Sem controlar a entrada e a saída do funcionário, eles querem mais a produtividade
Com salários compatíveis com o mercado, o CEO da empresa conta que nenhum funcionário teve redução de benefícios. Foto: Reprodução O Segredo
O trabalho com carteira assinada é um dos maiores desejos de todos que anseiam estabilidade, garantia de benefícios, além do pagamento de férias e 13º salário. Sob a proteção da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), muitos funcionários permanecem por anos em uma mesma empresa justamente porque são respeitados.
Com o boom das redes sociais e a popularização da internet, muitas empresas, principalmente as que envolvem criação e produção de conteúdo, perceberam que um ótimo esquema de trabalho seria o home office. Mesmo assim, foi apenas com a pandemia da covid-19 que muitas resolveram apostar no trabalho de casa.
Com poucas determinações sobre o assunto e empregadores que apenas querem retirar os benefícios de seus funcionários, muitos acabaram perdendo dinheiro nessa transição, mesmo que o patrão economizasse com o espaço físico, por exemplo. Indo na contramão da ausência de proteção trabalhista, o estúdio criativo Shoot, uma agência de comunicação do Rio Grande do Sul, resolveu apostar não só no trabalho em home office, como também reduziu um dia da jornada de todos os funcionários.
Se antes todos trabalhavam cinco dias por semana, com a nova configuração, passam a trabalhar apenas quatro, em meio-período, sem perder nenhum benefício e ainda podendo escolher se folgam às segundas ou às sextas. Segundo reportagem do UOL, a empresa implantou esse sistema oficialmente em janeiro deste ano, a carga horária passou de oito para seis horas, o horário de entrada e saída dos funcionários não é mais controlado, e tudo isso sem nenhum centavo de desconto no holerite.
Segundo o CEO da empresa, Artur Scartazzini, todos ficaram muito felizes com um dia a mais de folga na semana e a nova carga horária, e os salários ainda estão dentro do praticado no mercado para a área da comunicação, entre R$ 2 mil e R$ 7 mil. De acordo com ele, a medida se tornou viável quando todos conseguiram mensurar quantas horas precisavam ser realmente trabalhadas para chegar ao produto final.
Além da produtividade não ter sido afetada, todos os membros da Shoot acreditam que a carga horária que aparece na carteira de trabalho não é o que realmente importa para o resultado final. A agência passou a querer que o trabalho fosse apenas uma parte da vida pessoal dos funcionários, e não o contrário. Na pesquisa para aferir a satisfação de cada um, a alegria de conquistar mais um dia de folga na semana era visível, diz o CEO.
Mas a novidade não foi implementada de uma hora para outra, no ano passado, a equipe testou um projeto-piloto, em que todos tinham folga na última sexta-feira do mês. O CEO explica que o resultado foi excelente, mas precisava ser aperfeiçoado, principalmente colocando a agência para funcionar a semana toda: para isso, dividiram a equipe em duas.
Para aqueles que acreditam que a medida é bagunça, na verdade, a empresa se estruturou muito bem nos últimos meses. De segunda a quinta, os funcionários que estão ligados ao relacionamento com clientes e gestão de projetos trabalham, e de terça a sexta, os que assumem cargos ligados à criação.
A Shoot adotou a modalidade home office já em 2018, dois anos antes de a pandemia do novo coronavírus ser declarada no Brasil e no mundo, por isso eles não possuem mais uma sede física, e existem funcionários espalhados mundo afora, inclusive o CEO, que mora na Espanha, e o fundador da empresa, Luciano Braga, no Rio Grande do Sul.