Brasileiro de 21 anos fez valer o favoritismo e chegou ao pódio nos 400m com barreiras no atletismo dos Jogos Olímpicos
Alison dos Santos foi um menino tímido na infância. O acidente com óleo quente, quando tinha dez meses de vida, deixou marcas - na pele e no psicológico. Mas aquele garoto instrospectivo encontrou no atletismo uma maneira de seguir em frente. E seguiu. Até a medalha de bronze nos 400m com barreiras nos Jogos Olímpicos de Tóquio, prova disputada na madrugada desta terça-feira (início da tarde no Japão).
Aos 21 anos, o 'Piu', como é conhecido, percorreu o trajeto na pista do Estádio Olímpico em 46.72s. À frente dele, apenas o norueguês Karsten Warholm, que fez a prova em 45.94s - recorde mundial. A prata ficou com o estadunidense Rai Benjamin (46.17s). Cumpriu-se o #PiuDay, hashtag utilizada nas redes sociais para incentivá-lo antes da prova.
Nascido em São Joaquim da Barra, interior de São Paulo, o brasileiro conquistou a primeira medalha brasileira no atletismo nos Jogos Olímpicos de Tóquio. Na raia 7, Piu ouviu incentivo das arquibancadas que ecoavam pelo suntuoso estádio com capacidade para 68 mil pessoas, mas que só receberam alguns jornalistas e atletas que não estavam competindo.
"Bora, Piu!", gritavam os poucos atletas-torcedores brasileiros presentes, enquanto outras provas se desenvolviam no local. E bastou. Piu buscou forças do apoio que teve e, muito concentrado, foi o primeiro a se ajeitar na raia e iniciar o aquecimento. Ao retornar para o ponto de partida, mostrou as palmas das mãos para os céus como se pedisse apoio divino para cumprir o sonho olímpico.
AVISA QUE É ELE! @PiuzeR é MEDALHA DE #BRONZE PARA O #BRA! Alison dos Santos é bronze olímpico nos 400m com barreiras! #Tokyo2020 👏👏👏 #Athletics #JogosOlimpicos pic.twitter.com/FWt0q5ZH2F
— Jogos Olímpicos (@JogosOlimpicos) August 3, 2021
Só depois do aquecimento é que Piu, enfim, respondeu aos gritos da arquibancada. Timidamente, fez um sinal com a mão direita e se direcionou, ao lado dos adversários, para a parte interna do estádio. E só voltou para fazer história.
Natural da cidade de São Joaquim da Barra, em São Paulo, Alison Brendom Alves dos Santos. Por ser muito alto mesmo jovem, chamou a atenção de professores de um projeto social do município paulista já aos 14 anos. Contudo, Alison se recusava a participar.
O garoto era tímido, muito por conta de uma cicatriz que carrega consigo por conta de um acidente doméstico quando criança - aos dez meses, uma panela de óleo de cozinha quente caiu sobre ele, o que impede o nascimento de cabelo em certos pontos da cabeça. Após insistência dos professores e de pessoas próximas, o modesto Alison, que já tinha seus 1,90m, aceitou dar início no atletismo.
Desde a primeira competição - no Centro Olímpico de São Paulo, quando correu com uma touca amarela por vergonha da cicatriz - até os Jogos Olímpicos, Piu teve um crescimento enorme. Entre 2014 e 2019, quando se firmou como atleta olímpico, Alison dos Santos se sagrou campeão dos Jogos Pan-Americano de Lima, em 2019, e foi sétimo colocado no Campeonato Mundial de Atletismo de Doha, também em 2019.