Quando Alex Smith se alistou no Exército, ele não contou aos colegas que havia sido dançarino - até ser escolhido para participar de uma produção que retrata nos palcos a vida de militares.
Alex começou a dançar aos seis anos, mas trocou de carreira em busca de mais estabilidade — Foto: Rosie Kay Dance Company
O soldado britânico Alex Smith, de 22 anos, está vestido com seu uniforme e pronto para o trabalho. Mas hoje, excepcionalmente, ele não está em um quartel, mas em um teatro.
Ele participa de uma produção de dança contemporânea chamada 5 Soldiers (5 Soldados, em inglês), criada pela coreógrafa Rosie Kay sobre aspectos da vida militar - o treinamento rigoroso, as amizades e o estresse de entrar em conflitos.
Alex consegue aliar dois elementos importantes: a própria experiência sobre como é a vida no Exército britânico e a formação como dançarino em balé, sapateado, jazz, dança moderna e contemporânea.
Ele começou a dançar aos seis anos de idade. "Levava minha irmã toda semana para aulas de dança. Depois de um tempo sentado lá, você fica entediado e pensa em fazer alguma coisa. Assisti a uma das aulas e pensei: 'Poderia fazer isso, parece tão fácil'", diz ele.
Criado na cidade de Cwmbran, no sul do País de Gales, onde o rúgbi era o esporte mais popular, Alex frequentemente era o único menino na aula de dança.
"Dançarinos do sexo masculino querem pular mais alto e girar mais rápido e ser melhor do que os outros no palco. Mas quase não havia meninos que quisessem dançar. Então, meu objetivo era ser mais flexível do que as meninas na aula."
Busca por estabilidade profissional
Depois de um curso em uma escola de artes performáticas na Inglaterra, Alex foi premiado com uma vaga na prestigiada Northern Ballet School, em Manchester, em 2015. Mas, ainda no meio do curso, decidiu sair. "Não conseguir um emprego no final era provavelmente um dos meus maiores medos."
A vida de um bailarino pode ser instável, passando de um contrato para outro, muitas vezes com períodos desempregado. Certa noite, Alex voltava para casa da escola de dança quando lhe ocorreu uma forma de conseguir uma maior segurança profissional.
"Passei por um centro de carreira do Exército, olhei pela janela durante dois ou três minutos e percebi que talvez aquele fosse o próximo passo para mim, a próxima janela pela qual eu passaria para melhorar como pessoa", afirma ele.
Ele diz que, apesar das aparências, dançarinos e soldados têm muito em comum. Ter autodisciplina e determinação são importantes em ambos os casos para se ter sucesso. "Dançarinos são muito determinados, motivados, e querem ter uma performance perfeita no palco. E soldados são dedicados, determinados a serem os melhores militares possíveis", diz.
As duas profissões também exigem altos níveis de aptidão física. Por isso, Alex estava bem preparado para os testes físicos pelos quais ele e outros candidatos à carreira militar tiveram de passar. "A dança me ajudou na seleção e no treinamento básico. Conseguia suportar muito peso, porque estava acostumado a erguer bailarinas."
A princípio, ele contou apenas à namorada, uma dançarina, que estava se candidatando ao Exército. Só depois de ser aceito que ele disse à mãe que estava saindo da escola de dança e voltando para casa.
"Ela não gostou e me falou que estaria jogando fora todo o trabalho duro e o esforço dos últimos 18 anos da minha vida. Mas não acredito nisso, porque acho que a dança me tornou a pessoa que eu sou hoje e fez de mim alguém melhor."
'No Exército, ninguém se importa com o que você faz no seu tempo livre'
Quando Alex se juntou ao Exército, decidiu não comentar com os outros soldados sobre seu treinamento de dança. Ele queria evitar que tivessem ideias preconcebidas.
Ele também não mencionou sua audição para o papel em 5 Soldiers. Todos os outros dançarinos eram profissionais, então, ele não esperava conseguir o papel - e ficou chocado quando recebeu uma ligação do coreógrafo em seu caminho de volta à base, dizendo que ele havia sido escolhido. Na manhã seguinte, contou aos colegas, revelando seu talento oculto pela primeira vez.
"Para ser honesto, nada realmente mudou, porque já tinha conquistado o respeito de todos, eu estava em forma e era bom soldado, mantinha minha cabeça abaixada e fazia o que tinha de fazer. Então, quando disse: 'Ah, a propósito, vou dançar', a maioria deles ficou com inveja."
Não houve provocações, segundo Alex. "Acho que o Exército mudou. Ninguém vai pegar no seu pé, porque estão todos no mesmo barco e, obviamente, cada um tem teve suas próprias razões para se alistar. Alguns fazem isso para deixar sua vida passada para trás ou para se tornarem pessoas melhores, como foi o meu caso", diz Alex.
"Não importa o que você faz no seu tempo livre ou o que você fez antes de se alistar, contanto que tenha cumprido suas tarefas no fim do dia."
Na escola, a situação foi diferente. Sempre havia um "idiota que acha que é engraçado". "Os professores também não ajudaram muito, apenas pensaram: 'Ah, são brincadeiras'."
Soldado teve apoio do Exército
Nos ensaios de 5 Soldiers, Alex diz que voltou a exercitar músculos que não usava há algum tempo. "Enquanto estou aqui, corro, faço aquecimento pela manhã, com flexões, abdominais, esse tipo de coisa. Acho que vou voltar para o Exército um soldado mais apto."
Ele diz que está gostando de ser um dançarino novamente, mas que a noite mais nervosa de sua vida será quando seus colegas estiverem na plateia. "Eles são soldados, e quero que sintam que isso aqui é tão real quanto a vida na base. Não quero que eles pensem que estão assistindo a um balé. Porque não é um balé, é uma peça de dança que reencena a vida de um soldado."
Ele diz que a peça também vai contra alguns estereótipos. "Não são apenas meninos pulando enquanto usam tutus (roupas de bailarinos), sapatilhas de ponta e maquiagem, são homens sendo homens no palco."
O Exército tem sido muito favorável, diz Alex, dando-lhe tempo para participar dos ensaios e das apresentações. Ele retornará ao seu regimento em julho após a turnê terminar.
"Quero voltar e ver até onde posso chegar na minha carreira militar, porque sou ambicioso. Trabalho muito pelo que quero. Faço meu melhor para conseguir, e acho que o Exército incutiu isso em mim", diz ele.
Alex ainda não tem certeza, no entanto, do que dança pode trazer no futuro para ele, mas ele quer descobrir se há outros soldados dançarinos por aí.
"No momento, estou apenas vivendo este sonho. Sou muito grato a todos os treinamentos que fiz e a todos os meus professores por terem me feito chegar até aqui."