Generais palacianos conversam com Moro e tentam convencê-lo a voltar atrás em sua decisão. No entanto, o ministro já teria escrito sua carta de demissão
Após sucessivos embates com o presidente Jair Bolsonaro, o ex-juiz da Lava-Jato Sergio Moro decidiu pedir demissão do Ministério da Justiça e Segurança Pública. O estopim foi a exoneração do delegado Maurício Valeixo do cargo de diretor-geral da Polícia Federal (PF). O anúncio será feito às 11h.
Generais palacianos conversam com Moro e tentam convencê-lo a voltar atrás em sua decisão. No entanto, o ministro já teria escrito sua carta de demissão.
Na quinta-feira, Bolsonaro avisou a Moro que pretendia trocar o comando da PF. O ex-ministro, então, fez um ultimato e disse que deixaria o cargo se isso acontecesse.
Durante todo o dia, ministros “bombeiros” da ala militar tentaram convencer Bolsonaro a adiar a demissão de Valeixo para encontrar um nome de consenso entre Moro e o presidente. Parlamentares bolsonaristas foram às redes dizer que era mentira que Bolsonaro trocaria o comando da PF e garantir Moro ficaria no governo.
Assessores de Moro afirmaram que ele teria ficado no cargo caso conseguisse indicar o sucessor de Valeixo. A publicação no DOU da exoneração do seu braço-direto, na madrugada, implodiu essa possibilidade.
Moro afirmou a diversos interlocutores que estava preocupado que a mudança na cúpula da PF tivesse como objetivo enfraquecer a autonomia da corporação e que isso pudesse comprometer a condução das investigações.
Moro chegou ao governo em janeiro de 2019 com status de "superministro" após abrir mão de 22 anos de magistratura. Como juiz da Lava-Jato, foi alçado a herói nacional com a bandeira de combate à corrupção.
Desde que assumiu a pasta, no entanto, Moro acumulou uma série de derrotas e esteve em rota de colisão com o presidente em diversas situações.
As diferenças com Bolsonaro se acentuaram ainda mais em meio à pandemia do novo coronavírus. Com um discurso favorável ao isolamento social, Moro estava mais próximo do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que foi demitido na semana passada.
Nas últimas semanas, Moro chegou a se recolher e evitou fazer críticas na maneira como Bolsonaro se comportava em meio à pandemia. A estratégia fez com que o então ministro passasse a ser cobrado por parte da opinião pública por ter desaparecido em meio à crise.
(Conteúdo publicado originalmente no Valor PRO)