O 'Cordyceps' tem capacidade de transformar e controlar o corpo do hospedeiro
A série distópica inspirada no jogo de videogame “The Last of Us” vem conquistando o público com sua história baseada em um mundo pós-apocalíptico, onde Joel e Ellie lutam pela sobrevivência em meio ao caos propagado por um tipo específico de seres do reino Fungi, que passam a infectar os humanos.
O contexto da história se dá em torno da proliferação em escala mundial do fungo Cordyceps, contaminando a população em massa, tendo a espécie humana como hospedeiro.
No entanto, o fungo retratado na série é muito mais real do que se imagina. Ele foi inspiração para o desenvolvimento do jogo “The Last of Us” e é encontrado no Brasil.
O fungo é do gênero Cordyceps sendo, na realidade, um endoparasita de artrópodes, que não chega a contaminar mamíferos, muito menos pessoas. Seus principais hospedeiros são formigas, mariposas e larvas de florestas tropicais, comuns no Brasil.
Dentre esse tipo de fungo existem cerca de 400 espécies, que possuem ancestralidades compartilhadas, sendo do grupo polifilético.
Ainda que os humanos não sejam ameaçados pelos fungos, plantas e insetos já são alvos de diferentes espécies parasitas do reino Fungi há muito tempo.
Uma das relações mais assustadoras do parasita acontece entre a espécie Ophiocordyceps unilateralis sensu lato e as formigas, caracterizada como contágio com “fungo-zumbi", a espécie específica que inspirou a história de “The Last of Us”.
O inseto ao ser contaminado através do contato com os esporos do parasita passa a ser consumido conforme o desenvolvimento do fungo no interior da formiga.
O mais impressionante é o fato de o cérebro permanecer funcional enquanto o fungo controla aos poucos as estruturas musculares do hospedeiro, que continua com suas atividades instintivas.
O fungo vai se proliferando no corpo estranho até atingir totalmente o sistema nervoso central, o que normalmente demora duas semanas após infeção.
Sendo assim, durante esse período, a formiga age como um zumbi, ainda viva, com toda a noção espacial, mas perdendo o domínio dos seus movimentos.
Com a mobilidade comprometida em constante agravamento, a formiga passa a ter tremores e cair com frequência, passando a ter convulsões e outros problemas neurológicos.
Em seguida, o inseto acaba morrendo, e, após dias, o fungo inicia um novo ciclo de proliferação e contágio através dos esporos soltos no ambiente.
Vale ressaltar que nem todos os fungos são ameaçadores para as espécies, possuindo um papel muito importante no meio ambiente, chegando a fornecer benefícios para a natureza.
A Ophiocordyceps sinensis, outra espécie do gênero Cordyceps, possui especificidades populares em tratamentos na medicina tradicional chinesa. E o aclamado fungo-zumbi, pode ser utilizado em suplementos médicos e é encontrado em estudos sobre o câncer de olho, com a particularidade de retardar o avanço do tumor.
Muitas outras espécies, de distintos gêneros de fungos, fazem parte da natureza que nos cerca e até mesmo do nosso corpo, agindo de forma inofensiva.
Com o calor, as infecções fúngicas podem evoluir mais rápido do que os estudos e tratamentos para o combate, o que já vem acontecendo com povos imunocomprometidos, se tornando um perigo ao longo prazo para toda espécie humana.
“Os fungos matam mais seres humanos do que a malária”, comenta o entomologista David Hughes na sua pesquisa sobre fungos junto aos desenvolvedores da ficção no jornal "The Washington".
“Eles (os fungos) são completamente esquecidos. E é interessante fazer as pessoas pensarem mais sobre isso” completa Hughes.
Para o entomologista, a ameaça se torna real devido às mudanças na alimentação, em decorrência das transformações climáticas.
Com as plantações em risco, os fungos entraram em cena nas problemáticas de solos alterados, tendo o poder de gerar transmutações nos alimentos de plantio, já que são seres que obtêm energia a partir de segundos, seja por hospedeiros ou decompondo matéria orgânica.
Embora todas as evidências sobre as adaptações dos fungos serem reais, o alastramento e o poder de contaminação da espécie não aconteceriam de forma tão brutal e violenta como visto em “The Last of Us”.