Capital enfrentava recorde de mortes diárias quando medida foi adotada, em abril do ano passado. Famílias e Justiça ainda serão acionadas, segundo prefeito
Os corpos de vítimas da Covid-19 que foram enterrados empilhados em valas comuns em Manaus, em abril do ano passado, serão exumados para enterro em covas individuais. A medida foi anunciada pelo prefeito David Almeida nesta terça-feira (0211), Dia de Finados.
Naquela época, a cidade enfrentava a primeira onda da Covid, e o sistema funerário entrou em colapso, assim como o de saúde.
Por conta do recorde de mortes diárias, o cemitério do Tarumã, maior cemitério público da cidade, passou a enterrar caixões em valas comuns. Em meio ao caos, 18 caixões foram enterrados empilhados, mas a medida foi cancelada após revolta das famílias.
A princípio, a prefeitura identificou 15 corpos empilhados. Segundo David, as famílias ainda serão procuradas e a Justiça também será acionada.
"Manaus está numa situação mais tranquila, em relação a tudo que se passou no ano passado e no início deste ano. Mas ainda tinha essa marca, dessas famílias que tiveram que ver o sepultamento de seus entes queridos em uma vala comum", disse.
O prefeito informou que há um espaço no cemitérios para o enterro nas covas individuais, mas não repassou datas ou prazos para a exumação.
Atualmente, a capital amazonense encontra-se na fase amarela da pandemia, que representa baixo risco de transmissão da Covid. Até esta segunda-feira (1º), mais de 13,7 mil vidas foram perdidas para a Covid no Amazonas.
Após os enterros em valas comuns na primeira onda, Manaus voltou a sofrer com uma nova onda de casos e mortes por Covid em janeiro deste ano. A cidade superou os tristes recordes do ano passado, e viveu cenas de caos por falta de oxigênio.
Com o avanço da vacinação contra Covid, os números começaram a cair e a capital já flexibilizou diversas medidas contra a doença. A Secretaria de Saúde alerta que mais de 80% dos internados com Covid atualmente não tomaram nenhuma dose da vacina.
Os cemitérios da capital registraram intensa movimentação durante o feriado de Dia dos Finados, desta terça-feira (2). Cerca de 500 mil pessoas são esperadas nos pontos durante a data.
No ano passado, os espaços permaneceram fechados no Dia de Finados por conta do cenário ruim da pandemia. Neste ano, na capital, os cemitérios públicos vão abrir de 7h às 18h.
Quem visitou os cemitérios nesta terça-feira prestou homenagens com flores, velas e orações. A professora Gildete Gama, que foi ao cemitério São João Batista prestar homenagens à mãe, que morreu de Covid em fevereiro deste ano, considera a data um momento simbólico.
“A gente aproveita esse dia para estar num lugar que a gente sabe que só tá a matéria, mas que é muito simbólico e a gente presta nossa reverência aos entes que a gente ama. Nesta data, especial mesmo é a memória que a gente guardou na relação com nossos entes queridos. A saudade sempre fica, mas a gente vai aprendendo a lidar com isso. Por conta da pandemia, são mais de 11 mil pessoas que choram e que não puderam, como nós, fazer um funeral e não pudemos realmente ajudar, estar lá do lado, comprar medicamento, dar um copo de água. Isso dói”, disse.
A aposentada Teresa dos Santos, tem a data como uma tradição. Todos os anos ela vai ao cemitério visitar os entes queridos durante o feriado de Dia dos Finados.
"Essas são as nossas raízes. Visito familiares como meu pai, minha filha e eu acho que é nossa obrigação vir aqui e zelar por este cantinho e aqui fica também guardada a nossa vez e saber que a vida é essa. Para mim esse aqui é um lugar de descanso", afirma a aposentada.