cruriosidade das pessoas, bem como maledicências (Foto: divulgação/Facebook)
A juíza Placidina Pires, da Vara de Feitos Relativos a Organizações Criminosas e Lavagem de Capitais de Goiânia, afastou o sigilo das investigações do caso da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), gerida pelo padre Robson de Oliveira, reitor da Basílica de Trindade. Ela argumenta que o processo é caso de interesse público e que, cumpridos os mandados judiciais, não há mais necessidade de imposição de sigilo para o bem do trabalho investigativo.
A magistrada considera que não há amparo legal para a imposição de sigilo às investigações tão somente para preservação da intimidade e imagem do padre Robson de Oliveira, por se tratar de uma autoridade religiosa. O próprio Ministério Público de Goiás, argumenta a juíza, afirmou que não há nos autos nada a respeito da intimidade ou da vida privada dos investigados.
A juíza Placidina Pires cita o artigo 23, da Lei 12.850/20132, para argumentar que deve prevalecer a publicidade do resultado das investigações. Com isso, a magistrada afirma que nem a defesa da intimidade dos investigados ou interesse social demandam a imposição de sigilo. Especialmente ao considerar que a Associação Filhos do Pai Eterno sobrevive de doações de fiéis e que, portanto, “devem prestar contas públicas da destinação dada às suas arrecadações”.
“A imposição de sigilo ao presente feito, no presente estágio das investigações em vez de preservar a intimidade da supracitada autoridade, pessoa de grande influência no meio religioso, fomentaria ainda mais a curiosidade das pessoas, até mesmo eventuais maledicências, sem, ao menos, possibilitar ao pároco qualquer defesa ou explicação perante a comunidade”, argumenta.
A Associação Filhos do Pai Eterno foi alvo de mandados de busca e apreensão na última sexta-feira (21) determinados pela mesma juíza Placidina Pires após pedido do Ministério Público, em decorrência de investigações financeiras consideradas suspeitas dentro da entidade com outras empresas de Trindade.
O padre Robson, que preside a entidade, foi afastado de suas funções no Santuário Basílica do Divino Pai Eterno e na Associação Filhos do Pai Eterno pela arquidiocese de Goiânia. Ele é investigado por suposta apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de documentos e sonegação fiscal.
A investigação teve início após episódio de extorsão no qual padre Robson foi alvo em março de 2019.
A defesa do Padre Robson nega que ele tenha desviado dinheiro de fiéis.