Profissional de Ribeirão Preto (SP) soma cerca de dois milhões de seguidores no Instagram e no TikTok com desenhos divertidos que viralizaram
Em um cenário de avanço constante da tecnologia, a ilustradora Rafaella Tuma, de Ribeirão Preto (SP), apostou em um conceito minimalista e acertou.
Com personagens feitos à moda antiga, sem muitos detalhes tecnológicos, embora com uso de softwares de computação em um processo que dura até nove horas, ela viralizou nas redes sociais ao dar vida a áudios engraçados da internet. Rafaella já tem cerca de 2 milhões de seguidores no Instagram e TikTok, entre eles famosos como o apresentador Marcos Mion e o humorista Fábio Porchat.
Um dos personagens é um menino que mistura a melodia de uma música religiosa com uma cantiga popular. O resultado é que um cordeirinho, Jesus pastor e uma barata mentirosa que tem uma perna só foram parar no mesmo desenho.
Rafaella também ilustrou um garotinho que “inventou” uma nova versão do hino nacional brasileiro com neologismos mais difíceis do que a letra original.
Outra personagem é a menina que se divide entre amar ou não a amiga Alice. Ela faz o convite para a garota brincar na casa dela, mas a condição é não descabelar as bonecas. A história termina entre elogios e adjetivos nem tão positivos assim.
“Entrei com os dois pés no peito, fazendo um monte, me dedicando até para isso. Dá para ver uma progressãozinha nos vídeos em termo de design, porém eu não queria perder o estilo minimalista. Quanto mais eu consigo tirar do personagem melhor. Se não precisa mostrar o pezinho, não vou mostrar o pezinho, vou colocar só dois risquinhos para mostrar o corpo. Não precisa mostrar a roupinha, só mostrar que ali existe o corpo. Então, quanto mais eu consigo tirar, melhor”, disse ao g1.
Nas últimas semanas, Rafaella viu a carreira, já consolidada como ilustradora de grandes marcas de diversos ramos no Brasil, guinar para o mundo do entretenimento, ainda não tão explorado, mas muito estudado e consumido por ela.
“Eu atirava para tudo quanto é lado, estava há muitos anos na internet, mas era um período que eu estava meio perdida em questão de conteúdo. Na hora que eu sentei, estudei, decidi, vi o que eu gostava, falei que era a fase da minha vida que eu ia trabalhar com entretenimento”.
O segundo passo para Rafaella foi descobrir como fazer entretenimento na web saindo do senso comum. Ela avaliou que gostava de consumir dublagens e vídeos de pessoas se filmando como se fossem outros personagens.
“Mas eu não me sentia confortável em eu fazendo isso. Não queria aparecer nesse ponto, mas eu gostava desse tipo de conteúdo, desses áudios virais. Queria fazer algo com eles”, conta.
A primeira aposta foi um trecho de um programa de TV sobre problemas em família. A história era de uma mulher que conheceu o namorado enquanto ele estava na prisão. A ilustração logo viralizou e até a apresentadora do programa começou a segui-la nas redes sociais.
“Enquanto eu estava fazendo eu gostei da ideia de simplificar, de deixar minimalista. Isso é uma coisa. E aí eu tenho a teoria, não é a voz da razão, mas uma coisa que suponho é que estourou porque eu entendo que esse design minimalista de vídeo já era uma tendência que estava para acontecer”, analisa Rafaella.
Para fazer os vídeos, Rafaella busca áudios virais na internet e também recebe sugestões dos seguidores, com áudios autorais. Essa modalidade se intensificou nos últimos dias diante do aumento de pessoas que passaram a buscar os perfis dela nas redes sociais.
Até agora, de acordo com a ilustradora, ninguém reclamou de ter o conteúdo retratado nas imagens.
Quando encontra ou recebe os áudios, a ilustradora primeiro avalia se o conteúdo é agressivo ou violento. Depois, passa a ver se é engraçado ao ponto de entreter as pessoas.
“Eu entendo que existem vários tipos de humor. Aquele humor ácido, humor agressivo, humor militante que está falando de alguma coisa importante, mas de uma forma engraçada, o humor debochado, o humor mais violento. Tem vários tipos de humor, mas eu tento filtrar aquele máximo que não limita ninguém. Não agressivo, não muito político, não violento. É para entreter mesmo. Único e exclusivamente para entretenimento”.
A ilustradora chegou a receber sugestões para fazer vídeos tristes, como maus-tratos a animais, por exemplo, mas não divulgou por considerar que o conteúdo não seguia a proposta que ela tem para a página dela.
“Eu tive que colocar qual é a missão. É como se fosse uma empresa. E a missão da empresa é levar um minutinho de respiro para quem está assistindo. Esse respiro é para realmente não precisar pensar em nada. É para não ser tenso, não ser pesado. É só um respiro”.
Rafaella ainda está assimilando o crescimento repentino no número de seguidores e no engajamento nos perfis dela nas redes socais na última semana.
Para conseguir atender a demanda de pedidos de orçamento, mensagens de elogios, precisou criar uma equipe de trabalho e passou a ser assessorada pela empresa do youtuber Felipe Neto, que também é responsável por gerenciar a carreira de outros famosos na internet, como o perfil pet Mada e Bica, e que recentemente fechou parceria com o narrador Galvão Bueno.
Isso fez com que as animações que viralizaram, antes feitas em nove horas, tivessem o tempo de produção reduzido pela metade.
“Parece que faz um mês porque já aconteceram tantas coisas boas, ruins, problemas. Já aconteceu tanta coisa. Eu consegui uma assessoria e isso já diminui muito meu trabalho que eu estava em ficar vendo mensagem, vendo orçamento, filtrando proposta. Isso já vai me tirar muitas horas de trabalho por dia. Tirando isso tem assessoria jurídica, outras coisas. Consegui trazer meu marido para trabalhar comigo. Ele também é animador, mas tinha o trabalho dele. Agora consegui trazer ele e consegui produzir duas vezes mais”.
Agora, Rafaella estuda se vai seguir somente com o trabalho focado na internet ou se vai agregar, também, os outros serviços que já fazia para os clientes antes do boom nas redes sociais.
A ilustradora também revelou que já foi procurada por artistas para produções de desenhos para clipes com o novo estilo minimalista que adotou, mas as propostas ainda estão em negociação.
“Eu ainda estou entendendo como estou juntando as coisas. Em algum momento eu pensei em levar os dois, os trabalhos de ilustração. Demorei muitos anos na minha carreira para chegar aos clientes que cheguei, clientes grandes, para de repente abandonar tudo. Então, não queria fazer esse desapego. Ao mesmo tempo cresceu muito rápido [na internet], começaram a vir muitas propostas”, disse.