Sara se surpreendeu quando viu a mensagem
O transtorno do espectro do autismo (TEA) afeta o desenvolvimento da área do cérebro responsável por se relacionar com pessoas, ambientes, animais e compreender signos sociais. O espectro autista reúne desordens neurológicas presentes desde o nascimento, e todas as pessoas desse conjunto podem apresentar algum tipo de déficit na comunicação social ou na forma de interagir com a comunidade.
Além dessas dificuldades, muitos apresentam também alguns padrões repetitivos e restritos de comportamento, como fixação em objetos, movimentos repetitivos e contínuos, além de hipersensibilidade (ou hipossensibilidade) a estímulos sensoriais. As pessoas com autismo precisam de acompanhamento regular multidisciplinar, e não existem remédios específicos que curem tal desordem. Dentre os principais tratamentos, precisam receber apoio de pediatra, psiquiatra, neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo, mas dependendo do espectro onde a pessoa está, outros profissionais também podem ser importantes.
O tabu em relação ao autismo faz com que muitas famílias sintam na pele o bullying que seus filhos sofrem, como é o caso de Sara Onori. Em 2019, ela e o filho passaram por uma situação de extremo preconceito, e o pior é que não partiu de uma pessoa desconhecida, e sim de uma amiga. Conforme expôs nas suas redes sociais, ela fazia parte de um grupo do WhatsApp de amigas, quando uma delas, chamada Viviane, começou a falar sobre a festa de aniversário que daria ao filho Ruan.
Pouco tempo depois, Sara recebeu uma mensagem de Viviane no privado, e a amiga informou que a tinha visto no grupo, mas que não a convidaria para a festa de Ruan por conta de Arthur. De acordo com a suposta amiga, o menino era “meio problemático” e poderia deixar “as outras crianças incomodadas”. No fim da mensagem, ela pediu a compreensão da mãe de Arthur, bem como suas desculpas.
A situação acabou caindo nas redes sociais quando Erika Onori, irmã de Sara, compartilhou a mensagem de Viviane no Facebook. Para a mulher, o comentário era apenas fruto do preconceito, além de faltar sensibilidade e bom senso, mas desejou que o filho Ruan tivesse mais empatia, menos maldade e “mais educação” que a mãe.
Pouco tempo depois, a própria Sara compartilhou uma captura de tela da mensagem que tinha recebido, agradecendo a Viviane por não ter convidado seu filho, já que os princípios que passava ao filho, à época com 2 anos, incluíam conviver com pessoas de “boa índole”. A mensagem da suposta amiga, acusando o filho de ser “problemático”, veio apenas três meses depois que a família recebeu o diagnóstico de Arthur.
Logo depois das publicações se tornarem virais, Sara e Arthur ganharam uma festa inesperada, isso porque o caso também estampou os principais jornais do país. Cerca de 200 convites foram vendidos para ajudar a pagar o evento, em que mais de 30 voluntários participaram da produção, chegando até mesmo a sair no programa “Fantástico”, na Rede Globo.
Alguns dias depois, Sara compartilhou um emocionante texto falando um pouco sobre o ocorrido, como uma carta destinada à “amiga” Viviane. Sentindo-se “sem chão”, ela demorou um tempo para responder à mulher, e quando sentiu que era o momento, percebeu que estava bloqueada em todas as redes dela.
Sara explicou que o filho não é “problemático”, e sim autista, mas que não pode cobrar um entendimento de Viviane acerca do assunto. Mesmo assim, espera que o menino cresça pensando diferente, já que tem visto uma importante mudança na legislação sobre o tema, que tenta cada vez mais punir os agentes de atos de discriminação.
Com mais de 11 mil curtidas e 1,6 mil compartilhamentos, Sara ainda marcou sua irmã e o pai de Arthur na postagem. Muitos usuários usaram o espaço para apoiar a mãe, dizendo que ela teve educação para responder à “amiga”, indo no sentido oposto da forma como ela se comportou anteriormente com a mensagem.