A ação da PF desarticula uma suposta organização criminosa envolvida em investigações anteriores montada para a prática de atos de corrupção
Ex-governador do Tocantins, Marcelo Miranda, foi preso pela PF no apartamento funcional de sua esposa, em Brasília (Foto: Reprodução)
O ex-governador de Tocantins, Marcelo Miranda, foi preso na operação 12º Trabalho da Polícia Federal (PF) no apartamento funcional da Câmara dos Deputados, em Brasília, usado por sua esposa, a deputada federal Dulce Miranda (MDB-TO).
A ação da PF desarticula uma suposta organização criminosa – envolvida em investigações anteriores – montada a fim de praticar corrupção, peculato, fraudes em licitações, desvios de dinheiro público, recebimento de vantagens indevidas, falsificação de documentos e lavagem de dinheiro. A ação desta quinta-feira (26) é resultado de um trabalho conjunto com o Ministério Público e Receita federais, que estimam prejuízo de R$ 300 milhões ao erário.
A reportagem fez contato com o escritório do advogado paulista Thiago Fernandes Boverio, advogado de Marcelo Miranda em outras ocasiões, mas a secretária informou que o advogado não estava presente e não soube informar se ele ainda trabalha para o ex-governador. Em contato com o gabinete da esposa de Miranda, a deputada federal Dulce Miranda, uma secretária afirmou ser novata, estar sozinha no gabinete e não ter contato de nenhum assessor da parlamentar nem do escritório político em Tocantins.
Aproximadamente 70 policiais cumprem 11 mandados de busca e apreensão e três mandados de prisão preventiva, expedidos pela 4ª Vara Federal de Palmas (TO), nas cidades tocantinenses de Palmas, Tocantínia, Tupirama e Araguaína, além de Goiânia (GO), Santana do Araguaia (PA), Sapucaia (PA) e São Felix do Xingu (PA).
A investigação da PF identificou um núcleo familiar, composto por três pessoas influentes no ambiente político de Tocantins, no centro das decisões da organização criminosa. A família, segundo as apurações, indicava pessoas para cargos comissionados estratégicos no governo tocantinense com o intuito de perpetuar o esquema instalado na máquina pública.
Esse clã familiar de Tocantins já foi alvo de diversas operações da PF: “Reis do Gado” (STJ, 2016), “Marcapasso” (4ª Vara Federal/TO, 2017), “Pontes de Papel” (STJ, 2017), “Convergência” (STJ, 2017) e “Lava-Jato” (STF, com delação firmada em 2017).
A PF entende que eles tinham braços em todo o Tocantins e maneiras suficientes de aparelhar o Estado utilizando-se de “laranjas” para dissimular a origem ilícita de bens móveis e imóveis, frutos de propinas em troca de favores a empresários dos diversos ramos de atividade que mantinham contratos com o poder público.
Mesmo depois de as investigações tornarem-se públicas, o grupo prosseguiu com as operações simuladas no comércio de gado de corte e empresas de fachada, construção e venda de imóveis, para ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, movimentação ou propriedade de bens, direitos e valores provenientes, direta ou indiretamente, das infrações penais, segundo a investigação da Polícia Federal.
No curso da investigação, a PF identificou os ilícitos praticados pela organização agrupados em sete grandes eixos econômicos. O grupo administrava fazendas e atividades agropecuárias, compra de aeronaves, gestão de empresas de engenharia e construção civil, entre outros.
Ainda na operação “Reis do Gado”, de 2016, a PF apontou a atuação sistêmica e orgânica dos acusados, com divisão de tarefas, cujos atos são detidamente planejados para assegurar o produto dos crimes. Os investigados também agem no curso do processo, por meio da manipulação de provas, seja pela falsificação de documentos ou comprando depoimentos, com o claro objetivo de tumultuar e dificultar as investigações em andamento, de acordo com a investigação da PF.
Via Mais Goiás