Ela foi indiciada pelo crime de abandono de incapaz com resultado morte. Em caso de condenação, o crime prevê de quatro a 12 anos de prisão
Sari Mariana Gaspar Corte Real afirmou que fez tudo o que podia, ao ser questionada se sente culpa ou arrependimento pela morte do menino Miguel Otávio Santana da Silva, 5, que caiu do 9º andar de um prédio em Recife. Sari, que é ex-patroa da mãe do menino, foi indiciada pelo crime de abandono de incapaz com resultado morte. Em caso de condenação, o crime prevê de quatro a 12 anos de prisão.
“Eu sinto que eu fiz tudo que eu podia e, se eu pudesse voltar no tempo, eu voltava. Se eu soubesse que tudo isso ia acontecer, eu voltava e ainda tentava fazer mais do que eu fiz naquela hora”, afirmou, em entrevista ao Fantástico.
Na sequência, ela foi questionada sobre o que faria de diferente. “Esperava mais. Não sei, não sei dizer. Eu só sei que eu fiz, naquela hora, tudo o que eu podia. E, em nenhum momento, eu fiz nada prevendo o que aconteceu”, disse.
Miguel caiu do 9º andar de um prédio de luxo no bairro São José, área central do Recife, no dia 2 de junho. Ele estava sob os cuidados de Sari quando entrou em um elevador do prédio sozinho, enquanto a mãe dele, a empregada doméstica Mirtes Renata Santana de Souza, levava o cachorro da família dos patrões para passear. O menino acompanhava a mãe no trabalho, pois a creche em que ele ficava está com as atividades suspensas devido à pandemia do novo coronavírus.
Imagens das câmeras de segurança mostram que Sari convenceu Miguel a sair dos elevadores por quatro vezes. Na quinta tentativa, o menino entrou no elevador de serviço e a patroa da mãe parece tocar no botão da cobertura. Na sequência, Miguel aperta vários botões e fica sozinho no elevador. Sari negou que tenha apertado um botão.
“Ele corre para o elevador, chama o elevador. Em um instante, ele chega. Aí, quando abre a porta, eu digo: ‘Miguel, você não vai descer. Volta para casa, espera sua mãe'”, declarou.
“Não [apertou botão do elevador]. Eu só botei a mão, fazendo como se eu fosse acionar, para ver se eu conseguia convencer ele a sair. Se dessa forma, se ele achasse que ele ia ficar lá, ele fosse sair.”
Ela foi questionada sobre o motivo de não ter tirado Miguel do elevador. “Porque o maior contato que eu tive com Miguel foram nesses dois meses na pandemia e, todas as vezes que precisou ser chamada a atenção dele, todas as vezes, eu solicitava que ou a mãe ou a avó fizessem isso. Eu nunca me dirigi diretamente a ele para repreender ele em nada. Sempre a mãe ou a avó. Eu não me senti segura para isso”, disse.
Sari também afirmou que não achou que Miguel correria riscos. “Isso não me passou pela cabeça. Eu não achei que seria essa tragédia. Eu acreditei que ele voltaria para o andar, que ele voltaria para o quinto andar, até porque ele sabia o número. Eu acreditei que ele voltaria para o andar”, contou.
A mulher ainda falou sobre o que fez depois que Miguel caiu do prédio. “No primeiro momento, o que eu imaginei foi em socorrer, o que a gente podia fazer por ele… Eu dirigi, só Deus sabe como eu dirigi. Nunca cheguei tão rápido na minha vida num hospital. Eu fiquei com ela [Mirtes] lá até por volta de 16h30, 16h45, que foi quando eu tive que vir para casa. Minha amiga precisava voltar para casa, eu precisava ficar com [a filha] Sofia.”
Ao final, Sari declarou que não esperava a mudança na tipificação de crime ao ser indiciada por abandono de incapaz com resultado de morte. Ela também disse que não tem medo de ser presa.
“Não [esperava], não dessa maneira. Até hoje eu estou aqui firme, porque muita gente depende de mim. E, se lá na frente, o resultado for esse [prisão], eu vou cumprir o que a lei pedir. Eu acho que está na mão da Justiça, não cabe a mim, não cabe à mãe de Miguel julgar, não cabe à sociedade. Cabe à Justiça. Eu vou aguardar o que a Justiça decidir”, afirmou Sari, que por fim declarou que pediu perdão a Mirtes.